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O espelho e reflexo de AM

O espelho e reflexo de AM

Em Moçambique, dezenas de mulheres são vítimas de violência doméstica, mas elas não denunciam os agressores, optando por se manterem em silêncio. Portanto, a situação inquietou o artista Amade Mupuatahala, ou simplesmente AM, que decidiu combater este mal através de uma música intitulada “O teu espelho, teu reflexo”.

A composição “O teu espelho, teu reflexo” é uma narrativa que descreve a essência de uma sociedade em que as mulheres são reféns dos malefícios da violência doméstica. Por outro lado, o tema musical remete-nos a uma reflexão profunda sobre o tipo de convivência que pretendemos inculcar no seio da população moçambicana.

Na verdade, trata-se de uma música baseada em factos reais. A essência era fazer entender à sociedade que as mulheres não devem ser agredidas e, se assim acontecer, elas devem quebrar o silêncio no sentido de evitar que actos de violência persistam.

A ideia surgiu da necessidade de se fazer uma mudança nos moldes de convivência no seio dos casados. Importa referir que as mulheres são chamadas a criar condições com vista a serem mais abertas e partilharem o que estão a viver. No desespero, todo o mundo precisa de alguém para poder desabafar ou encontrar soluções para corrigir o problema, neste caso a violência doméstica.

A música em alusão conta a história de uma mulher casada, a qual vamos chamar ficticiamente Maria, uma cidadã cujo lar não goza de uma convivência benigna. Ela é, constantemente, submetida a maus-tratos. Maria não pode dedicar-se a qualquer actividade. O seu parceiro vê nela “uma máquina de fazer filhos”. Na verdade, esta mulher que não pode ter amigas e nem estudar não tem como dar o seu contributo no combate à pobreza e em prol do desenvolvimento do país.

Todos os seus vizinhos julgam que o comportamento apático que ela possui faz parte da sua natureza. Mas não sabem que a sua conduta pouco amigável surge da repreensão que tem sofrido no seu lar, por parte do seu marido. Simplesmente, essa esposa que não pode fazer mais nada no seu dia-a-dia teme algo que a pode machucar.

A violência física ou psicológica perpetrada pelo seu marido tornou-se o seu pão de cada dia, mas ela não o denuncia. Ela não participa o caso às autoridades competentes porque os seus familiares não lhe deixam. O que acontece é que os seus parentes são dependentes do esposo de Maria, que garante o sustento diário da família.

Enquanto isso, aquela mulher vive mergulhada num mar de incertezas. “Quando nasce uma mulher numa família, sobretudo nos agregados familiares considerados de baixa renda, eles vêem na recém-nascida a esperança de melhoria das condições de vida. O facto começa a concretizar-se quando aquela petiza atinge a maioridade, pois os seus parentes olham para o seu parceiro como uma fonte de renda, o que é mau”, disse AM.

“Um homem violento é um bicho”

Na opinião do cantor e produtor AM, todo aquele homem que violenta a sua mulher é covarde, pois cada indivíduo precisa de conhecer e respeitar os direitos do outro ser humano. Entretanto, os que não se emendam e continuam a ser violentos são “bichos”.

Segundo AM, os bichos, quando estão em apuro, não optam pelo diálogo. Eles simplesmente atacam as suas vítimas sem lhes dar hipóteses de defesa. Para aquele músico, a sua composição procura, também, incutir nos homens a cultura de diálogo. Por outro lado, o cantor, nesta sua composição, além de abominar a violência doméstica, sobretudo a física, ele afirma que aquele acto não deve ser considerado uma solução viável.

“Na verdade, bater em alguém não faz o tempo voltar atrás e apagar as marcas deixadas nos nossos próximos. A única coisa que um ser humano consciente deve fazer é dialogar. Por outro lado, ele tem que explicar que não gostou de algum erro que a sua parceira cometeu”, explicou Amade Mupuatahala.

“As mulheres devem quebrar o silêncio”

Se bem que uma vítima de violência doméstica não pretende viver daquela forma pelo resto da sua vida, ela não se deve manter calada. Deve, sim, quebrar o silêncio. O acto consiste em denunciar o infractor às autoridades competentes, independentemente de ele ser o responsável pelo sustento da família.

Para AM, o facto de um cidadão pertencer a uma classe social considerada de alta renda não significa que ele tem todo o direito de desrespeitar as pessoas, principalmente a sua esposa. Portanto, a mulher deve partilhar os problemas que apoquentam o seu relacionamento. “O facto de ser cidadã leva-nos a crer que ela tem direito à palavra e à defesa”, sustentou.

Breve biografia do compositor

Amade Mupuatahala é da opinião de que o seu amor pelas artes musicais surgiu desde a sua infância. Natural do distrito portuário de Nacala, província de Nampula, actualmente com 26 anos de idade, AM iniciou a sua carreira musical, firmemente, em 2004, como produtor. Porém, um ano mais tarde, ele decidiu alargar a sua experiência, mas desta feita como cantor.

O seu trabalho está resumido em dois “singles”, nomeadamente “Eu Sozinho” e “Registo 23”, cada um composto por seis músicas, além de mais de 10 outras composições ainda não publicadas. Essencialmente, a sua fonte de inspiração é o seu quotidiano aliado ao espírito de querer viver numa sociedade onde as pessoas se respeitam umas às outras. Actualmente, como um dos melhores cantores e produtores da cidade de Nampula, AM apostou no estilo Rap. Essa opção surgiu mercê do seu amor pela cultura Hip Hop.

Durante o seu percurso na área da produção musical, o artista em alusão trabalhou com diversos ícones da música moçambicana, entre eles os rappers Y-not, Mente Negra, Cronics, Alex Júnior, 2 Head, Banda Watana, Os Anéis, Os Incríveis, entre outros. Importa referir que AM é proprietário de um estúdio de produção e captação, denominado Estúdio 6, no qual faz as suas músicas e não só.

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