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Nampula ainda com falta de infra-estruturas

A cidade de Nampula enfrenta, nos últimos tempos, sérios problemas relacionados com a falta de recintos desportivos, uma situação que compromete a massificação das várias modalidades praticadas naquele ponto do país. Alguns campos, sobretudo os que se encontram localizados nos bairros periféricos da cidade capital, estão a desaparecer de forma paulatina devido a vários factores, com especial atenção para a erosão dos solos e a invasão de populares que fixam residências e procedem a benfeitorias a seu bel-prazer.

O futebol (onze) é a modalidade mais sacrificada na cidade de Nampula, uma vez que é a que movimenta o maior número de atletas, arrastando consigo muita moldura humana. Esta situação está aliada à falta de acompanhamento por parte das entidades de direito, aquelas que, no lugar de dirigirem o desporto, o relegam para último plano.

O desaparecimento coercivo de recintos desportivos, neste ponto país, tem-se agravado a cada ano que passa devido ao crónico problema de erosão que surge em consequência das chuvas, como, por exemplo, as que assolaram a província nos passados meses de Janeiro e Fevereiro. Entretanto, depois de se assistir ao abrandamento deste fenómeno natural, não se verifica nenhum tipo de intervenção por parte das instituições de direito de forma a repor os solos.

À erosão junta-se a invasão desenfreada dos espaços desportivos por parte das populações que vivem nas proximidades dos campos, causado, por um lado, por falta de vedação e, por outro, pela anuência das próprias autoridades municiais que não delimitam as áreas nem as declaram recintos reservados à prática do desporto. Dos cerca de vinte campos que acolhiam partidas de futebol em diferentes bairros da cidade capital de Nampula, somente dez é que se encontram disponíveis, sendo que grande número destes está em estado altamente deplorável.

Os únicos recintos desportivos em bom estado e passíveis de serem utilizados na prática de futebol recreativo localizam-se no bairro de Muatala, com destaque para os campos de Texmoque, de Textáfrica, de Matchedje no bairro militar, Aeroporto e Namutequiliua no bairro Muhala-Expansão, este último que, recentemente, beneficiou de obras de reabilitação por parte da direcção do clube Sporting de Nampula.

Apesar das péssimas condições em que se encontram os campos, alguns núcleos criados nesses bairros têm-se desdobrado para movimentar os seus campeonatos. Aliás, algumas situações relacionadas com a erosão que afecta os recintos desportivos na cidade de Nampula têm sido minimizadas pelos próprios amantes da modalidade, que com enxadas e ancinhos tapam os buracos abertos pela chuva, sob o olhar atento de quem devia fazer o trabalho por eles.

Ainda na sequência desta reportagem, o @Verdade foi ao encontro de Tagir Samuel, secretário-geral a nível do futebol recreativo a nível da cidade de Nampula, que em 2010 remeteu ao Conselho Municipal e à Direcção Provincial da Juventude e Desportos de Nampula, uma carta na qual pedia, na sua qualidade de dirigente desportivo, que alguns campos fossem niveladas e vedados como forma de manter o controlo dos espaços. No entanto, soubemos dele que volvidos três anos, o assunto não teve resposta, ainda que o presidente do Conselho Municipal, Castro Namuaca, tenha voltado a falar deste assunto, em jeito de promessa, em 2011, durante uma visita efectuada ao sector do desporto da cidade.

“Até hoje continuamos a aguardar pela resposta. Caso esta conjuntura prevaleça, estamos todos cientes de que alguns bairros poderão ficar sem campos e, consequentemente, sem o futebol, sem o atletismo e outras modalidades que possam também usar esses espaços. Ainda que situações tais como a invasão dos recintos populares mereçam pronta resposta” disse a fonte.

No que diz respeito ao atletismo, sendo uma modalidade atrelada aos recintos onde se pratica o futebol, a nossa equipa de reportagem apurou que somente o campo Francisco Durão, do Benfica de Nampula, o do Ferroviário de Nampula e o Municipal 25 de Setembro estão em condições de acolher as provas.

No Futsal, os praticantes continuam a utilizar recintos pertencentes às instituições de ensino, nomeadamente das escolas secundárias 12 de Outubro e de Muatala, da Faculdade de Educação Física e Comunicação, da Universidade Católica de Moçambique, ainda que as duas primeiras estejam, neste momento, sem balizas, restando substituí-las por blocos de construção. A utilização do pavilhão do Ferroviário de Nampula, segundo apurámos, está reservada aos atletas que fazem parte do clube.

“Estamos ainda a trabalhar”

O @Verdade procurou, também, ouvir o governo provincial bem como o próprio Conselho Municipal acerca do cenário do desaparecimento de infra-estruturas desportivas de Nampula. No entanto, depois de várias tentativas, só foi possível manter uma conversa com Luís Massalo, director do Departamento Social, da Juventude e Desportos da mesma edilidade.

Confrontado com o cenário, o nosso interlocutor considerou que o actual estágio das infra- -estruturas desportivas em Nampula espelha a actual conjuntura socioeconómica desta cidade reconhecendo, por outro lado, que alguns casos carecem, de facto, de alguma intervenção a nível do município.

Falando especificamente dos recintos onde se pratica futebol, o nosso entrevistado frisou que o seu pelouro levou a cabo, recentemente, um levantamento do número de campos que foram assolados pelas chuvas de Janeiro e Fevereiro do ano em curso, com vista a ser efectuada uma reabilitação dos mesmos.

“A nossa margem de operação dependia necessariamente do calendário chuvoso. Temos, sim, um plano que visa a terraplanagem dos campos, como, por exemplo, o do Texmoque e do Textáfrica, todavia tivemos falta equipamento para a sua materialização” revelou, para a seguir acrescentar que “a nossa única motoniveladora está neste momento avariada. Mas assim que ela ficar pronta, o que está programado para breve, garantiremos a continuidade da prática desportiva na cidade de Nampula e naqueles dois recintos em particular, para onde, inclusive, já requisitámos as respectivas balizas”.

No que diz respeito à política pública para o desporto, empreendida pelo município, Luís Massalo avançou que, para colmatar a falta de espaços nesta cidade, a edilidade projectou para o presente ano a abertura de mais dois centros desportivos, um no bairro de Expansão e outro no bairro Marrere. “Estamos cientes de que continuamos a perder talentos que poderiam ajudar no futuro do desporto da cidade. Precisamos de massificar o desporto na sua generalidade, não só olhando para o futebol. Queremos, por outro lado, encurtar as distâncias percorridas pelos jovens para encontrarem um recinto desportivo condigno” declarou.

“À semelhança do projecto de nivelação dos campos, e enquanto aguardamos pela reparação urgente da motoniveladora, queremos também garantir o surgimento de mais núcleos desportivos com o apoio material do município” revelou o nosso interlocutor, esclarecendo, por outro lado, que nem todos os campos que sofreram erosão serão abrangidos pelas obras devido ao seu estado avançado de degradação, usando como exemplo o pavilhão de Napipine, onde a sua estrutura foi consumida quase que na totalidade pela fúria das águas em Janeiro último.

Quando confrontado com o assunto da usurpação dos recintos desportivos por parte de populares para a construção de residências, aliada à necessidade de vedar os mesmos, Massalo, escusou-se a comentar, limitando-se a dizer que “isso tem custos elevados e os nossos cofres, infelizmente, não permitem materializar tal actividade”.

Novo campo municipal (ainda) em “banho-maria”

No artigo publicado no jornal @ Verdade, na sua edição de 25 de Janeiro do corrente ano, intitulado “Nampula sem infra-estruturas desportivas”, pode-se ler o seguinte: “(…) num passado recente, o próprio município surgiu publicamente a revelar que dos estudos feitos com vista à reabilitação do Estádio 25 de Setembro, ficou concluído que o custo ultrapassava a sua capacidade, tendo deliberado, no lugar de uma reabilitação, a entrega daquele espaço em troca da construção de um novo estádio, (em que) no acto do trespasse ao Grupo Royal Plastics, foi lançada em Agosto de 2010 a primeira pedra para a construção do novo campo municipal, localizado a cerca de 10 quilómetros da cidade de Nampula, na estrada que liga Nampula aos distritos de Angoche e Moma. Na verdade, as obras só arrancaram noventa dias depois, cujo término estava previsto para Agosto de 2012”.

Dando sequência ao assunto, volvidos cinco meses, a nossa equipa regressou ao local da construção da obra. Todavia, debalde. Ainda continua um sonho a construção do novo campo municipal de Nampula, apesar do negócio feito entre a edilidade e o Grupo Royal Plastics que correu perfeitamente.

No entanto Luís Massalo, director do Departamento Social, da Juventude e Desportos do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, tratou de desvalorizar o assunto afirmando que a demora na entrega da mencionada infra-estrutura prende-se à burocracia ligada ao processo de importação de algum equipamento que deveria ser utilizado nas obras ora em curso.

“Tínhamos de importar parte do equipamento de alguns países asiáticos. Mas neste momento posso-lhe garantir que já terminaram as obras de construção do campo polivalente, estando-se, neste momento, na fase de montagem das bancadas centrais bem como da construção do respectivo muro de vedação” disse a fonte, para a seguir concluir que “segundo as nossas previsões, tudo estará concluído, provisoriamente, até finais do próximo mês de Setembro”.

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