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Natty Chicane: uma mulher cineasta, poetisa e gloriosa

Uma vida que evolui nas entrelinhas!

Com os Sonhos Verdes – uma obra poética e cinematográfica – a jovem cineasta moçambicana, Natércia Chicane, e mais quatro poetas, fazem de Moçambique o melhor destino e ponto difusor da literatura do continente africano. A artista recebeu a Menção Especial no XXVII Prémio Mundial de Poesia Nosside…

Na verdade, a par dos benefícios adicionais, a Menção Especial arrancada do XXVII Prémio Mundial da Poesia Nósside nada mais fez do que tornar a fértil imaginação criativa da artista, cada vez mais, incorruptível. Mas o impacto da premiação só pode ser avaliado no futuro.

De qualquer modo, na passagem do mês da mulher moçambicana para o do trabalhador Abril e Maio, respectivamente , não haveria algo melhor que falar de uma mulher gloriosa. O trabalho é uma condição indispensável para o sucesso.

E ela, a mulher moçambicana, a par dos homens, (também) é trabalhadora. Por isso, partilha dos sucessos e fracassos dos homens. Mais importante ainda é que, no caso da nossa interlocutora, a realizadora e poetisa moçambicana Natércia Chicane (ou simplesmente Natty), o seu trabalho não é inglório.

Até porque, perante os factos, nada nos impede de a firmar que (para o seu percurso artístico ainda em formação e em consolidação) a Menção Especial que conquistou no Prémio Mundial de Poesia Nósside aconteceu em boa hora. Talvez, uma verdadeira motivação para a criação e a criatividade, ainda que não haja nenhuma relação directa entre o bem-estar e o espírito inventivo. A final, para alguns “o sofrimento na cidade aumentou a criatividade”.

Re fira-se então que, em relação à edição de 2011, os poetas jovens moçambicanos Adriano Juma (autor do texto Filantropia), Eduardo António Quive (criador da obra Quando a Minha Mãe Voltar) Crisália Ester Alexandre Chicane (criadora do texto O Gotejar das Minhas Lágrimas), Olívia Alberto que obrou África Minha Terra Linda e, por m, a nossa interlocutora, Natércia Alexandre Chicane autora do mini-documentário e texto poético Sonhos Verdes, conseguiram com as suas inventivas literárias dizer ao mundo que o “País da Marrabenta” é um dos melhores destinos e pontos difusores da literatura no mundo. Isso é importante.

Num universo de 360 poetas, oriundos de 64 países, em representação de 61 línguas, Moçambique conquistou entre os países africanos a posição do topo, ao mesmo tempo que conseguiu posicionar-se em IV lugar, no mundo, depois do Brasil (em terceiro lugar), de Cuba (na segunda posição) e da Itália, na primeira posição. Em certo sentido, somos os melhores.

Deste modo, além de festejarmos a proeza, entendemos que é importante perceber da pessoa que, muitas vezes, sem se dar conta do fenómeno, ao receber inúmeros estímulos do espaço social e do meio que a circunda – no caso a sociedade moçambicana – vê-se na contingência de criar arte e, porque não, correr o risco de não ser bem percebida como, vezes sem conta, acontece com os artistas.

“Foi uma sensação agradável. É sempre estimulante quando os artistas têm a possibilita de ter alguém especializado na arte que lhes diga que o seu trabalho foi bem feito merecendo, por via disso, o devido reconhecimento”, começa por dizer a poetiza visivelmente emocionada, ao mesmo tempo que procura engendrar um comentário mais consistente:

“É por essa razão que me sinto muito orgulhosa do trabalho que fiz e do que tenho feito. A par disso, congratulo-me com os meus colegas que participaram no Prémio Nósside e que tiveram alguma classi ficação, porque foi com base no trabalho colectivo que o nosso país conquistou uma das melhores classi ficações a nível mundial”.

Esperança

Sonhos Verdes, como se designa o texto vencedor da Menção Especial, realiza um discurso de esperança. Uma criação artística que motiva as pessoas social e economicamente desfavorecidas a labutar para conquistar melhores condições.

É como a autora escreve: “Sou apenas um puto/ Que emerge dos becos desta cidade/ E a muitos conquista”. Ou melhor, para ser exacto: “Sou mesmo um puto batalhador/ Com as minhas roupas encardidas/ Corro atrás do meu ganha pão” [Sic.].

O mais importante na referida corrida é que a autora chama a atenção para que sempre se tenha em mente os objectivos para os quais se deve lutar tenazmente. É por essa razão que, no campo dos seus devaneios, esclarece que “Sou apenas um puto/ Que vai sonhando acordado/ Com um futuro amarelo”.

Re ra-se então que o texto Sonhos Verdes deriva do documentário Alface e Couve, da autoria de Natty que narra a história de um miúdo pobre mas sonhador. Ele realiza trabalhos que, na sua região, são considerados humildes como, por exemplo, o comércio ambulante de verduras.

Um aspecto interessante é que, apesar das conotações negativas que recaem sobre si, em tal acto, o jovem esconde um sonho ambicioso que se materializa na medida em que consegue apoiar os seus pais no sustento da família, ao mesmo tempo que assegura a sua formação académica até que se torne um homem adulto, maduro e responsável.

Por isso, para Natty, o texto Sonhos Verdes é assim intitulado por envolver uma pessoa de tenra idade, com uma ambição vital que se mantém imarcescível enquanto não for realizada. É como quem diz que “a esperança é a última a morrer”.

Na verdade, “eu gosto muito dessa obra porque revela claramente que se os jovens não forem inactivos e néscios podem ajudar de diversas formas a família, evitando uma série de situações malé ficas na sociedade como, por exemplo, a mendicidade dos idosos e a marginalidade das crianças que alimenta a criminalidade”, considera a autora.

Num outro desenvolvimento, a artista considerou que, para si, “o mérito da obra não reside nos valores monetários que recebi mas na contribuição que confere desenvolvimento à literatura moçambicana, assim como à escala planetária”.

Outro aspecto não menos importante é que é de praxe que, a par dos documentários que a cineasta realiza, se desenvolvam textos poéticos a resumir a história. Foi nesse sentido que se criou Sonhos Verdes que é uma obra que possui uma música interpretada por Miguel Xabindza.

Johana, uma história familiar

Natércia Chicane é, igualmente, autora do documentário Johana. O enredo que revela o quanto a falta de emprego em Moçambique debilita o povo. Os moçambicanos emigram para a África do Sul à procura de melhores condições de vida.

Alguns não regressam, mas dentre os que regressam, se não estão mortos, então voltam falidos. Ou seja, os objectivos planeados nem sempre são alcançados. E quando isso acontece a mulher, sozinha, é que lidera o rumo da família.

Partindo do princípio de que, conforme diz, para si, o cinema é uma forma de contar a nossa história, representando os fenómenos sociais, questionámos à nossa interlocutora sobre se não seria oportuno que se mostrasse através do cinema os feitos da mulher em actividades diferentes da agricultura, do comércio como, por exemplo, nas áreas de engenharia.

Para Chicane, Johane é “uma história que todos conhecemos. Não há ninguém que não conheça um vizinho e/ou um familiar que não tenha passado por situações desta natureza. Eu, por exemplo, documentei essa narrativa porque tive essa experiência.

O meu pai foi trabalhar na África do Sul, onde adoeceu e acabou por encontrar a morte. Na região onde eu vivo tenho muitos vizinhos que passaram por situações parecidas. Por isso, o documentário é marcante”.

Vale a pena a firmar que, apesar de tal documentário representar situações vividas por muitos moçambicanos, a artista não se limitou em fazer retratos baseadas em observações subjectivas mas fez uma pesquisa que se baseou na colecta de experiências das famílias que tiveram um ente querido perecido na África do Sul ou que se tenha desviado dos seus objectivos, assim que chegou à terra do Rand, deixando a sua família desamparada.

“As mulheres, com que trabalhei, contaram-me as soluções que engendraram para garantir a educação dos lhos, mesmo sem o apoio dos maridos”. Como tal, “não podia inventar soluções para os problemas com que elas se debateram, mas reportar os mecanismos que lhes asseguraram algum sucesso diante das di ficuldades que enfrentaram”, a firma.

Ou seja, “o mais importante, em tudo, é que as mulheres que perderam os seus maridos na África do Sul não se deixaram abater, muito pelo contrário, lutaram para sustentar e educar os seus lhos”.

Tribo Chicane

Além do consagrado artista plástico moçambicano Chicane, já perecido, há uma tribo de artistas com o mesmo nome que se impõe no cenário artístico moçambicano. Tela Chicane, Yolanda Chicane, respectivamente, poetisa e cantora de que já falámos, e a realizadora Natty são apenas alguns exemplos. Provavelmente existam mais. O que não se sabe ao certo é a relação que se tece entre eles: consanguinidade ou se possivelmente tenham um ancestral comum. E se for o caso, quem será?

Pelo menos em relação a Tela Chicane, sabe-se que Natércia tem uma relação de irmandade. No entanto, em relação à Yolanda, da Banda Kakana, Natty nada mais sabe dizer além de que a cantora é muito parecida com uma suposta sua prima.

O que é facto é que os Chicanes provêm da província de Maputo, mais concretamente no distrito de Marracuene. Talvez, a rede social Facebook onde muitos dos Chicanes se encontram cadastrados pode ser uma ferramenta útil para desvendar o segredo.

Sonhos

Entretanto, porque trabalhar e produzir arte, cinema e cultura são os desideratos que conduzem as acções de Natty, presentemente a artista, que prepara o filme Nas Entrelinhas da Vida, alimenta a utopia de fundar uma produtora cinematográ fica privada.

“Eu quero empenhar-me mais ao trabalho. O que sei até os dias que correm é pouco. Gostaria de aprender mais”, considera ao mesmo tempo que acrescenta: “acredito que a formação não basta para se ser (um bom) realizador. É necessário que se trabalhe todos os dias de forma profunda com o cinema. Por isso, para mim, a única forma de labutar com profundidade é ter uma empresa pessoal. Dedicar-me-ia mais”.

E porque sonhar é um fenómeno de acção livre ao qual não se recusa a ninguém, Natty a firma que pretende “juntar os meus textos e publicar um pequeno livro”. Mas, o mais importante em tudo, “é que quero ser feliz”. É assim que com a sua escrita miúda e premiada Natércia Chicane se a gura uma mulher cineasta, poetisa, gloriosa e sonhadora.

Prémio Nósside

De acordo com o presidente fundador do Prémio Mundial de Poesia Nósside, Pasquale Amato,“o Nósside é um projecto global fundado em 1983 e dedicado à poetisa Nósside de Locri, do século III a. C, que tem por logótipo uma obra do mestre futurista Umberto Boccioni, de Reggio Calábria, inspirada no mundo grego que se adorna por meio de uma preciosa criação em prata executada pelo ourives Gerardo Sacco, de Crotone, para o vencedor absoluto”.

Acredita-se que “é a magia da palavra na Poesia Escrita, fascínio da imagem do vídeo e da computação grá fica na poesia em vídeo, sugestão da música ladeada pela palavra na Poesia em Música”.

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