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O festival das origens

O festival das origens

Quando em 2008 teve o seu pontapé de saída, poucas foram as pessoas que acreditaram no projecto. Hoje, o Festival da Marrabenta tornou-se um conceito vanguardista e caminha para a sua quarta edição consecutiva com o melhor da música ligeira moçambicana. A de 2011 começa já no dia…

Na abertura da primeira edição do Festival da Marrabenta em Matalana, o recém-falecido artista plástico moçambicano Malangatana disse: “Hoje é um dia sagrado para nós”, uma vez que se tratava de uma iniciativa inédita em Moçambique. E fez votos para que que mais acções do género fossem realizadas para valorizar a cultura nacional.

Presentemente, sem dúvida, tornou-se o maior festival de música popular moçambicana. Não por ser o mais abrangente (em termos de área geográfica), nem pelos espaços que o festival ganhou (salas de espectáculos e locais alternativos como praças e monumentos históricos) e tão-pouco pelas suas mais variadas componentes de actividades, mas por juntar artistas de diferentes gerações, e não só. Também por fazer parte do roteiro dos apreciadores deste género musical feito de corpo e alma.

O Festival da Marrabenta é um evento especial não por exaltar um dos elementos culturais da identidade moçambicana, mas por se tratar de um sonho que poucos acreditaram poder vir a tornar-se realidade.

O conceito do festival foi idealizado pela empresa de produção de eventos culturais, Logaritimo Produções, com o objectivo de homenagear os músicos que, ao longo do tempo e de diversas maneiras, têm contribuído para manter acesa a chama da marrabenta. E também contribuir para a preservação e promoção da cultura.

Considerada Património Cultural Nacional, a marrabenta não é apenas uma soma de combinações de sons e meticulosos passos de dança, mas a história de um povo. É dentro desta perspectiva que se decidiu criar um festival que “aglutinasse a parte significativa do seu percurso histórico musical”.

O festival celebra os grandes momentos da história da marrabenta, permitindo múltiplas incursões ao seu mundo secreto e a compreensão do percurso deste estilo musical que se tornou uma forma de estar dos moçambicanos.

Além disso, regista também os depoimentos dos principais intervenientes – músicos que não desistiram de fazer a verdadeira marrabenta – de modo que “os seus feitos não desapareçam e se continue a aproximar gerações vindouras”. Aliás, o evento resgata a música ligeira moçambicana e valoriza os fazedores assim como os apreciadores.

Quarta edição: a mais forte de sempre

O Festival da Marrabenta decorre anualmente nos meses de Janeiro e Fevereiro e este ano apresenta o mais variado leque de actividades. Esta edição é a mais forte de sempre pelo critério das escolhas que se mostrou bastante apurada.

Diversos músicos moçambicanos apresentar-se-ão em vários palcos do festival de forma grandiosa e profunda como nunca antes os ouvimos, dentre os quais a Orquestra Jambo, Costa Neto, Dilon Djindji, Xidiminguana, Hortêncio Langa, Chico António, Banda Manjakazianos, Tinito, Alberto Mutcheka, Albino Nguenha, Joana Coana, António Marcos, Banda Nanando, Victor Bernardo e Orlando da Conceição.

O festival não se resumirá à participação dos mais velhos e à marrabenta. Haverá abertura para os músicos jovens, tais como Iveth, Azagaia, Cheny, Mr Bow, Simba, Dj Ardilhes e Ilda Nfumo que também irão servir aos espectadores músicas a uma temperatura artisticamente quente.

Além de workshops, baile, estúdios abertos de ensaio e troca de experiências, concertos, Comboio Marrabenta e gravação do documentário “Marrabenta só calor”, a quarta edição pretende lidar com a componente de divulgação da Lei contra a Violência Doméstica.

As edições passadas

Nas três últimas edições, o Festival da Marrabenta passou pelas cidades de Maputo (Centro Cultural Franco-Moçambicano, Casa Velha e Estação Central dos CFM) e Matola (Centro Cultural do Município da Matola), distritos de Marracuene, Matalana, Chibuto e Chókwè.

A primeira edição do Festival da Marrabenta aconteceu em 2008 e teve como convidados músicos de alto quilate. Na sua maioria, artistas que simbolizam este género, nomeadamente Xidimiguana e o conjunto Vuthu Gaza, os Galtones, Alberto Mutcheca, Dilon Djinji, conjunto Estrela de Marracuene e Manjacaziano (Alberto Mula).

Durante três dias, os músicos revelaram o seu virtuosismo para um público sedento de uma viagem jamais experimentada para o “planeta marrabenta”. Os artistas mostraram-se descontraídos em cada momento do evento, apesar de alguns já contarem com uma idade avançada.

Nos três concertos, o público esteve sempre presente e deixou-se impressionar pela vitalidade e tom intimista com que os músicos se apresentavam nos palcos. Diga-se que a primeira edição do festival caiu nas graças da opinião pública assim como do Governo, tendo recebido rasgados elogios por se tratar de uma “realização que dignifica a música moçambicana e o país no seu todo”.

Já a segunda edição destacou-se pela diversidade dos bons guitarristas moçambicanos que se exprimem numa das mais convincentes fórmulas de tocar a marrabenta. Estamos a falar dos músicos considerados da velha guarda. São eles, Alberto Mhula, António Marcos, Dilon Djindji, Alberto Mutcheka, Galtones, Xidiminguana e o conjunto Vhutu Gaza, Gabriel Chiau e Orquestra Djambo.

Estes artistas e bandas jovens (Banda Maningue Nice e Rádio Marrabenta) foram o centro de atenção dos amantes da música ligeira moçambicana durante o festival. A ideia era promover um intercâmbio entre as duas gerações.

Além de concertos, houve workshops, palestras, debates, estúdios abertos e o comboio da marrabenta. Os espectáculos foram antecedidos de seis dias de estúdios abertos e três workshops com o objectivo de se fazer uma exibição artística de qualidade sem precedentes.

A bordo de um comboio com destino a Gwaza Muthini – local de celebração da festa guerreira – os músicos fizeram algumas apresentações e interagiram com os passageiros durante o percurso através da dança, música e conversa em torno da música moçambicana.

A ideia de fazer o “Comboio Marrabenta”, segundo os organizadores, vem da necessidade de se criar uma ponte entre os dois principais palcos do festival, que são a cidade de Maputo e a Vila de Marracuene. Assim, surge a ideia de integrar este “Comboio Marrabenta” em todas as edições deste festival.

Em 2010, realizou-se a terceira edição Festival da Marrabenta sob o lema “ Marrabenta Presente, Passado e Futuro”. O Centro Cultural Franco-Moçambicano foi novamente o palco da estreia deste evento cultural que reacende os ritmos e sons da música tradicional moçambicana.

Fizeram as delícias do público grandes nomes da marrabenta, tais como Dilon Djindji, Xidiminguana, António Marcos, Orquestra Jambo, Banda Real, Joana Coana, Cecília Ngwenya e Banda Marracuene, Helena Nhantumbo, Mário Ntimana, Narciso Macuácua, Alberto Mula, Tomás Urbano, João Bata, Ernesto Dzevo, Alberto Mutcheca, Vítor Bernardo, e o jovem Ta-Basily.

Além de música, o festival deu destaque a assuntos ligados à área de Saúde como a prevenção do HIV/SIDA, tendo-se realizado uma campanha de sensibilização para a testagem voluntária e adopção de comportamentos sem risco.

Galtons

O agrupamento musical “Galtons” é uma das bandas mais proeminentes do país e a sua história está intrinsecamente ligada ao percurso histórico da marrabenta. O grupo surge nos princípios dos anos ‘60, mas o actual vocalista, Américo Mavui, acredita que “Galtons” se tenham constituído muito antes de 1963.

Tem como o principal fundador um dos expoentes da música ligeira moçambicana, António Marcos. O autor do sucesso “Maengane” baptizou a banda de “Galtons” em homenagem à sua primeira viola acústica que lhe foi oferecida pelo seu tio em serviço nas minas da África de Sul quando dava os seus primeiros passos no mundo da música rumo à uma carreira de sucesso.

Foram também fundadores do agrupamento artistas como Aurélio Mondlane (falecido), Daniel Langa (irmão de Alexandre Langa) e Miguel Dimande. Actualmente, a banda é constituída por quatro membros permanentes, nomeadamente Américo Mavui (vocalista principal), Ernesto Chimanganine (viola- solo), Pedro Chau (contra-solo e vocalista) e Mário Mandlaze (baterista), além de bailarinos, e continua a apostar no estilo marrabenta.

“Quanto mais velho, melhor” é o que se pode dizer dos Galtons que já não têm mais nada a provar quando o assunto é tocar a marrabenta. Com uma discografia relativamente longa – o grupo dispõe de aproximadamente 10 álbuns –, a banda vai participar pela terceira vez consecutiva no Festival da Marrabenta e antevê algo especial.

O grupo, de que fez parte o falecido músico Abílio Mandlaze, prepara-se para apresentar as músicas que marcaram uma geração e colocaram os Galtons na ribalta e sob holofotes dos media, além de alguns temas novos. “Neste momento, estamos a ensaiar e temos fé de que o público vai gostar. O povo moçambicano sempre gostou da nossa actuação”, disse Aurélio Mavui.

O último trabalho discográfico denomina-se “Ayi hanyi Mozal” (Viva Mozal) por aquela empresa ter patrocinado a produção da obra.

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