O aquecimento global constitui uma crescente ameaça à saúde, às perspectivas económicas e aos recursos hídricos e alimentares de bilhões de pessoas, disseram os cientistas influentes num relatório que defende uma acção imediata para fazer frente aos efeitos das emissões de carbono.
O novo trabalho do órgão da ONU Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) diz que os efeitos do aquecimento estão a ser sentidos em todo o lugar, contribuindo para possíveis crises de escassez alimentar, desastres naturais e guerras.
“O mundo, em muitos casos, está mal preparado para os riscos decorrentes de uma mudança climática”, disse o IPCC, esta segunda-feira (31), depois de chegar a um acordo sobre o texto final. O relatório acrescenta que o aquecimento, ao agravar-se, pode desencadear consequências graves e disseminadas, que podem ser irreversíveis e/ou surpreendentes.
Os cientistas projectam que o aquecimento poderá reduzir o PIB global em 0,2 a 2 por cento ao ano, caso as temperaturas medianas subam até 2 graus Celsius – uma estimativa que muitos países consideram modesta demais. “Ao longo da próxima década, a mudança climática terá impactos maioritariamente negativos”, disse Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), citando cidades, ecossistemas e o abastecimento hídrico como áreas de risco.
“Os pobres e os vulneráveis serão mais afectados”, acrescentou. Entre os principais riscos estão a inundação permanente de pequenas ilhas e áreas costeiras. O IPCC foi criado em 1988 pela OMM e pelo Programa de Meio Ambiente da ONU. O relatório enfatiza os riscos e aponta as reduções das emissões de gases do efeito estufa como uma espécie de apólice de seguros para o planeta.
“A mudança climática é realmente um desafio para a gestão de riscos”, disse à Reuters o cientista Christopher Field, copresidente do grupo do IPCC que preparou o relatório, antes do lançamento desta segunda-feira.
Anteriormente, o IPCC já havia alertado que a ação humana é muito provavelmente a causa do aquecimento global. O novo relatório é o segundo numa série de quatro com o objectivo de orientar os governos que se comprometeram a definir, até 2015, um novo tratado global contra a mudança climática.
“Este relatório exige e requer que todos acelerem e intensifiquem os esforços para um mundo de baixo carbono e gerenciem os riscos da mudança climática”, disse a chefe de questões climáticas da ONU, Christiana Figueres, em nota.