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“Moçambique é um País tão importante para o Brasil que não há Governo nenhum que vá conseguir alterar a importância das relações”

“Moçambique é um País tão importante para o Brasil que não há Governo nenhum que vá conseguir alterar a importância das relações”

Foto de Adérito CaldeiraAinda não estava consumada a destituição da Presidente Dilma Rousseff quando o então Presidente interino do Brasil, Michel Temer, cancelou a doação de três aviões T-27 Tucano ao nosso País. “Moçambique é um País tão importante para o Brasil que não há Governo nenhum que vá conseguir, mesmo que quisesse, alterar a importância das relações”, assegura em entrevista ao @Verdade o embaixador do País sul-americano, Rodrigo Soares, e revela que “Moçambique é o maior beneficiário da cooperação brasileira no mundo”. Sobre a destituição de Dilma o diplomata afirma que “não chega a ser uma anomalia na democracia”.

As relações do Brasil com o nosso País remontam ao período colonial, “nós participamos da FACIM (que existe desde 1964) desde antes da independência” diz o embaixador Rodrigo Baena Soares precisando que as “relações diplomáticas foram estabelecidas em Novembro de 1975”.

“Nós participamos da 52ª edição da FACIM com 15 empresas, no ano passado tivemos dez, o que mostra que a confiança em Moçambique é irrestrita. Tivemos um grupo de empresas diversificado, de cutelaria, electrodomésticos, máquinas e suplementos agrícolas, medicamentos. A Eurofarma é uma super empresa farmacêutica no Brasil”, declara Soares em entrevista ao @Verdade acrescentando que o saldo de investimentos acumulados ao longo dos últimos 41 anos chega aos 10 biliões de dólares norte-americanos.

O diplomata brasileiro explica que depois de “uma primeira geração de investimentos na área extractiva e de construção civil” agora os investimentos estão muito diversificados numa perspectiva de longo prazo e com o objectivo de ajudar no desenvolvimento de Moçambique, não fazendo comércio mas criando empresas que criam postos de trabalho e geram rendimentos para os moçambicanos.

De acordo com o nosso entrevistado a principal contribuição do investimento brasileiro está na indústria extrativa do carvão, “com a presença da Vale, que futuramente vai explorar Moatize 2 que já está em construção, está a construir a linha-férrea e o porto (de Nacala). É a maior operação da Vale (do Rio Doce) fora do Brasil”.

Além disso o País sul-americano investiu, através de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil (BNDES), no aeroporto de Nacala, construído pelo grupo Odebrecht que tem ainda um projecto para o transporte urbano na capital moçambicana, o Bus Rapid Transport (BRT). “Temos a barragem de Moamba Major, que é um projecto da Andrade e Gutierrez. Existe também o interesse da Camargo e Correia em Mphanda Nkuwa, que está ainda longe, mas uma outra empresa do grupo, chamada InterCement, adquiriu a Cimentos de Moçambique” detalha Rodrigo Soares acrescentando que duas outras empresas brasileiras, o grupo Guarani e a Petrobrás biocombustível, têm participação na açucareira de Sena.

“Temos o grupo Top Down que está a fazer a informatização do Instituto da Previdência (INSS), temos um grupo de calçados a Ipanema, a família está aqui há mais de 20 anos, e representam duas grandes empresas brasileiras a Ipanema e o Boticário” refere o diplomata.

Fábrica de medicamentos é o símbolo da cooperação brasileira

Foto de Adérito CaldeiraEntretanto o embaixador do Brasil realça que o investimento mais importante do seu País em Moçambique é a fábrica de produção de medicamentos, inaugurada em 2012 pelo então vice-Presidente Michel Temer. “Nós investimos 12 milhões de dólares, sem contar as horas técnicas, sem contar as viagens de capacitação dos moçambicanos ao Brasil, só pela construção civil, os equipamentos. Essa fábrica é mais de medicamentos, embora se tenha dito que era para produzir anti-retrovirais. Ela produz cinco classes de medicamentos: contra a hipertensão arterial, doenças mentais, soro, e mais de quinze milhões de comprimidos”.

O entrevistado explica ao @Verdade que os anti-retrovirais só deverão começar a ser produzidos no final deste ano, “inicialmente pensou-se em fazer-se apenas uma fábrica de anti-retrovirais e isso foi evoluindo por isso chamamos fábrica de medicamentos. O MISAU compra toda a produção de medicamentos, e lá são os moçambicanos que estão a produzir os medicamentos, não são os brasileiros, as principais funções são dos moçambicanos formados mediante a cooperação técnica”.

“A fábrica é o símbolo da cooperação brasileira aqui, porque compartilha as nossas experiências, as informações que nós temos, de modo que os moçambicanos estejam habilitados eles próprios a produzirem os medicamentos e esse é o objectivo da nossa cooperação. A nossa cooperação é baseada nos princípios Sul-Sul ou seja não há ingerência, não pressão política de qualquer tipo nem tem contrapartida, pensamos no modelo de parceria pois nós também aprendemos porque temos realidades muito próximas, no Brasil você vai encontrar muitos Moçambiques como aqui você encontra muitos Brasis”, friza Rodrigo Soares.

Para um País se desenvolver é preciso aliar os dois o agro-negócio e a agricultura familiar

Depois de esclarecer ao @Verdade que o ProSavana para o Brasil é um programa de cooperação técnica sem objectivos comerciais, “não é que o ProSavana vá na frente e existam interesses comerciais atrás” o diplomata perspectiva que o foco do seu País é investir no sector agrário.

“A agricultura tem uma história de muito sucesso no Brasil, temos o agro-negócio e a familiar. No agro-negócio produzimos mais de 200 milhões de toneladas de grãos ano, no caso da soja daqui a cinco anos vamos ultrapassar os Estados Unidos da América. Somos grandes produtores de carne, de açúcar e de outros produtos” disse.

Soares destaca ainda o interesse de empresários brasileiros no potencial de produção de cana-de-açúcar de Moçambique, tendo como referência a experiência do seu País “a cana-de-açúcar pode ser alimento (açúcar), pode ser energia e pode ser combustível. E aqui em Moçambique já existe uma legislação (desde 2012) que determina a adição de etanol na gasolina e o Brasil pode contribuir para a viabilização disso. Cinco por cento da energia no Brasil vem da cana-de-açúcar o que reduz a dependência do petróleo. No ano passado houve um seminário em Moçambique e vieram vários produtores de etanol do Brasil”.

Por outro lado, segundo o embaixador, a experiência do seu País com a agricultura pode ser um exemplo para Moçambique. “Nós pensamos a agricultura familiar como um motor de desenvolvimento, e foi graças a essa agricultura que conseguimos superar a insegurança alimentar, não foi no agro-negócio. A agricultura familiar no Brasil é pensada de uma forma integrada, existe um plano de reforma agrária, não adianta apenas dar a terra é preciso montar uma escola para os filhos deles, dar um posto de saúde, tem que dar infra-estrutura como água ou estradas”.

Foto de Adérito Caldeira“A agricultura familiar é também importante na alimentação escolar, 70% do que as crianças comem na escola vem da produção da agricultura familiar. Para um País se desenvolver é preciso aliar os dois o agro-negócio e a agricultura familiar, e nós temos muito bons exemplos e boas experiências para compartilhar com Moçambique” declara Rodrigo Soares.

Ademais, “temos agora o programa dos restaurantes comunitários, está em fase piloto mas tem o empenho da pessoa da Primeira Dama Isaura Nyusi em leva-lo adiante. No Brasil é aquela comida que custa 1,50 reais, você tem comida de qualidade com alto valor nutricional e não custa quase nada”.

Outro sucesso do Brasil que pode ser replicado em Moçambique, devido a similaridade de problemas, fome, absentismo escolar, mortalidade e trabalho infantil é o programa denominado Bolsa Família. “(…)Integra três Ministérios, Saúde porque as crianças têm que ter a caderneta de vacinação em dia para que os pais recebam o subsídio, Educação as crianças têm que estar matriculadas na escola (98% das crianças no Brasil estão na escola e isso só foi possível com o Bolsa Família), Agricultura que é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. Combate também o trabalho infantil, pois as crianças estando na escola não têm de trabalhar para gerar renda” acrescenta o diplomata mencionado o papel fundamental da mulher na família, tal como em Moçambique, por isso “o cartão do Bolsa Família vem no nome da mãe, não do pai, ela gere melhor o dinheiro”.

Michel Temer já esteve em Moçambique na sua qualidade de vice-Presidente

Instado pelo @Verdade a comentar a situação política que se vive no Brasil o embaixador começa por dizer que “foi um processo as vezes doloroso mas foi feito da melhor maneira possível dentro do que é estabelecido dentro do nosso ordenamento jurídico, e não chega a ser uma anomalia na democracia o impeachment (destituição)”.

“Nos Estados Unidos aconteceu contra o Presidente Clinton, foi aprovado na câmara dos deputados e depois no senado foi reprovado, na África do Sul também aconteceu com o Presidente Zuma e que não teve provimento, não é algo desejável afinal a ex-Presidente foi eleita, como foi eleito o actual Presidente Michel Temer que estava na mesma chapa (partido)” explica o nosso entrevistado projectando os tempos futuros. “O Presidente Temer depois que assumiu a presidência a 31 de Agosto último de forma definitiva estará à frente do Executivo brasileiro até 31 de Dezembro de 2018, até depois das eleições em Outubro, e o novo Governo iniciará a 1 de Janeiro de 2019”.

Questionado pelo @Verdade se com a mudança de Presidente as relações do Brasil com Moçambique não iriam ficar afectadas negativamente, afinal os investimentos brasileiros ganharam ímpeto durante os Governo de Lula da Silva e depois de Dilma Rousseff o embaixador Rodrigo Soares não hesitou: “Posso assegurar que não afectará de modo algum porque a relação com Moçambique é muito além dos Governos”.

Relativamente às três aeronaves, que seriam retiradas da frota da Força Aérea Brasileira a custo zero para Moçambique, e a imprensa reporta que no entender do actual presidente deve ser vendida, o Soares esclarece que “é uma questão que temos estado a tratar com o Governo”, todavia enfatiza que “a relação com Moçambique é tão antiga e Moçambique sempre esteve no foco da actuação externa do Brasil então não vejo como um Governo ou outro possa afectar. Quero também lembrar que Michel Temer já esteve em Moçambique na sua qualidade de vice-Presidente em 2012” concluiu o diplomata brasileiro.

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