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Moma pode tornar-se num deserto com a implantação da Kenmare

A sociedade civil e a população do distrito de Moma, província de Nampula, estão de costas voltadas com a empresa irlandesa Kenmare que se dedica à exploração de areias pesadas com destaque para Zircão, Ilminite e Rutilo. Em causa está a situação em que se encontram as terras onde são exploradas aqueles recursos minerais no posto administrativo de Tophito.

Nos locais explorados pela empresa desde que ela se implantou naquele posto administrativo  constata-se que nada está a ser feito no sentido de melhorar ou regenerar as áreas onde foram retirados os referidos recursos, o que faz com que grande parte da população e organizações da sociedade civil estejam preocupados com o futuro das zonas e de todo o distrito de Moma, visto que a segunda fase do projecto terá mais de 150 anos.

Apesar da existência de um plano desenvolvido em 2010 de reabilitação para a mina que presentemente está a ser implantado, foi criado um outro em consulta com as comunidades locais, e as suas contribuições foram incorporadas de acordo com o plano de 2011.

Segundo o relatório da Kenmare, na sua página 20, fornecida à Imprensa nesta quarta-feira na cidade de Nampula, a empresa contratou o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), sob supervisão da Golder Associates, para efectuar uma pesquisa para a reabilitação da terra. No entanto, antecipa-se no referido parágrafo que a parceria entre as Areias Pesadas de Moma ajudará na pesquisa e identificação das sementeiras requeridas, bem como transferência de conhecimentos para as comunidades locais sobre agricultura e uso sustentável da terra depois da reabilitação.

“Na verdade, estas informações contidas nos relatórios da Kenmare mostram um lado bom, mas na realidade não existe algo plausível que se pode esperar das zonas exploradas”, disse um cidadão natural do distritos de Moma que preferiu não revelar o nome com medo represálias.

António Mutoua, sociólogo e director executivo da Associação Nacional de Extenção Rural em Nampula, avança que caso as situações que se vivem no distrito de Moma sejam tratadas nos papéis e não na realidade nos locais onde as coisas acontecem, a situação pode vir a provocar uma catástrofe nos próximos anos.

Mutoua disse que nos locais onde foram explorados os recursos minerais é urgente a reabilitação dos solos para garantir que a situação não possa criar problemas de mudanças climáticas devido à exploração dos recursos do subsolo. O nosso entrevistado avançou ainda que com a exploração do zircao, ilminite e rutilo no subsolo o que resta na terra são areias que não têm potencialidade para a prática da agricultura o que pode levar a população à morte por causa da fome e da seca.

Momade Amade é outro cidadão natural do distrito de Moma, localidade de Tophito. Ele não acredita na regeneração do solo, senão na degradação e no surgimento de um deserto artificial. Diz ainda que o Governo, representado pelos ministérios dos Recursos Minerais e Agricultura, e as figuras da Frelimo estão a promover situações que só poderão trazer a miséria para a população dos distritos de Moma e Angoche, sobretudo a fuga de recursos humanos, e a falta de água potável que são alguns dos elementos básicos de selecção entre os recursos explorados.

Entretanto, Gareth Clifton, director residente da Kenmare em Moçambique, disse que como forma de evitar a situação aquele empreendimento está a promover um estudo em parceria com o Ministério da Agricultura para criar espaços que garantam a regeneração dos solos onde foram explorados os três recursos para que nos próximos tempos possam conseguir produzir mais comida, principalmente as hortícolas.

Gareth Clifton disse que há um plano de contingência aprovado pelo Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental que visa regenerar as terras onde foram explorados os recursos minerais. “As áreas que foram explorados e mineradas devem ser reabilitadas para que voltem a produzir”, disse.

O director residente da Kenmare em Moçambique fez saber que o referido plano teria começado no ano passado mas que não foi possível porque, segundo Clifton, esperam usar o laboratório do Ministério da Agricultura para certificar a qualidade da terra regenerada para o desenvolvimento da iniciativa e com vista a garantir as mesmas qualidades antes da exploração dos três recursos minerais.

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