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ISTO É: Não te cales!

Uma poetisa moçambicana admirável, Márcia dos Santos, ou simplesmente Rinkel, como prefere que lhe tratem nas lides da literatura, impele-me a tomar uma postura. “Não te cales”, exorta-me para, instantes depois, sentenciar: “Diz/ Fala/ Grita/ Mas nunca te cales”.

Sou amante de vários temas – organizações, literatura, ciências sociais, artes e cultura no geral – e se, efectivamente, como Maria Antonieta Rabeil Correla afirma, “as organizações são criações humanas geradas para produzir o bem-estar na sociedade e para satisfazer as necessidades das pessoas e grupos que habitam o mundo social”, longe de qualquer romantismo, vou abordar o assunto sob o ponto de vista do caos, da crise, da instabilidade. Só não me vou calar.

No ano passado, altura em que escrevi este texto – estou a falar sobre as organizações – Roberto Porto Simões, autor de Relações Públicas – Função Política, convenceu-me de que “Ao reflectir sobre a premissa de que o conflito sobre a organização e o seu público é algo sempre eminente, infere-se a probabilidade de essa relação comportar dois estágios alternáveis: com conflito e sem conflito”.

Trata-se de um evento que se inaugura numa situação de aparente satisfação geral. Ou seja, no primeiro nível (de acordo com Simões, os níveis do problema são dez, mas esse é outro assunto) “a organização e o público se relacionam bem.

Tudo o que ela faz é bem aceite pelo seu interlocutor. Não há qualquer tipo de reacção contrária, quer porque a acção organizacional ocorre em sintonia com os interesses do público, quer porque esse não está consciente dos factos contrários aos seus interesses, ou porque até mesmo desconhece os seus direitos” (Sic.).

Entretanto, apesar da aparente estabilidade que se assiste entre determinadas organizações e os seus públicos, (no meu jeito extremista, como interpreto a vida – o que não significa que eu vivo intensamente) diria que se trata de uma precariedade, a qual, em todas elas, carece de um trabalho – intenso e contínuo – de Relações Públicas.

Richard H. Hall, autor da obra Organizações – Estruturas, Processos e Resultados –, não permite que eu me equivoque. O seu livro é o maior que já li sobre o assunto, por essa razão permitam-me que o rotule bíblia das organizações.

Diz ele que “As organizações são dotadas de capacidade para fazer um grande bem ou um grande mal. (…) Estudamos organizações porque elas produzem impactos. Elas não são objectos benignos. Elas podem disseminar o ódio, mas também salvar vidas e, talvez, almas”.

Em tudo isso, o que me encanta neste assunto é a forma como – em Organizações – Estruturas, Processos e Resultados –, se aborda o tema com particular destaque para a maneira simplista, quase trivial, de responder à difícil questão “Porque temos organizações?”.

“A resposta é simples: Para que as coisas sejam feitas. Temos organizações para realizar tarefas que indivíduos não podem desempenhar sozinhos”. Explicando-se em outras palavras, a sua existência fundamenta- se no facto de que “As organizações constituem a resposta”.

Compreenda-se, então, que no nosso mundo contemporâneo nenhum processo – desde o nascimento até a morte dos homens – está inume da acção das organizações. Ganhar a consciência disso tem uma importância vital nas relações humanas, incluindo as inter-organizacionais.

Na compreensão desse papel holístico das organizações, no desenvolvimento social, posso, agora, introduzir a questão que fundamenta todo o palavreado até agora exposto.

Como é que os amantes, os produtores, os promotores, os consumidores, os mecenas culturais e todos os que constituem a matriz de relacionamento no contexto da produção, promoção e consumo dos objectos artístico-culturais no país, neste ano novo, se irão comportar para o desenvolvimento do sector das artes em Moçambique?

Será que nós, os moçambicanos, continuaremos a ser os que menos exportam a produção local e mais importam – e, por isso, pagamos muito caro aos actores internacionais, em detrimento dos nossos – mesmo no sector de actividades culturais?

Tudo depende da forma como nós, os moçambicanos, faremos as nossas organizações agirem e funcionarem ao longo do ano.

Sobre a importância da produção artística, Harold Osborne expressa uma posição ímpar e clara. Considera ele que “as artes plásticas e a literatura – aqui permitam-me incluir o teatro, o cinema, o canto e a dança, etc. – têm o propósito de melhoria social e moral, aspirando ao ideal”.

Em virtude de tudo isso, do reconhecimento do papel que jogamos para a materialização do desenvolvimento artístico-cultural, no país, reafirmamos a nossa vontade de divulgar e promover os artistas nacionais e a sua produção.

Quero, por fim, reconhecer – como Richard H. Hall atesta – que “As pessoas têm um interesse económico óbvio nas organizações em que trabalham, pois elas afectam o bem-estar económico dos trabalhadores e, portanto, dos seus dependentes”. Isso equivale o mesmo que concentrar-se “em factores como moral e satisfação desviam a atenção do facto de que os factores económicos constituem a preocupação central para dirigentes e trabalhadores”.

Portanto, como admoesta Rinkel, quando o assunto compromete o nosso desenvolvimento colectivo – por causa de acções individuais e egoístas – “Diz/ Fala/ Grita/ Mas nunca te cales”.

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