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SELO: Não se faz revolução verde com tractores agrícolas parqueados ou a recolherem lixo urbano, escrito por António Lagres

Caros leitores,

Durante os últimos anos ouvimos dos analistas, políticos, dirigentes, académicos entre outros a falar da estratégia da revolução verde. Dada a salutar diversidade de posicionamentos gostaria neste artigo de deixar ficar minha opinião sobre o debate em causa.

A Estratégia da Revolução Verde dá-nos uma oportunidade de pela primeira vez realizarmos o que escrevemos como políticas. Se bem entendi (porque li), este documento segundo a DNER (2008) é, uma busca de soluções para incrementar os níveis de produção e produtividade agrária através do uso de sementes melhoradas, fertilizantes, instrumentos de produção, tecnologias de produção adequadas à realidade local, mecanização agrícola, incluindo a tracção animal, construção e exploração de represas para a irrigação e para o abeberamento de gado, entre outras acções. Por outro lado, o resultado 1.7 do pilar 1 do PEDSA diz: aumentada a mecanização agrária e o uso de tecnologias eficientes Estratégias. Notem que, trago duas citações que falam de mecanização agrícola.

Ora vejamos:

(1) Será que mecanização agrícola é apenas comprar tractores agrícolas e alocar a leigos e com apenas um discurso de entrega (nos médias) acompanhado de abertura de garrafas de champanhe, cantos e ilulus de agradecimento?

Não senhores. E muito mais, como (1) seleccionar beneficiários viáveis, (2) desenvolver o respectivo plano de exploração, (3) alocar máquinas com implementos que são necessários para o beneficiário, (4) adquirir máquinas e implementos com sobressalentes disponíveis no mercado, (5) treinar os beneficiários em matérias relacionadas com a gestão e manutenção dos equipamentos e entre outros treinos e (6) elaborar critérios de alocação destes bens.

Muitos destes tractores agrícolas foram adquiridos na melhor das intenções (mesmo sem um plano de exploração) de responder a estratégia de revolução verde “propagada pelo Presidente Armando Emílio Guebuza” e implementada de forma desintegrada pelos seus puxa-sacos. Estes tractores que deveriam participar do processo de aumento de áreas de produção agrícola e transporte de produtos agrícolas e outros bens em locais de difícil acesso, mas muitos deles (se não a maioria) trabalharam para outros fins.

Tenho visto um pouco por todo o país tractores parados nas sedes das localidades, postos administrativos, ou administrações distritais ou até nas residências das entidades máximas destes locais para poupar ou por avarias simples: pneumáticos furados e rolamentos gripados ou até por falta de combustíveis incluindo mini avarias que artesões locais podem resolver.

Com avarias (problemas) identificadas, mantem-se parqueados porque não há sobressalentes ou porque os agentes não têm postos de venda nas sedes de localidades, postos administrativos, distritos ou mesmo em algumas capitais provinciais. Intencional ou não o pessoal do procurmet (muita das vezes sem parecer técnico) entrega aos beneficiários o tractor mais barato e em algumas vezes material não adequado a realidade. Temos também visto, tractores agrícolas 4 X 4 para tirarem lixo nas cidades. Triste. Gastam tanta energia para nada e as cidades se mantem sujas. Este é outro assunto.

Isto leva-me a pensar que, como a oferta cai do céu para quem é criador de galinhas e nunca teve bois para fomento e recebe pela primeira vez na vida animais para tracção animal ou quem nunca teve animais para tracção e recebe tractores para agricultura, em fim, quem parte de bebé para idoso sem se ter sido adolescente e muito menos jovens não pode se beneficiar do que não capacidade de gerir. Sim quero dizer que estamos a dar osso (tractores) a bebes (beneficiários não preparados e sem capacidade de gerir), infelizmente isso estra a acontece.

Para mim os beneficiários de quaisquer coisa incluindo os 7 milhões “devem ser preparados para receber” ou seja, devem passar pelas metamorfoses necessárias; como por exemplo de burro para cavalo, de peão para velocípede, de amador para profissional ou ainda de júnior para sénior.

O que é comum nos nossos dias é ver beneficiários sem requisitos a pularem etapas importantes para o desenvolvimento e acabam crescendo por estiolamento. O que mais me inquieta neste momento é que continuam a alocar tractores agrícolas a quem nunca geriu avarias de uma motorizada ou mesmo de carroça com junta de bois sem nem pelo menos ter comparticipado nos custos de aquisição. Para tal não lhe faz diferença porque ele está a fazer um favor a quem lhe ofereceu, porque esta a cumpri com as metas de número de tractores entregues (mesmo que não estejam a funcionar).

Lamento também quando vejo tractores agrícolas a fazerem serviços de recolha de lixo urbano. Isto no mínimo é uma aberração, estamos a matar mosquitos com bazuca. Sim, estamos a desperdiçar tanta energia para nada, uma vez que o lixo urbano não tem tanto peso (apenas tem volume) que não cabe numa camioneta de 4 toneladas ou num camião de até 10 toneladas, por outro lado porque o custo de um tractor com os respectivos implementos é elevado quando comparado com o de aquisição de camionetas. Claro que os municípios podem ter alguns (um ou dois) tractores para actividades que necessitam realmente de força.

(2) Para o que serve um tractor agrícola? Será que o nome da máquina responde a minha questão?

Responde sim. Porque há tantos tractores agrícola nas cidades a recolherem lixo no lugar de abrirem áreas de produção agrícola.

Notem estas questões:

(1) Será que faz-se a relação custo-benefício ao usarmos o tractor agrícola a recolha de lixo ao invés de estar a trabalhar na agricultura?

(2) Será que há mais tractores agrícolas a trabalharem na agricultura do que na colecta do lixo urbano? Até que pode sim.

(3) Porque tanta potencia para tirar lixo ou invés de gastar essa energia toda para abrir campos de produção, numa altura que se elege o aumento da área para aumentar a produção e não aumentar a produtividade para aumentar a produção?

(4) Será que se tem tido em conta aspectos técnicos e económicos quando pensamos em comprar um tractor?

(5) Será que não é rápido (velocidade do tractor versus da camioneta) e mais barato (custos de combustíveis e manutenção) usar camionetas para recolha de lixo?

Não se faz revolução verde com tractores agrícolas parqueados ou a recolherem lixo urbano é o título que escolhi para o presente artigo de opinião como uma forma de protestar contra o mau uso e a subutilização dos tractores agrícolas no nosso país, sim…

Não tenho dados reais como o número de númeno de tractores agrícolas adquiridos no âmbito da revolução verde ou número de tractores agrícolas existentes a tirarem lixo urbano, mas penso que parte significativa destes foi adquirida com fundos do estado e foram alocados aos Serviços Distritais de Actividades Económicas; Localidades; Postos Administrativos; Administrações Distritais; Conselhos Municipais; associações de produtores agrícolas de jovens, de Mulheres, de antigos combatentes ou outros grupos associados.

Sendo a missão privilegiada dessas máquinas trabalhar para agricultura, mesmo que sejam alocados as entidades acima citadas, peço a quem de direito repense no que queremos e no que devemos fazer com estes tractores, precisamos de pô-los no respectivo sector e que comessem desde já a preparar a terra para produção agrícola.

Para mim, muitos técnicos e gestores do sector agrário andam distraídos e de gravata a repetirem o discurso do PR, ao invés de estarem a materializar os discursos, as estratégias, os planos e trazerem resultados.

Sendo um artigo de opinião espero ver outros debates sobre o assunto, ainda bem, leiam e respondam as questões laçadas acima, se poderem partilhem as mesmas pelo mesmo meio (jornal) ou email. Penso que há especialistas em mecanização agrícola que poderão ler este artigo, convido-os a apresentarem uma posição sobre a temática uma vez que estarão a contribuir para o bem do sector agrícola neste país e ajudaram na gestão destes meio tão importante para o sector.

Seja como for sugiro que não se comprem tractores com marcas desconhecidas e sem acessórios no mercado para não pararem por falta de assistência técnica ou acessórios, não aloquem tractores a pessoas antes de as treinarem para fazerem manutenção, não entreguem tractores a leigos sem que estes apresentem um plano de exploração ou estudos de viabilidades, muito menos pessoas com gestão doméstica e associativa baseada em afinidades e que não comprem tractores para tirarem lixo urbana, mas sim para actividades agrícolas, porque só assim estaremos a contribuir para a implementação da estratégia da revolução verde.

Vamos usar os tractores agrícolas para actividades agrícolas.

Um abraço.

 

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