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Cardeais católicos iniciam esta terça-feira (12) o conclave que elegerá o 266º papa, sucessor de Bento 16, que abdicou inesperadamente no mês passado. O conclave é um dos mais antigos e sigilosos processos eleitorais do mundo, data do século 13, quando as eleições papais poderiam durar anos e alguns cardeais morriam durante o cansativo processo. O termo conclave vem do latim “com uma chave”, e se refere à prática de prender cardeais longe dos olhos curiosos do mundo, permitindo que eles escolham um novo papa sem interferência externa.

Os 115 cardeais eleitores vão desaparecer da vista pública na terça-feira para votarem na Capela Sistina um sucessor do papa Bento 16, que irá liderar os 1,2 bilhão de católicos romanos do mundo. Uma coluna de fumaça branca de uma chaminé do Vaticano, significando que uma decisão foi alcançada, é esperada em poucos dias se os conclaves dos últimos 100 anos são referência. Mas nem sempre foi tão fácil.

A eleição de Gregório X em setembro de 1271, numa época em que a Igreja estava dividida politicamente, ocorreu depois de quase três anos de deliberações na cidade de Viterbo, 85 km ao norte de Roma. Após dois anos inconclusivos, os habitantes locais, frustrados, amotinaram-se, retiraram o telhado do palácio onde os cardeais estavam reunidos – supostamente, para deixar o Espírito Santo unir-se a eles – e cortaram o fornecimento de alimentos para estimulá-los a romper o impasse.

A seguir, os principais fatos sobre o conclave:

QUEM – Participam 115 cardeais que tinham menos de 80 anos na data da abdicação de Bento 16. Dois outros cardeais que estariam dentro do limite etário declinaram de comparecer –um por razões de saúde, e outro por seu envolvimento em um escândalo sexual. Há também 90 cardeais maiores de 80 anos que não participam. A pessoa a ser eleita papa não precisa ser um dos cardeais eleitores, mas na prática moderna ele sempre é. Os cardeais-eleitores são oriundos de 48 países. Os europeus são maioria (60 dos 115), e há ainda 19 da América Latina, 14 da América do Norte, 11 da África, 10 da Ásia e 1 da Oceania. Os italianos compõem o maior grupo nacional (28 cardeais), seguidos por norte-americanos (11 cardeais), alemães (6), brasileiros e indianos (5 cada).

ONDE – Os cardeais iniciam a sua reunião às 16h30 (hora local) na Capela Sistina, sob os afrescos de Michelangelo que retratam o Juízo Final e cenas bíblicas como a célebre imagem dos dedos de Deus e de Adão quase se tocando, numa representação da criação do homem. Os cardeais dormem em um hotel do Vaticano, atrás da basílica de São Pedro. Eles ficarão proibidos de se comunicar com o mundo externo – sem telefone, televisão ou Internet.

HISTÓRIA – A palavra “conclave” (do latim “cum clave”, ou seja, com chave) data da prolongada eleição de Celestino 4º, em 1241, quando os cardeais foram trancados em um palácio caindo aos pedaços. No século 13, houve um conclave que durou dois anos, nove meses e dois dias. A duração média dos nove conclaves do século 20 foi de cerca de três dias. O último conclave, em 2005, levou pouco mais de 24 horas para eleger Joseph Ratzinger (Bento 16).

VOTAÇÕES – Os cardeais farão a sua primeira votação na terça-feira, em cédulas com os dizeres “Eligo in summum pontificem…” (“elejo como sumo pontífice..”). A partir de quarta-feira, serão duas votações a cada manhã e duas à tarde. Haverá uma suspensão das votações no sábado se o novo pontífice não tiver sido eleito até lá. Para ser escolhido, o candidato precisa ter maioria de dois terços (pelo menos 77 votos).

FUMAÇA – Depois da votações, as cédulas são queimadas, e sua fumaça sai por uma chaminé improvisada sobre a Capela Sistina. Os sinais de fumaça informam ao mundo se os cardeais elegeram ou não um novo papa. A fumaça preta indica uma votação inconclusiva. A fumaça branca –acompanhada do badalar de sinos da basílica de São Pedro– revela que um papa foi escolhido. A expectativa é de que a fumaça seja vista diariamente por volta de 12h e 19h (hora local). Mas ela pode aparecer antes se o novo papa for eleito na primeira votação de um desses períodos.

“HABEMUS PAPAM” – Quando um papa é eleito, um cardeal aparece na sacada da basílica de São Pedro e anuncia, em latim: “Annuntio vobis gaudium magnum: habemus papam” (“Eu vos anuncio uma grande alegria: temos papa”). Ele anuncia o novo papa por seu nome de batismo, sendo o prenome traduzido para sua versão em latim, e então anuncia o nome que o eleito adotará em seu pontificado.

Os nomes papais mais frequentes até hoje foram João (23 vezes), Gregório (16), Bento (16), Clemente (14), Inocente (13), Leão (13) e Pio (12). Após o anúncio, o novo papa se apresenta para seu primeiro pronunciamento público e para sua primeira bênção “Urbi et Orbi” (“para a cidade e para o mundo”), diante da multidão que se reúne na praça de São Pedro.

Conheça os principais candidatos ao papado

Não há candidatos formais no conclave, mas vários nomes são mencionados com frequência. Para ser eleito, é preciso reunir pelo menos 77 votos entre os 115 cardeais-eleitores. Veja uma lista com os nomes citados mais frequentementes:

PRINCIPAIS CANDIDATOS

– Angelo Scola (Itália, 71 anos) é o arcebispo de Milão, tradicional plataforma para o papado, e principal candidato italiano. Especialista em teologia moral, foi transferido de Veneza – outro bloco de lançamento papal – para lá pelo papa Bento 16 em 2011, no que alguns viram como um sinal de aprovação. Scola foi próximo por bastante tempo do grupo conservador católico italiano Comunhão e Libertação, que Bento 16 também apoiava, mas manteve distância nos últimos anos. É também familiarizado com o islamismo, na qualidade de chefe de uma fundação que promove o entendimento entre cristãos e muçulmanos. Tem uma oratória intelectualizada, o que pode afastar cardeais que busquem um comunicador mais carismático.

– Odilo Scherer (Brasil, 63 anos) é o principal candidato da América Latina, onde vivem 42 por cento dos católicos do mundo. Arcebispo de São Paulo, maior arquidiocese do país, ele é um conservador para os padrões brasileiros, mas seria visto como moderado em outros lugares. Suas raízes familiares alemães e o período trabalhando na cúria do Vaticano lhe dão ligações importantes com a Europa, o maior bloco de votação. A imprensa italiana diz que ele goza de apoio entre os cardeais da cúria contrários a Scola. É conhecido pelo senso de humor e por usar o Twitter regularmente. O rápido crescimento das igrejas evangélicas no Brasil pode pesar contra ele.

– Marc Ouellet (Canadá, 68 anos) é o chefe da Congregação para os Bispos, uma espécie de departamento pessoal do Vaticano. Teólogo da mesma linhagem de Bento 16, declarou certa vez que virar papa “seria um pesadelo”. Embora bem relacionado na cúria (a administração central da Igreja), e na América Latina, pode ser prejudicado pela dificuldade de seu período como arcebispo de Québec, onde suas visões conservadoreas causaram conflito com a sociedade local bastante secular.

– Sean O’Malley (EUA, 68 anos) é o candidato de “mãos limpas” se os cardeais decidirem que a maior prioridade da Igreja é resolver a crise decorrente dos abusos sexuais cometidos por clérigos. Nomeado em 2003 como arcebispo de Boston, após uma grande crise por lá devido a abusos sexuais, ele vendeu bens da arquidiocese para indemnizar vítimas e fechou igrejas pouco frequentadas, apesar de protestos. Sua autoridade calma e sua humildade franciscana podem atenuar as preocupações sobre um “papa com superpoderes”.

POSSÍVEIS ALTERNATIVAS

– Timothy Dolan (EUA, 63 anos), arcebispo de Nova York e chefe da conferência episcopal dos EUA, deu à Igreja dos EUA uma influência inédita nos conclaves. Seu humor e dinamismo agradam a muitos no Vaticano, onde essas são qualidades em falta, e atraem cardeais que querem alguém que seja tão bom administrador quanto pregador. Mas há quem se oponha a ele por temer que faça uma limpeza rigorosa demais na cúria.

– Leonardo Sandri (Argentina, 69 anos) nasceu em Buenos Aires, mas é filho de italianos. Ocupou o terceiro cargo mais graduado do Vaticano entre 2000 e 2007, como chefe da seção de Assuntos Gerais da Secretaria de Estado do Vaticano. Com sua experiência, costuma ser visto como um candidato ideal ao cargo de secretário de Estado, principal posição abaixo do papa, mas não como pontífice propriamente dito. Não tem experiência pastoral, e seu atual cargo na cúria (prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais) não é uma posição de poder na hierarquia católica.

– Luis Tagle (Filipinas, 55 anos) tem um carisma comparável ao do falecido papa João Paulo 2º. O hoje arcebispo de Manila se aproximou do papa emérito Bento 16 quando ambos trabalharam juntos numa comissão teológica do Vaticano. É um estrela em ascensão da Igreja na Ásia, mas só virou cardeal em novembro passado. Os participantes do conclave podem relutar em eleger um candidato jovem demais, que tenha um pontificado excessivamente longo.

– Peter Erdo (Hungria, 60 anos) aparece como uma possibilidade se a maioria europeia do conclave não eleger um italiano, mas relutar em aceitar um papa de fora do continente. Dois mandatos como presidente da conferência episcopal europeia e uma forte relação com prelados africanos indicam que ele tem bons contatos. Ele também é um pioneiro na iniciativa de “Nova Evangelização” para reavivar a fé católica na Europa.

– Christoph Schoenborn (Áustria, 68 anos) foi aluno de Joseph Ratzinger (Bento 16) e se tornou arcebispo de Viena após um escândalo de abuso sexual. Pregador poliglota, critica a forma como o Vaticano lida com a crise, e apoia reformas cautelosas, inclusive para demonstrar mais respeito a católicos homossexuais. Isso, junto com uma forte resistência ao seu nome por parte de padres austríacos, pode afetar suas chances junto aos conservadores.

TAMBÉM CITADOS

– Peter Turkson (Gana, 64 anos) é o principal candidato africano. Chefe do Departamento de Justiça e Paz do Vaticano, é o porta-voz da consciência social na Igreja e apoia uma reforma financeira mundial. Mas numa recente assembleia do Vaticano ele apresentou um vídeo com ataques à religião islâmica, o que gerou dúvidas sobre suas habilidades diplomáticas. Críticos dizem que ele faz uma campanha muito ostensiva.

– João Bráz de Aviz (Brasil, 65 anos) levou ar fresco ao assumir o departamento do Vaticano para Congregações Religiosas, em 2011. Vê com simpatia a Teologia da Libertação na América Latina por sua ajuda aos pobres, mas não por seu ativismo de esquerda. O ex-arcebispo de Brasília é discreto, o que pode ajuda ou atrapalhar suas chances, dependendo do andamento do conclave.

– Gianfranco Ravasi (Itália, 70 anos) é o ministro da Cultura do Vaticano e representa a Igreja nos âmbitos da arte, da ciência, da cultura e até junto aos ateus. Escritor e pregador brilhante, propenso a citar de Aristóteles a Amy Winehouse, parece ter um perfil em descompasso com o de pregador-gestor que os cardeais dizem procurar para substituir o influente teólogo Bento 16.

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