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Natikiri: Onde a insegurança pública mora

Natikiri: Onde a insegurança pública mora

O clima de tensão caracterizado pelo medo e insegurança pública que se vive a nível das comunidades do bairro de Natikiri, no posto administrativo com o mesmo nome, algures na cidade de Nampula, é o reflexo da incapacidade das autoridades policiais de acabar com a desordem protagonizada pelos membros do policiamento comunitário local. Ao invés de velar pela tranquilidade e segurança das pessoas, a polícia comunitária realiza assaltos a residências e agressões à cidadãos indefesos na via pública. As lideranças do bairro tentaram, sem sucesso, reestruturar o patrulhamento. Em resposta, o “comandante” do grupo ameaçou a chefe do posto administrativo e o secretário do bairro de morte.

Passear durante a noite no bairro de Natikiri tornou-se muito arriscado, nos últimos quatro meses. Os agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) e os membros do policiamento comunitário fazem patrulhas, mas eles não garantem a segurança da população, pois eles dedicam-se a actos de extorsão contra os munícipes.

António Freitas, de 34 anos de idade, disse ao @Verdade que há duas semanas foi molestado por um grupo de membros do policiamento comunitário, tendo-lhe sido arrancados dois mil meticais e dois celulares. “Quando me pediram para parar, exigiram documentos de identificação. Entreguei o B.I e obrigaram-me a tirar a carteira. Na tentativa de perguntar o objectivo, eu recebi bofetadas e caí no chão. De seguida, eles vasculharam os bolsos, tendo levado tudo o que tinha”, explicou.

O nosso interlocutor afirmou que outras pessoas são agredidas nas imediações da linha férrea. Nos últimos três meses, pelo menos duas pessoas foram encontradas mortas presumivelmente vítimas de agressões físicas. Em consequência disso, as pessoas são obrigadas a recolher cedo aos seus aposentos. Os criminosos são, na sua maioria, jovens e residentes de Natikiri.

Para Victor Francisco, residente de Natikiri, na eventualidade de algum morador denunciar tais casos junto dos agentes da PRM é-lhe exigido “refresco” como condição para a detenção dos assaltantes. O cidadão disse que há colaboração efectiva entre a Polícia e os membros do policiamento comunitário.

Na verdade, segundo as fontes, os agentes da lei e ordem afectos ao posto policial de Natikiri subordinam-se à polícia da comunidade, porque a área é supostamente controlada por eles. No período da noite, eles roubam e dividem os bens com os colegas da PRM, relegando para último plano a segurança das pessoas.

Falsos mototaxistas

Jacinto de Castro, de 41 anos de idade, disse que aquela zona residencial está a registar um crescimento significativo e, em resultado disso, muitos cidadãos estão a erguer moradias e outros empreendimentos económicos. Contudo, os gatunos deitam tudo a perder porque se apropriam dos materiais de construção. A zona em expansão é a que regista casos de furtos com frequência.

Castro fez saber que, para lograr os seus objectivos com facilidade, os malfeitores usam motorizadas de indivíduos que se fazem passar por operadores de mototáxi em conluio com os membros da corporação e da polícia comunitária.

Os dirigentes a nível da corporação continuam a fazer vista grossa perante a insubordinação dos seus agentes. As fontes consideram que o enriquecimento ilícito fala mais alto. Alguns cidadãos são assaltados no mercado grossista da Resta em plena luz do dia sob o olhar impávido dos agentes da lei e ordem.

“Os agentes da Polícia não fazem nada contra os malfeitores, porque depois eles dividem o dinheiro resultante dos assaltos. Os membros do policiamento comunitário é que ordenam a realização das actividades operativas”, disse o morador Lazário João.

@Verdade soube que a chefe do posto administrativo de Natikiri já tentou reestruturar o Centro Comunitário de Segurança para colocar pessoas que gozam de certa confiança da população, mas tal não sucedeu porque o comandante da “quadrilha” comunitária que responde pelo simples nome de Abdul recusa abandonar o cargo alegadamente porque é vitalício.

Devido à tentativa de remover os membros do policiamento comunitário, a chefe do posto e o secretário do bairro de Natikiri já foram ameaçados de morte.

“A Frelimo quer frustrar o nosso plano de governação”

As novas autoridades político-administrativas do bairro entendem que os membros do policiamento comunitário estão a ser usados pelos militantes da Frelimo a fim de descredibilizarem o trabalho dos novos gestores municipais eleitos pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

O secretário do bairro de Natikiri, Chaquil Raimundo Soloa, sustenta que se houvesse interesse por parte das autoridades policiais de acabar com as ondas de assalto e agressões a cidadãos na via pública, tal já teria sido materializado.

De acordo com Soloa, a população já pediu a solução do problema, mas em vão. Além disso, a situação é do conhecimento do antigo comandante provincial da PRM de Nampula, Alfredo Mussa. Quando confrontado com o problema, ele garantiu que iria resolvê-lo, porém, as promessas não passaram de miragem, uma vez foi transferido para a cidade de Maputo.

Segundo os residentes daquele ponto do país, os desmandos estão a registar-se a partir da tomada de posse dos novos dirigentes da autarquia e momentos depois de se ter feito a reestruturação das lideranças comunitárias.

Num outro desenvolvimento, Soloa disse que o Governo da Frelimo prefere manter os mesmos membros do policiamento comunitário, para satisfazer interesses partidários. A infra-estrutura onde funcionam os agentes da PRM e os comunitários é usada pelos membros do partido para a realização de reuniões do partido, o que é ilegal.

Miguel Bartolomeu, porta-voz do Comando Provincial da PRM em Nampula, disse que a 1ª Esquadra é que estava encarregada de resolver o problema, através da reestruturação da polícia comunitária. Cabia também àquela subunidade policial a responsabilidade de afastar os indivíduos que semeiam o terror e o medo no seio das populações, o que até este momento não está a acontecer.

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