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Hora d’ Verdade: O Inferno de Mhula no reino da hipocrisia

Aturdido pelo artigo do Jornal @Verdade com o título “Estou pendurado!”, o director do Festival da Marrabenta tomou uma fantástica medida. Aliás, a mais ditosa das confissões sobre o indisfarçável estado de ruína em que se encontra o mundo da música e a sua gente.

Desdobrou-se ele num desesperado feixe de medidas sob a pomposa designação de “Artistas e produção prestam ajuda a Alberto Mhula”. Medidas disparadas em todas as direcções: ou seja, um completo mostruário de tudo o que está por fazer há dois meses. Um acto que tardou dois meses e que criou lodo na Logaritmo porque a política do Festival da Marrabenta nunca teve como objectivo, por sinal, a resolução dos problemas dos artistas, mas servir complexas engenharias de arrecadação de dinheiro inspiradas em interesses opacos.

A explicação de Paulo David Sitoe, segundo a qual o artista não recebeu o que se prometeu por causa do acúmulo de actividades que a Logaritmo observa é de bradar aos céus. Mas, diga-se, foi pior a emenda do que o soneto: No mesmo dia compraram-lhe uma cadeira de rodas e alguns produtos básicos. E, sem o mínimo de vergonha, lá foi se registar para posteridade o tão caridoso gesto de amor ao próximo da Logaritmo. Um artista com 68 anos de carreira, certamente, merece mais respeito.

No país da hipocrisia, já se sabe, a falta de ética e a má gestão dos dinheiros públicos canalizados à indústria da música, embora o Presidente da República, Armando Guebuza, tenha dito que é preciso preservar a nossa cultura, vão transformando os próprios artistas em objectos de negócios obscuros. O nevoeiro que paira sobre a lei do mecenato e os patrocínios criminais corroeram os alicerces da música moçambicana e a força dos artistas.

Há muitos Mhulas por aí. O caso deste só teve outro desfecho porque um repórter lembrou-se dele. Há dias, ao entrar na casa de um vizinho, fui abordada por um idoso que aos berros me interpelou com indignação: “Então, jornalista, essa coisa da preservação da cultura quando é que anda para frente?”. A resposta, que na altura não dei, é esta: quando começarmos a ser mais íntegros e extirparmos do mundo das artes os logaritmos da vida.

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