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Norte-coreanos velam Kim e veneram “Grande Sucessor”

Norte-coreanos saíram às ruas esta segunda-feira para lamentar a morte do seu líder Kim Jong-il, e a imprensa estatal saudou o seu inexperiente filho caçula como o “Grande Sucessor” do regime comunista, cujo arsenal nuclear é motivo de inquietação na Ásia. Kim morreu no sábado, vítima de infarto, mas a sua morte só foi anunciada esta segunda-feira pela TV estatal, por uma locutora de voz embargada e vestindo luto. Ela disse que ele foi vitimado por “excesso de trabalho físico e mental”, a bordo de um trem no qual se dirigia para prestar “orientação de campo” – conselhos que o “Estimado Líder” dava em fábricas, fazendas e quartéis.

Num relato com maior precisão médica, a agência estatal de notícias KCNA disse que Kim sofreu um “infarto aguado avançado do miocárdio, complicado por um sério choque cardíaco”.

A Coreia do Sul afirmou que, logo antes do anúncio da morte de Kim, a Coreia do Norte testou um míssil de curto alcance. O fato expõe a preocupação que cerca o comportamento do misterioso país, que em 2010 atacou civis em uma ilha sul-coreana, no momento de maior tensão na região em várias décadas. Seul anunciou que vai desistir de montar uma árvore de Natal na fronteira, o que Pyongyang já havia classificado como uma provocação passível de retaliação.

O chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, Martin Dempsey, disse que o teste do míssil – algo que não ocorria desde junho – provavelmente foi planejado antes da morte de Kim. Autoridades dos EUA disseram que não houve elevação do nível de alerta em vigor para os cerca de 28.500 soldados norte-americanos estacionados na Coreia do Sul.

“DESESPERO”

A KCNA, agência estatal de notícias norte-coreana, saudou o filho caçula do dirigente morto, Kim Jong-un, como sendo “líder destacado do nosso partido, Exército e povo”. Um despacho da agência afirmou que norte-coreanos de todas as origens demonstraram profundo desespero com a notícia da morte de Kim, mas encontraram consolo na “segurança absoluta de que a liderança do camarada Kim Jong-un irá conduzir e ter sucesso na grande tarefa da empreitada revolucionária”.

Kim Jong-un representa a terceira geração de uma dinastia comunista fundada por seu avô Kim Il-sung, que morreu em 1994, mas continua sendo oficialmente o “presidente eterno” do país. Mas não há certeza sobre o grau de apoio a Kim Jong-un por parte da elite governante do país, especialmente as Forças Armadas, e existem temores de que o novo dirigente poderia recorrer a uma demonstração de força militar para estabelecer as suas credenciais.

“Kim Jong-un é um pálido reflexo do seu pai e avô. Ele não teve décadas para se preparar e assegurar uma base de apoio, como Jong-il teve antes de assumir o controle no lugar do seu pai”, disse Bruce Klingner, analista de política asiática da Fundação Heritage, de Washington. “Ele pode sentir necessário no futuro precipitar uma crise para provar sua fibra aos outros líderes graduados, ou para desviar as atenções dos fracassos do regime.”

A TV estatal chinesa mostrou norte-coreanos a chorarem na capital Pyongyang. A KCNA relatou casos de pessoas “a contorcerem-se de dor”. De acordo com a agência, um “fluxo interminável” de soldados, trabalhadores e estudantes passou até depois da meia-noite pelo gigantesco memorial em homenagem a Kim Il-sung no centro da capital, para prestar sua homenagem ao “Estimado Líder”, tratado como um semideus pela máquina estatal de propaganda. “Eles estão a chorar amargamente, por autorrecriminação e arrependimento por não terem mantido Kim Jong-il com boa saúde”, disse a KCNA. Kim, segundo a agência, será sepultado ao lado do pai, no dia 28.

NERVOSISMO

Já no exterior, a notícia da morte de Kim – que fez seu país enfrentar sanções e isolamento devido à sua insistência em desenvolver armas nucleares – causou nervosismo imediato, levando a Coreia do Sul a elevar o grau de prontidão das forças armadas e dos funcionários públicos. Seul disse, no entanto, que não houve nenhum movimento excepcional de tropas norte-coreanas.

O Japão disse estar observando os acontecimentos atentamente. “Esperamos que esse fato repentino não tenha um efeito adverso sobre a paz e a estabilidade da península coreana”, disse o chefe de gabinete Osamu Fujimura após uma reunião ministerial de emergência. A China, única aliada poderosa da Coreia do Norte, disse estar confiante na união do país e na preservação das boas relações bilaterais. Pequim transmitiu condolências a todo o povo norte-coreano. Os governos ocidentais, por sua vez, se mostraram menos compungidos.

O primeiro-ministro canadiano, Stephen Harper, disse que Kim “violou os direitos humanos básicos do povo norte-coreano durante quase duas décadas”. Mas várias autoridades tentaram mostrar o lado positivo da morte dele, sugerindo que a nova liderança teria uma chance de abrir o país ao mundo. A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, manifestou “esperança de melhores relações com o povo da Coreia do Norte”. Ela afirmou estar em contato com os outros países – Rússia, China, Japão e Coreia do Sul – que participam do processo multilateral, abandonado desde 2008, que tenta oferecer benefícios políticos e econômicos a Pyongyang em troca de seu desarmamento nuclear.

Os Estados Unidos também reafirmaram sua aliança com a Coreia do Sul, que continua tecnicamente em guerra com a Coreia do Norte depois do armistício que encerrou o conflito de 1950-1953.

DESCONHECIDO

Enquanto Kim Jong-il teve 20 anos para se preparar para o poder, Kim Jong-un só no ano passado recebeu títulos oficiais que o posicionaram como futuro líder. A saúde de Kim Jong-il já era precária desde agosto de 2008, quando ele sofreu um derrame.

O “Grande Sucessor” recebe uma economia devastada por anos de má gestão e sanções. Kim apenas rapidamente cogitou realizar reformas econômicas, mas acabou concentrando-se no regime de centralização econômica e repressão brutal a todas as formas de oposição. Estima-se que, sob o governo de Kim Jong-il, 1 milhão de norte-coreanos tenham morrido de fome na década de 1990. Mesmo em anos de safras boas, o Estado é incapaz de alimentar seus 25 milhões de habitantes. Pouco se sabe sobre Kim Jong-un, que supostamente tem menos de 30 anos e estudou brevemente na Suíça.

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