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Mortalidade materna e neonatal ainda é problema sério

A mortalidade materna e neonatal ainda constitui um “sério problema” de saúde pública em Moçambique, revela um estudo intitulado “Avaliação de Necessidades Para Saúde Materna e Neonatal”, divulgado na segunda-feira, em Maputo, pelo Ministério da Saúde (MISAU).

O estudo, realizado entre Novembro de 2006 e Outubro de 2007 e cujo objectivo era avaliar as necessidades para a saúde materna e neonatal no país, indica que, no referido período, o número de mortes maternas foi de 1.398, incluindo os óbitos ocorridos nos centros de saúde e hospitais. “Mas há também casos não reportados e processos em falta nas unidades sanitárias”, adiantou, Leonardo Chavane, Director Nacional de Saúde Pública, instituição do MISAU responsável por este estudo.

Chavane falava durante a apresentação do documento que também tinha em vista avaliar os níveis de mortalidade materna e neonatal, os níveis de cobertura dos cuidados obstétricos e do recém-nascido, bem como a disponibilidade de comodidades e recursos humanos para os cuidados de emergência. Segundo a fonte, o rácio da mortalidade materna institucional foi de 473 óbitos em cada cem mil partos registados, sendo o caso mais preocupante na província central de Tete, onde o rácio foi de 984 casos.

A situação também e’ preocupante na cidade de Maputo, onde o rácio é de 1019 óbitos em cem mil partos. Entretanto, esta situação é considerada particular tendo em conta que, devido a inexistência de um hospital de referência na vizinha província de Maputo, os casos complicados são atendidos na capital do país. Outro caso preocupante é o facto de dois por cento das mortes maternas serem de pessoas com menos de 15 anos de idade. Contudo, o grupo etário mais afectado é o de 20 a 24 anos de idade, que compreende a 28,3 por cento dos óbitos.

Mais da metade (54 por cento) das mortes maternas ocorrem no período desde as 28 semanas de gravidez até as às primeiras 24 horas depois do parto, enquanto 62 por cento ocorre durante as primeiras 24 horas após a entrada da parturiente na unidade sanitária. O relatório aponta a rotura uterina (28,7 por cento), hemorragia pós-parto (12,2 por cento), hemorragia ante-parto (7,5 por cento) como algumas das causas directas dessas mortes, sendo, dentre várias, o HIV/SIDA (com 53,7 por cento), malária (39,6 por cento) e doenças cardíacas (3 por cento) as principais causas indirectas dessas mortes.

O estudo faz também referência ao que se consideram factores dessas mortes maternas, apontando-se, nesse caso, a chegada tardia da parturiente nas unidades sanitárias, atraso na assistência médica adequada, falta de recurso, entre outros. Sobre as mortes neonatais, o estudo refere o registo de 2.484 óbitos durante o período em análise, o que corresponde a um rácio de óbitos neonatais de 7,9 em cada mil nascimentos institucionais. A prematuridade (com 50 por cento) e asfixia grave (32 por cento) são as principais causas de mortes neonatais.

Na componente de cobertura dos cuidados obstétricos e ao recém-nascido, o estudo indica que, durante o período em análise, o país tinha apenas uma cobertura mínima de cuidados obstétricos de emergência básico de 38 por cento e uma cobertura mínima de cuidados obstétricos de emergência completa de 80 por cento. “Um quarto dos hospitais avaliados não oferece cuidados obstétricos de emergência completos.

Na sua maioria, foram hospitais rurais, onde, regra geral, faltavam apenas uma função vital que ainda não tinha sido desenvolvida nos últimos três meses anteriores a avaliação”, lê-se no relatório. Outra relevação do estudo é o facto de apenas 17 por cento dos partos esperados em Moçambique terem ocorrido em unidades sanitárias classificadas como provedoras de cuidados obstétricos de emergência. Intervindo após a apresentação do estudo, o Ministro da Saúde, Ivo Garrido, considerou essas conclusões difíceis de serem assumidas, mas importantes para como evidências da realidade do país e para permitir estabelecer prioridades do sector nos próximos anos.

“Foram aqui reveladas situações difíceis de engolir para um decisor, um gestor. Mas são realidades do país, algumas relacionadas com a pobreza do próprio país, mas outras directamente ligadas ao Ministério da Saúde e que podem ser facilmente resolvidas… só precisam de algumas melhorias”, disse o governante, apelando a todos para que trabalhem no sentido de reparar os tais problemas fáceis de resolver. Garrido admite que as taxas de mortalidade materna e neonatal no país ainda são elevadas. Contudo, Garrido reconhece que apenas Africa do Sul e o Botswana superam Moçambique em termos de saúde materna e neonatal.

“Isso não pode nos servir de consolo…Estamos agora com 1.398 mortes maternas em cada cem mil. Há países onde a taxa de mortalidade é de cinco por cem mil. Então, nós ainda estamos longe, muito longe e o caminho a percorrer é longo”, sublinhou o governante.

Este estudo foi realizado por médicos gineco-obstretas, médicos pediatras, enfermeiros de saúde materna e infantil e técnicos sob a égide da Direcção Nacional de Saúde Pública, com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a População (FUNUAP), Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Programa de Prevenção da Mortalidade Infantil e Deficiência (AMDD).

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