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‘@ minha verdade – Do valor das indústrias culturais

Queria escrever sobre campanhas e “ways of working” (maneiras de trabalhar), duas questões que me são muito caras, não só porque delas retenho das maiores lições aprendidas e apreendidas em dois de meus anteriores e, como sempre, edificantes empregos: no Jornal Savana, de 2004 a 2006 e na ONG Internacional Oxfam, de 2006 a 2009.

Vou deixar, para melhor reflexão, esse assunto, prometendo que em próximas ocasiões direi de minha verdade mais profunda e aprofundadamente. Decidi escrever sobre uma questão incontornável neste país, mas que passou como que despercebida, pouco comentada por estes dias, quanto mais não seja para vos recomendar como leitura. Semana passada, o Director do recém-criado Instituto Superior de Artes e Cultura (ISAC), Filimone Meigos, deu uma interessante entrevista ao suplemento Cultural do Jornal Notícias, numa conversa agradável com o meu camarada de ofício Gil Filipe.

O multifacético Filimone Meigos (é académico, já foi militar, jornalista, actor, é poeta, escritor, filósofo… enfim!) procurou tanto desmistificar essa visão preconceituosa de cultura circunscrita e reduzida às manifestações artísticas como nos enaltecer do valor da cultura, das indústrias culturais – enfatizando mesmo a sua contribuição para o PIB. A entrevista deu-nos também a perceber da importância estratégica do ISAC para o futuro: formar quadros que saibam gerir a indústria da criatividade e das artes, como um “business” e sector de actividade económica que dê realmente uma nova fonte de receitas para o fisco.

 Pois aqui está a primeira questão que pretendo discutir, em termos de criação de políticas culturais. Tudo bem, já se começa a materializar uma política cultural na formação de quadros gestores (empresariais queira-se) dos criativos e das criações pródigas da nossa cultura. Mas uma política cultural, sobretudo, deve ser uma visão de conjunto, deve ser melhor que a soma das partes: lei do mecenato (moribunda) aqui, reconhecimento de direitos dos autores ali, festivais de cultura acolá, prémios e incentivos monetários além…etc.

Uma visão de conjunto da política cultural deste país passa por definirmos, de uma vez por todas, todo esse mosaico que nos caracteriza como seres culturais genuinamente moçambicanos. Passa por documentar, registar, catalogar e valorizar todas as manifestações que nos identificam como Moçambicanos e que nos tornam únicos no Mundo. Passa por uma política de marketing que traduza em produtos culturais essas manifestações identitárias do nosso ser e estar, defina a(s) devida(s) praça(s) ou mercado(s) para a sua promoção assim como estabeleça uma estratégia de preços que coloque tudo o que produzimos numa balança e sob um selo de qualidade que nos torne competitivos no mercado global.

Uma visão estratégica do que somos e que queremos que sejamos neste mundo globalizado, dos twitters, dos facebooks, dos blogues, dos You Tubes, emailing passa por conceptualizarmo- nos como produto cultural, definirmos metas a atingir, objectivos por superar, tácticas claras e meios certos para o fazer, fases por cumprir e estabelecer parâmetros de seguimento e avaliação. Resumidamente, transformarmos o nosso mosaico cultural em Indústrias Culturais passa por aprendermos a lição da história: conhecer o nosso passado, perceber o nosso presente e projectar o nosso futuro.

Sem dogmas, sem preconceitos, sem tabus do que fomos e somos há que assumirmos o desafio há anos lançado pelo nosso filósofo Severino “Mukatchane” Ngoenha: Por Uma Dimensão Moçambicana da Consciência Histórica. Se combinarmos o saber cultural com uma visão de negócio, “fifty-fifty” sem que um anule o outro, aí sim, poderemos combater verdadeiramente a ditosa pobreza absoluta que habita em nós…

Por isso, eu vou voltar a ler e reler Filimone Meigos e convido- o também a fazê-lo e, se quiser, em outra ocasião e aqui como em outro lugar poderemos discutir sobre “QUEM SOMOS NÓS?”. “Meninos de Ninguém”, “República de Mininus”?

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