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O outro lado da “sensação” do Moçambola

O outro lado da “sensação” do Moçambola

O Clube de Chibuto, equipa que ascendeu na presente temporada ao Moçambola, ocupa, ao fim da décima jornada, a segunda posição na tabela classificativa com 18 pontos. Em dez jogos já disputados, venceu cinco, empatou três e perdeu os remanescentes dois. Marcou dez golos e sofreu quatro detendo até ao momento, para além da melhor defesa do campeonato, um jogador que compõe a lista dos melhores marcadores.

Nesta sua espantosa proeza inicial pelo simples facto de ser um clube pequeno, sem experiência na alta competição cujo plantel é constituído por anónimos, já fez sofrer o Desportivo de Maputo (2 – 0), o HCB de Songo (1 – 0) e a Liga Muçulmana (0 – 0) três equipas extremamente difíceis, principalmente as duas últimas que jogaram em casa.

O @Verdade decidiu desvendar o mistério à volta do clube e visitou o seu balneário como forma de trazer aos seus leitores o que nele acontece para que o Clube de Chibuto seja a sensação deste Moçambola. E para melhor entender, elegemos um dia do jogo contra uma das melhores equipas do país.

A noite antes do jogo

Os jogadores e a equipa técnica chegam ao centro de estágio algures na Matola para passarem a noite, a última antes do jogo. O ambiente é de visível cansaço depois de percorridos cerca de 175 quilómetros de estrada.

A preocupação de todos é repousar e o treinador surge como supervisor da equipa conferindo a presença de todos nos aposentos da modesta pousada. Porque não se incomoda o leão, preferimos deixar a equipa descansar e voltar no dia seguinte.

O raiar do sol

Chegámos mais cedo e para a nossa sorte, toda a equipa ainda estava a dormir. Sérgio Xirrime, técnico-adjunto da equipa, o Homem-bengala como é carinhosamente tratado, é o primeiro a abandonar as faustosas camas do centro. A sua maior preocupação é encontrar os raios solares da matina e vai ele à caça.

Abdul Omar, técnico principal, Abdul Azize, vice-presidente do Clube, que curiosamente acompanha a equipa em todos locais, e mais alguns membros da equipa técnica, são os que se seguem depois de Xirrime.

Juntam-se ao primeiro debaixo de uma pequena árvore e aconchegam- se sobre assentos adaptados de blocos de construção existentes no local e captam os sadios raios solares enquanto conversam em torno do futebol.

Os jogadores, as personagens principais, não se separam das camas. Acordam e, divididos em grupos de três, mantêm-se nos quartos. Cuidar da higiene pessoal é a primeira actividade do dia e logo de seguida, sem abandonarem as camas, conversam sobre tudo e jogam os seus inseparáveis baralhos de cartas num ambiente de total descontracção.

Por volta das 8h é servido o pequeno-almoço mas muitos dispensam- no preferindo ver televisão e outros o jogo das cartas.

Por volta das nove horas os atletas começam a sair dos quartos e juntam-se aos dirigentes que continuam sentados ao relento conversando e a falar seriamente sobre o clube, as suas forças, os seus obstáculos, as suas fraquezas e as possíveis ameaças.

Algo curioso é a maneira de ser e estar da equipa toda que são as gargalhadas soltas durante os longos instantes de conversa.

Hora do Almoço

Chegada a hora, sem precisarem do apito, os jogadores dirigem-se à sala de refeições do centro e por lá aguardam a decisiva hora do almoço. O relógio marca 11h30. Meio frango, arroz de cebola, batata frita e salada de tomate é o prato que nutre cada um dos integrantes da comitiva da equipa.

Um responsável técnico da equipa é quem determina as quantidades da comida junto da administração do centro de hospedagem. Os refrigerantes são em quantidades de 350ml para cada um.

Depois do almoço e ainda relaxados, alguns retomam aos quartos e outros espalham-se pelo local no cumprimento biológico da digestão. Os únicos integrantes da equipa que a partir de já se vêem preocupados são os técnicos Abdul Omar e o seu adjunto que, juntos, numa folha A4 começam a traçar os planos para o jogo que inicia às 15 horas.

Reunião técnica

Por volta das 13 horas, o técnico-adjunto do clube, Sérgio Xirrime, solicita a presença dos jogadores no habitual encontro técnico cujo orador principal é o Mister Abdul Omar.

Todavia, nesta reunião não é possível participar pelo facto de nela serem discutidos, segundo o treinador da equipa, assuntos sensíveis do clube e por constituir um momento que exige total concentração da equipa. Mantivemo-nos sentados à entrada da sala onde decorria o encontro.

Com duração de poucos mais de 20 minutos, o que conseguimos obter depois da reunião foi que nela se definiu o sistema e a táctica de jogo da equipa para o confronto, assim como foi traçada a disciplina colectiva e o onze inicial para enfrentar uma das melhores praticantes de futebol em Moçambique.

Os derradeiros momentos

Anunciada a hora da partida, os atletas fazem banho, arrumam o equipamento nas suas mochilas e organizam tudo de que precisam antes da partida. Alguns jogadores, antes de partirem, clamam pelo massagista da equipa.

A viagem até ao campo dura cerca de meia hora e o nervosismo parece ser algo de outro mundo excepto para dois atletas da equipa que se mantêm concentrados. Eles cantam, dançam e fazem festa ao som de cânticos populares e de batuques.

Os jogadores são os próprios artistas da orquestra que até confundem quem os vê passar pela estrada, o que pode levar a pensar-se que estão a regressar de um jogo cujo resultado foi uma vitória.

“É para disfarçar o nervosismo e manter o equilíbrio emocional” diz Lalá, o ponta de lança da equipa. Chegados ao campo, são recebidos com magnificência por centenas de adeptos integrantes de caravanas provenientes de Gaza fazendo com que a equipa não sinta a diferença entre jogar em e fora de casa. Aliás, tem sido assim até quando a equipa joga bem distante de casa, como aconteceu em Tete.

Ritual do Homem-bengala

Minutos antes do início da partida, enquanto a equipa faz a habitual roda de concentração, surge um homem – para muitos uma pessoa a não levar a sério – a fazer uma volta pelo meio campo da equipa do Chibuto. O passo é a ritmo acelerado realçado por centenas de adeptos do clube que soltam gritos como se de um espectáculo se tratasse.

E na verdade, é mesmo um espectáculo principalmente quando chega ao centro do campo para com a sua bengala fazer um gesto como se estivesse a trancar o meio campo. A encenação assusta a muitos. Mas para Xirrime, o autor, trata-se de um simples ritual antes dos jogos.

Clube de Chibuto

Foi fundando em 1958 e ascendeu pela primeira vez à divisão de honra que dá acesso ao Moçambola em 2004 quando se sagrou campeão provincial. Contudo, só foi na temporada passada que assumiu o primeiro posto da zona sul depois de vencer o campeonato provincial.

Quando chegou ao Moçambola receava não poder competir devido à falta de fundos e de patrocinadores. Um grupo de amigos do clube que acreditou no seu potencial reuniu-se e resolveu contribuir com um valor monetário a favor da equipa.

O governo provincial de Gaza também não se fez de rogado e deixou ficar o seu apoio reabilitando o campo e responsabilizando-se por algumas despesas. A direcção do clube também fez a sua parte e, graças à façanha vitoriosa neste início do Moçambola, conquistou também alguns patrocinadores.

Para os dirigentes do clube de Chibuto bem como para o seu treinador, a manutenção é o principal objectivo. Neste momento, a luta é chegar o mais cedo possível aos 28 pontos que lhe garantirão a manutenção apesar de a sua massa associativa não deixar de cogitar num eventual título.

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