A cidade de Nampula enfrenta sérios problemas no tocante a infra-estruturas desportivas, facto que tem influído de forma negativa na massificação de algumas modalidades, ainda que haja vontade por parte dos promotores de ver o problema resolvido. A situação é mais gritante nas zonas suburbanas, onde é visível a inexistência de campos para a prática do desporto.
Das poucas infra-estruturas existentes até ao início do actual mandato de Castro Namuaca, edil de Nampula, algumas, de noite para dia, transformaram-se em mercados, e outras foram cedidas a terceiros para a construção de habitações, centros turísticos, mesquitas, estabelecimentos comerciais, etc.
Hoje, os bairros existentes na cidade de Nampula não dispõem de espaços para a prática de desporto, sobretudo para o futebol, onde, em tempos idos, quase todos tinham campos, facto que permitiu o surgimento de vários talentos que marcaram a história do futebol moçambicano, com destaque para Paulito, Babai, Duda, Zé Augusto, Mabero, Rui Évora, Aly e Sataca.
Por outro lado, persiste ainda uma manifesta invasão dos campos por parte da população, que constrói residências ou transforma-os em mercados, com a conivência de alguns secretários de bairros e quadros seniores do município.
No que diz respeito às zonas de expansão, o cenário não é diferente, embora existam, de forma isolada, áreas para a prática de actividades desportivas. Aliás, dos planos de ordenamento territorial lançados até finais de 2011, apenas o bairro de Marrere-expansão é que incluiu zonas para tal.
Os amantes de modalidades que são praticadas em pavilhões como o são os casos do basquetebol, andebol, patinagem e futsal, só podem recorrer ao Clube Ferroviário de Nampula, que possui dois espaços, nomeadamente o Pavilhão dos Desportos e o Campo Polivalente, vulgarmente conhecido por Campo Velho. Todavia, existem outras infra-estruturas deste tipo, como, por exemplo, o campo da Escola Secundária de Muatala, bem como o próprio Campo Verde do Conselho Municipal.
“O governo provincial nunca se mostrou disponível para a resolução deste problema”, João Salatiel, presidente da associação provincial de voleibol
Contactados pelo @Verdade, alguns desportistas, com particular atenção aos da modalidade de salão, confessaram ser quase impossível a utilização dos locais acima mencionados devido à burocracia. João Salatiel, presidente da Associação Provincial de Voleibol, a única modalidade que honrou a província com a conquista do Campeonato Regional da Zona 6, mostrou-se indignado com a situação precária a que Nampula está votada.
“Temos muitos problemas para praticar o voleibol em Nampula, sobretudo quando se trata de massificação. Por falta de campo, somos obrigados a recorrer ao Salão Verde do Conselho Municipal de Nampula, que nem sempre tem estado à disposição devido ao facto de acolher diversas cerimónias da edilidade.
O campo da Escola de Muatala, por sua vez, nos obriga a ter transporte de modo a movimentar os atletas e técnicos até lá” disse a fonte, para a seguir acrescentar que “a equipa da Autoridade Tributária, aquela que vai representar o país no Campeonato Africano de Egipto, só para treinar, os atletas e a equipa técnica são obrigados a deslocar-se todas as semanas à vila de Namialo, que dista cerca de 90 quilómetros da cidade capital, cujo transporte é pago pelos próprios atletas”.
Salatiel afirmou ainda que “tentámos várias vezes entrar em contacto com o governo provincial, através da Direcção Provincial da Juventude e Desportos, no sentido de prestar algum apoio, através do Fundo de Promoção Desportiva, ou mesmo uma intervenção para que seja possível a utilização do Pavilhão dos Desportos, mas debalde. Ele nunca se mostrou disponível”.
“Os clubes só priorizam o futebol”,
Carlos Tomo, basquetebolista Por sua vez, Carlos Tomo, basquetebolista, revelou que a falta de infra-estruturas desportivas na cidade de Nampula “é agravada pelo facto de alguns clubes históricos da província, com destaque para o Benfica e Sporting, estarem apenas a dar prioridade ao futebol, relegando para último plano as modalidades de salão”. Aliás, eles dispõem de campos para a prática do desporto de salão, faltando apenas efectuar algumas obras de reabilitação.
“Temos sérios problemas de campos de basquetebol. Os poucos salões existentes não têm tabelas e outros precisam de intervenções profundas. O Pavilhão dos Desportos é o único local com condições para a realização de competições, porém, para a nossa tristeza, tem sido ocupado para eventos que só geram receitas para o município.
Por outro lado, sentimos que não há abertura do governo provincial para massificar o basquetebol, a partir da própria Direcção Provincial de Juventude e Desportos, que por várias vezes recusou falar sobre o assunto”, declarou ao @Verdade Carlos Tomo, para a seguir sentenciar: “Não vamos acabar com o basquetebol, continuaremos a explorar os poucos recursos de que dispomos para tornar esta modalidade possível”.
Importa referir que, ainda neste ano, a cidade de Nampula ficou com menos duas infra-estruturas desportivas, nomeadamente o campo polivalente de Napipine, que acolhia actividades de massificação para as modalidades de salão, e o campo de futebol (de onze) do Bairro de Muatala. Os referidos recintos ficaram parcialmente destruídos devido às intensas chuvas que se fazem sentir um pouco por todo o país.
O Centro Hípico, localizado algures do bairro de Carrupeia, propriedade da Polícia da República de Moçambique, foi encerrado e transformado em centro policial, enquanto o campo de treino da extinta equipa do Estrela Vermelha tem sido “engolido” por construções de barracas.
Campo Municipal sem condições para acolher provas de alta competição
O único campo municipal de que a edilidade dispõe, o Estádio 25 de Setembro, que acolhe as provas de atletismo, encontra-se em elevado estado de degradação e sem condições para receber qualquer que seja a prova de alta competição. Ainda assim, porque “na falta do melhor o pior serve”, como diz o adágio, o mesmo recinto tem sido palco do Campeonato Provincial de Futebol, vulgo Nampulense, e algumas provas de atletismo.
Num passado recente, o próprio município surgiu publicamente a revelar que dos estudos feitos com vista à reabilitação desta infra- -estrutura desportiva, ficou concluído que o custo ultrapassava a sua capacidade, tendo deliberado, no lugar de uma reabilitação, a entrega daquele espaço em troca da construção de um novo estádio.
Obras de construção do novo campo municipal a meio gás
No acto do trespasse do Estádio 25 de Setembro ao Grupo Royal Plastics, foi lançada em Agosto de 2010 a primeira pedra para a construção do novo campo municipal, localizado a cerca de 10 quilómetros da cidade de Nampula, na estrada que liga Nampula aos distritos de Angoche e Moma. Na verdade, as obras só arrancaram noventa dias depois, cujo término estava previsto para Agosto de 2012.
A inauguração estava marcada para 22 de Agosto do ano passado, nas festividades do dia da cidade, evento que não chegou a acontecer. Na visita efectuada pela nossa equipa de reportagem ao local, ficou claro que está apenas concluído o campo polivalente, decorrendo, neste momento, obras de acabamento da tribuna de honra, bancadas, balneários, restaurantes e do parque de estacionamento.
