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‘@ Verdade Solta: O amor tem destas coisas

Eu, você e quase todos os quem convivem connosco pensam da mesma maneira. Se não pensam, já pensaram: a vida é mesmo uma piada. Ora vejamos: quando crianças, com aquela espontaneidade que falta aos adultos, sonhamos em mil e uma coisas. Queremos ser tudo e mais alguma coisa. Aliás, não falta a incansável busca para saber porque as coisas são como são.

Chega a adolescência e pensamos invariavelmente numa única coisa: na “primeira vez” de preferência com a rapariga mais gira da turma, da escola ou do bairro – claro! Mais tarde, a autoridade paterna começa a incomodar- nos, surgindo, assim, a necessidade de se tornar independente.

Vêm os 18 anos, ou um pouco mais, fazemos aquele curso geralmente ‘escolhido’ pelos nossos pais e aparece aquela vontade imensurável de mudar o mundo. Somos capazes de dar a vida em nome dos injusti çados – não pela glória e fama, mas é, diga-se, por puro altruísmo.

Tempos depois, apercebemo-nos de que a nossa ati tude revolucionária, cáusti ca e rebelde não passa de uma parvoíce e segue-se então a fase de conformismo.

Quando atingimos a terceira idade, tornamo-nos idosos rabugentos: tudo nos deixa irritados. E não suportamos ver os mais novos a dançar, brincar, festejar e sobretudo as crianças que fazem travessuras; afinal, apercebemo-nos das inúmeras coisas que deixámos de viver porque quando tí nhamos aquela idade abdicámos de fazer as mesmas coisas, pois éramos apresentados, qual um troféu, aos familiares, vizinhos e amigos dos nossos pais como a criança mais bem comportada e quieta que já se vira.

Todo esse intróito é apenas para falar da piada que é a vida, e não só. Também para falar dos meus amores. Sim, os meus amores! Nunca fui de tomar iniciati vas em qualquer assunto que seja, excepto naquela questão que agora não vem ao acaso – claro! Mesmo quando o assunto é conquistar aquela vizinha do bairro que me deixa febricitante, a colega que senta na carteira da frente e a rapariga da festa. Até porque sempre me julguei um “pão”, ou melhor, dentro dos padrões de beleza masculinos.

A Maria foi o meu primeiro amor. A nossa relação só foi possível porque ela tomou a iniciati va, uma vez que veio com a conversa de que eu parecia um anjo na terra. Acreditei, pois tenho atributos mais do que suficientes para deixar as raparigas num estado de completo delírio.

Mas volvidos alguns anos de namoro, Maria começou a queixar-se de que o odor das minhas axilas a sufocava e o nosso relacionamento terminou.

Depois veio a Sofia. Meiga e dona de um olhar penetrante, Sofia começou por dizer que não tinha dúvidas de que eu me tornaria seu marido e o pai dos seus fi lhos. Mas foi sol de pouco dura. Passados cinco meses, disse que não suportava o meu vício de roer as unhas das mãos.

Então seguiu-se a Joana. Esbelta e de olhos enormes que as lentes finas dos seus óculos fazem parecer pequenos, dizia que ao meu lado se senti a uma autênti ca “Branca de Neves” ou “Cinderala”, claro, sem os vilões desses contos encantados.

Mas demorou para que os maus dessas histórias clássicas ressurgissem. Joana pôs-se a queixar de que eu era muito vaidoso e tudo mais: “Puxa… estás sempre preocupado em estar bem cheiroso, bem arrumado, ter as unhas bem-feitas, até pareces uma mulher. Homem de verdade tem de cheirar suor. Enches-te de perfume. Nunca senti sequer o chulé do seu sapato!”, dizia ela.

Já com a Nilza a situação parecia diferente. Redondinha, que mais se parecia com uma baleia fora da água, Nilza não via defeito em mim, até porque me chamava de “meu príncipe”, “meu herói”, “meu gato” e tantas outras coisas que me envaidecia. Até cheguei a pensar: “é com ela que quero casar”.

Mas há uma semanas atrás as coisas começaram a ficar complicadas, pois ela começou a exigir que lhe atribuísse um apelido carinhoso, tudo porque o namorado da sua prima trata a namorada por “minha bichinha”. Disse-lhe que não sou criati vo, mas ela respondeu: “pense em algo de que gostas ou admiras” e deu-me um prazo de três dias.

Pus a cabeça a pensar e tive uma ideia, digamos, luminosa. “Já pensei! Vou chamar-te de ‘mamã’ ou ‘minha cacana’ pois admiro a minha mãe e gosto de comer cacana, o que achas?”, perguntei. Ela retorquiu: “Não sou tua mãe e também não gosto de cacana porque amarga. Agora tens um dia para pensar no assunto”.

Pensei, pensei, mas sem solução. Então, disse para mim mesmo: “vou ser mais original”. Ontem, peguei no telemóvel e envie-lhe SMS a dizer: “Nilza, pensei muito no assunto e a partir de hoje vou-te chamar de ‘minha água estagnada’, espero que gostes”.

E a resposta não tardou a chegar, ligou-me e disse: “Seu macaco e estúpido, não me procures mais” e desligou o telefone. Esta manhã enviei-lhe uma mensagem pedindo desculpa: “Não te zangues comigo, minha abóbora. O amor tem destas coisas”.

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