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O estado geral do desporto moçambicano em 2013

O estado geral do desporto moçambicano em 2013

A pouco menos de duas semanas para o fim do presente ano, o @Verdade entende ser seu dever fazer uma avaliação ao desporto moçambicano. Em termos de realizações, 2013 foi marcado por muitos acontecimentos desportivos. Apesar de Moçambique ser mais reconhecido a nível internacional, a desorganização interna, que atingiu níveis assustadores, não impede que o estado geral do desporto nacional seja avaliado negativamente.

O desporto é um vector capital do desenvolvimento de uma nação. Para além de contribuir para a boa saúde dos indivíduos, esta actividade pode colaborar em larga medida para o progresso económico de um Estado através da sua profissionalização e da sua promoção. Contudo, se Moçambique dependesse apenas desta área para desenvolver, seria o último país do mundo, em termos de condições, para nele habitar.

Embora algumas conquistas internacionais tentem lançar uma falsa imagem de que em Moçambique se pratica de forma exemplar o desporto, a conjuntura interna é bastante vergonhosa. O basquetebol é o reflexo nato disso. Neste ano, por exemplo, as “Samurais” conquistaram uma medalha de prata no “Afrobasket” sénior feminino que teve lugar no passado mês de Setembro em Maputo e concretizaram o sonho do apuramento para o Campeonato Mundial de Basquetebol.

Porém, este prémio é insultuoso para a verdade desportiva na medida em que, durante ano de2013, Moçambique não organizou nenhuma competição interna que tenha servido para avaliar o grau de competência e de competitividade das jogadoras e das equipas nacionais. Ou seja, admitir que a “prata” é merecida para o nosso país, é o mesmo que advogar que a inexistência de provas de basquetebol produz campeões, contrariando a teoria de que o triunfo das “Samurais” foi casual. O dinheiro que se investiu na preparação das “Samurais” durante os pouco mais de dois meses fora de Moçambique (Japão, Portugal e Cuba) cobriria a realização de um Campeonato Nacional que pudesse conferir rodagem às atletas.

A selecção nacional de basquetebol sénior masculino é o protótipo da qualidade do nosso basquetebol. Esteve também no “Afrobasket” de Agosto, em Abidjan, e o máximo que conseguiu fazer foi terminar na 12ª posição num certame com 16 equipas. Não teve direito a estágios e nem sequer mereceu o acompanhamento do presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB). Apesar de tudo, a Liga Moçambicana de Basquetebol (LMB), apoiada pela FMB, decidiu adiar a realização da edição 2013 do Campeonato Nacional, de Dezembro deste ano para o próximo mês de Março.

Na modalidade de futebol, as coisas tenderam a melhorar. Para começar, a Liga Muçulmana fez história ao chegar ao play-off de acesso à Taça CAF, tendo sido eliminada pelo colosso TP Mazembe, apesar da vitória por 2 a 1 no campo da Matola C. Esse mérito espelhou o trabalho que aquele clube tem vindo a realizar nesta modalidade ao ser eleita, igualmente, equipa revelação de África por uma cadeia televisiva sul-africana do ramo de desporto. Ademais, a hegemonia dos muçulmanos viu-se também na conquista do Campeonato Nacional de Futebol, com oito pontos de vantagem sobre o segundo classificado.

Apesar das longas paragens que ditaram a realização de jogos nas quartas-feiras, sem se olhar para a realidade moçambicana, o Moçambola está na lista dos 16 melhores campeonatos nacionais de África devido à qualificação, pela primeira vez, da selecção nacional para o Campeonato Africano de Futebol para jogadores internos, o CHAN. E esta realização só foi possível graças ao trabalho de um seleccionador moçambicano depois de muito tempo de insucesso com treinadores estrangeiros.

Mancharam sobremaneira o ano: o braço-de-ferro entre o Ministério do Trabalho e os clubes da alta competição no caso “treinadores e jogadores estrangeiros ilegais”, que culminou com a interrupção do Moçambola por uma semana; as viagens terrestres do Vilankulo FC para disputar jogos do Campeonato Nacional de Futebol contra equipas que viajavam por via aérea; a má arbitragem que produziu vários resultados, ferindo a verdade desportiva; e a expulsão do treinador português do Costa do Sol, Diamantino Miranda, alegadamente por ter ofendido os moçambicanos.

Na modalidade de voleibol, 2013 poderia ser o melhor ano se dependesse apenas da saída de Camilo Antão do poder, trinta e três anos depois de ter assumido o cargo. Porém assistimos a crescentes desmandos na Federação Moçambicana de Voleibol que culminaram com a greve dos jogadores da selecção nacional em reivindicação do cumprimento das promessas feitas por Khalid Cassam.

Moçambique perdeu a qualificação para o Campeonato Africano de Voleibol, que também dava acesso ao “Mundial”, por este motivo. Com a entrada do novo elenco na Federação Moçambicana de Atletismo (FMA), esperava-se que esta modalidade seguisse um novo rumo. Debalde. Bastaram apenas seis meses para os conflitos internos e de interesse, sobressaírem. Todos querem o poder e, por esse facto, estagnaram de vez o atletismo depois da saída de Lurdes Mutola.

Na edição 2013 do Festival Nacional dos Jogos Desportivos Escolares que teve lugar em Tete, no mês de Julho, o @Verdade teve conhecimento de uma reunião entre o secretário-geral da FMA, Paulo Sunia, e os presidentes das associações provinciais que visava fazer um abaixo-assinado para retirar Shafee Sidat da presidência, alegadamente por estar a desempenhar também o papel de agente-FIFA.

O referido encontro não surtiu o efeito desejado, restando a Sunia colocar o assunto na imprensa como forma de pressionar o seu presidente a abandonar o cargo. Ainda no que diz respeito aos Jogos Escolares, o país ainda não adoptou um sistema de capitalização de talentos que despontam naquele festival, fazendo com que o mesmo não deixe de ser um simples evento desportivo com o objectivo de divertir as crianças durante as férias lectivas.

Outro aspecto que manchou o mundo do desporto moçambicano foi o facto de o Fundo de Promoção Desportiva (FPD), uma instituição subordinada ao Ministério da Juventude e Desportos, ter assinado contratos-programa com as federações nacionais em Maio e, mais tarde, revelar que não tem fundos para cumprir com a sua obrigação, marginalizando algumas modalidades desportivas. Contudo, o karate, o Tang Soo Doo, a canoagem, a vela, a ginástica e o atletismo para deficientes, modalidades com menor expressão e sem amparo em Moçambique, continuarão a orgulhar verdadeiramente o país além-fronteiras.

 

VOX POPULI

Júlio Andrade, jogador do Clube de Andebol Matolinhas

O desporto no país encontrase num estado débil. Não há equidade na distribuição de fundos para as federações o que marginaliza algumas modalidades desportivas como a ginástica, o judo, o karate, a vela e a canoagem, entendidas como enteadas do Governo.

Zefanias Cossa, funcionário público

Em Moçambique não temos desporto. Isto serve apenas para gastar o dinheiro que devia ser útil noutras áreas preponderantes para o desenvolvimento do país. Não há retorno nesta área e alguém tem de parar com isso.

Manuel Anacleto, funcionário público

O desporto no país está num bom estado. Neste ano as “Samurais” conseguiram o feito inédito de garantir a presença no Campeonato do Mundo de Basquetebol e os “Mambas” no CHAN. Isto sem contar com as diversas medalhas das chamadas modalidades individuais.

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