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Mototáxis: Um perigo na via pública

Mototáxis: Um perigo na via pública

Nos últimos dias, a cidade de Nampula tem sido fustigada por uma onda de acidentes de viação envolvendo motociclos, sobretudo os mototáxis. Sob o olhar impávido das autoridades municipais, os mototaxistas protagonizam ultrapassagens irregulares e conduzem a alta velocidade, tornando as estradas sangrentas. Todas as semanas, pelo menos três pessoas perdem a vida devido à sinistralidade rodoviária.

Desde os meados de 2012 que a terceira maior cidade de Moçambique, Nampula, está abarrotada de mototaxistas, cuja actividade é exercida de forma ilegal – e também de maneira irresponsável – sob o olhar sereno das autoridades locais. Os referidos indivíduos apontam a falta de emprego e o elevado custo de vida como sendo as principais motivações. Estima-se que, a nível da urbe, pelo menos duas mil pessoas sobrevivem garantido o transporte de pessoas e bens a bordo de um motociclo de duas rodas. Até aos finais de Dezembro último, apenas cinco cidadãos dispunham de licenças para exercerem a actividade.

Nos últimos dias, os operadores de mototáxis transformaram as estradas numa autêntica pista de corrida. Desrespeitar os sinais de trânsito e cortar prioridade a outros veículos na via pública são as principais atitudes que caracterizam os praticantes desta actividade. Numa clara ignorância às instruções do fabricante das motas, tornou-se um acto normal transportar três passageiros numa motorizada com capacidade para levar apenas duas pessoas. Além disso, o mais grave é que, tanto o condutor assim como os passageiros não fazem uso do capacete, não obstante a fiscalização diária levada a cabo pela edilidade em parceria com algumas associações que trabalham em prol da redução da sinistralidade na via pública.

Segundo Sise Panguene, substituta do porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, tem sido difícil controlar a onda de acidentes de viação envolvendo os mototaxistas, uma vez que a cada dia o número tende a crescer de forma exponencial. De acordo com a Polícia de Trânsito, em menos de seis meses mais de 20 cidadãos perderam a vida em consequência dos acidentes de viação envolvendo aquele tipo de transporte e um total de 17 contraíram ferimentos, dentre graves e ligeiros, em resultado de mais de três dezenas de sinistros.

Os dados fornecidos pela Polícia dão conta de que mais de 500 motociclos foram parqueados no comando da PRM, devido a não observância das regras de trânsito, em resultado de diversas campanhas de fiscalização, realizadas a nível da província de Nampula. “Aqueles cidadãos pontapeiam as regras de trânsito nos locais onde é expressamente proibido conduzir em excesso de velocidade, nomeadamente escolas, mercados, hospitais, entre outras instituições públicas onde se regista afluência de pessoas, com destaque para crianças”, disse Panguene.

“Excesso de velocidade incrementa o lucro”

Os mototaxistas disseram ao @Verdade que a velocidade é uma estratégia para ganhar mais dinheiro em pouco tempo. Ou seja, a rapidez faz com que o motociclista lucre duas vezes mais em relação a quem decide respeitar os limites impostos pelo código de estrada. Abdul Daniel, de 36 anos de idade, morador do populoso bairro de Namicopo, arredores da cidade de Nampula, é mototaxista há mais de seis meses. Pai de 14 filhos, viu naquela actividade uma oportunidade para garantir o sustento diário do seu agregado familiar composto por 16 pessoas.

Ao longo do período em que se encontra a trabalhar, viu grande parte dos seus colegas de profissão ser impossibilitada de exercer a actividade, devido às sequelas causadas por acidentes de viação. “Eu já presenciei casos de sinistralidade rodoviária envolvendo mototáxis. Alguns dos meus colegas morreram em consequência disso”, contou Daniel, tendo sublinhado que ele conduz com prudência para salvaguardar a sua vida e a dos passageiros.

Daniel afirmou ainda que o elevado índice de sinistralidade rodoviária envolvendo as mototáxis tem a ver com a desenfreada disputa pelos clientes. Essa particularidade é notável nos adolescentes que, por sua vez, pensam que conduzir devagar é um atraso e perpetua a pobreza. Por outro lado, o nosso interlocutor disse que por vezes são os próprios passageiros que exigem ao condutor que acelere o veículo. Como forma de garantir a clientela, a única saída tem sido exceder o limite de velocidade.

Situação similar vive Molde Juma, de 21 anos de idade, moto-taxista há mais de um ano. A luta pela sobrevivência fê-lo abandonar os estudos para exercer aquela actividade que vai tomando de assalto a cidade de Nampula. Juma contou que já viu mais de cinco colegas que circulam pelo mesmo local a envolverem-se em acidentes de viação, devido a ultrapassagens perigosas. O nosso entrevistado reconheceu que o número de acidentes na via pública ganhou contornos alarmantes com o surgimento do negócio de mototáxis. “A forma de conduzir uma motorizada depende de cada um. Não são todos os taxistas que ignoram as regras de trânsito”, disse.

“A culpa é da edilidade”

Em contrapartida, os mototaxistas atribuem a culpa às entidades municipais pelo facto de estas dificultarem o processo de licenciamento dos motociclos. A proposta da edilidade para o licença de mototáxis, que redundou em fracasso, custaria aos bolsos dos operadores cerca de mil meticais, valor que, segundo eles, constitui um roubo, uma vez que a receita de um mototaxista é relativamente reduzida.

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