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O curandeiro contratado pelo meu edil

Os resultados das eleições já havia muito eram conhecidos. E não estavam longe das previsões, confirmando as sondagens. E o presidente tomou posse, ante os apoiantes eufóricos, muitos deles desejando, de imediato, recompensas pelo apoio que prestaram ao recém-eleito presidente da autarquia.

Acotovelam-se no partido de que o presidente fazia parte. Uns a dizerem que eram mais membros do que outros. Até alguns chegavam a interpelar o presidente apenas para maldizer dos outros:

– Aqueles estão a aderir ao partido só para tirar partidos. E diziam mais. Acusavam alguns que viram fulanos metidos em conversa com sicranos do partido da posição ou oposição. Tristonho! Parece-me que custa ser dirigente numa autarquia como a nossa, a de Fim-do-Mundo.

Pois, para além de teres de satisfazer os interesses dos munícipes, deves recompensar, com coisas imediatas, os teus partidários. E caso o não faças conspiram contra ti, até de te demitirem? Sei lá, respondam os que conhecem a disciplina e a indisciplina partidária.

Sei, sim, que quando o genro do meu avô, Genrónimo Comichão, entrou para a autarquia, a mesma tinha muitos problemas. Havia desordenadas construções de casas, construções sem as respectivas licenças. Até em valas de drenagens havia gigantes obras, edificadas ante o olhar e ouvir impávidos das predecessoras autoridades autárquicas.

No resto, os vereadores do anterior governo, os que demoniacamente engendraram e permitiram a evolução dos supracitados problemas, estavam no rente governo autárquico, não de pedra e cal, incumprindo as respectivas funções.

Só o novo edil não os exonerou, para uma boa imagem política. Pois, nos tempos que corriam, soava bem para os doadores ouvir que um governo tem na sua estrutura membros de partidos da Oposição ou da Posição.

Entrementes, de imediato, o presidente quis atacar os problemas que encontrou, ordenar a destruição das infra-estruturas desordenadas e as edifi cadas nas antigas valas de drenagem.

Em tempos de cheias, os proprietários exigiam assistência humanitária, curiosamente. De imediato, também a ideia do presidente venceu a adversão dos vereadores, a encasquetar-lhe:

– Não faça isso, sua excelência, se não perderá muitos votos nas próximas eleições.

O edil não desandou, a decisão manteve-se. E, logo que a decisão foi posta em voga pelos media, as pessoas e outros visados desataram a maldizer em surdina: queremos ver, vão morrer, isto é Fim-do-Mundo, que se coloquem a pau, vão avariar esses guindastes.

No seguido, os guindastes, essas máquinas de levantamento de pesos, estavam no terreno a exercer o trabalho. Mas a dado momento, enquanto o trabalho se exercia, desatou a jorrar sangue, através do chão da máquina. Vinha de onde?

O combustível da máquina convertera- -se em sangue? Não. Soube-se instantes depois, quando o proprietário do sangue, já enxuto, menos pesado que papagaio, já não respirava. Estava morto, pés involuntariamente afundando os pedais.

O presidente e os criminalistas entenderam aquilo como normal. De hemorragia externa se tratava. E foram a conduzir a máquina de destruição tantos outros maquinistas, num número de 20, tendo sido todos acometidos pelo igual azar: tremendas hemorragias. Enquanto isso, as pessoas visadas festejavam, sem pompas mas com circunstâncias.

Foi, então, que o edil decidiu criar um gabinete, que responderia prontamente aos problemas, o gabinete de assuntos tradicionais, depois passado para gabinete de Magia.

Contratou os respectivos recursos humanos, quatro famigerados curandeiros, e orçamento, como ordenavam as intestinas regras autárquicas, aprovado pela respectiva Assembleia Municipal de Fim-do- -Mundo (AMFM).

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