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Editorial – Conivência (ir)responsável?

Esta é uma situação que, como cidadãos, nos causa profunda indignação e deveria corar de vergonha a empresa Electricidade de Moçambique (EDM), pois não se justifica que uma instituição pública de suma importância se preste a tamanha pouca-vergonha.

A situação é, sem dúvida, tão corriqueira que não é nenhum exercício exaustivo para notar que a sensatez e o respeito pelo povo estão arredados das práticas daquela empresa. Aliás, no seu lugar instalou-se uma prepotente síndrome de arrogância adquirida em todo o seu esplendor.

 Ao que nós apuramos, aquele entidade pública, responsável pelo fornecimento de energia eléctrica, para se distanciar da sua (ir)responsabilidade argumenta inescrupulosamente que a danificação dos electrodomésticos se deve exclusivamente à oscilação da corrente eléctrica provocada pelo roubo de energia e ligações clandestinas.

Esta desculpa, quanto a nós, traz água no bico, ou seja, é manifestamente interesseira e mostra à saciedade o esvaziamento de discurso, a hipocrisia, a falta de bom senso e sobretudo a arrogância por que ainda se regem os indivíduos que lidam com questões ligadas à danificação de bens eléctricos.

 No entanto, exige-se da EDM humildade e, no mínimo, uma réstia de sentimento pelas vítimas dos estragos gerados pelo deficitário sistema de fornecimento de energia. Diga-se, em abono da verdade, que nem sempre os danos se devem aos roubos de energia ou ligações clandestinas como mentirosamente a empresa nos quer fazer acreditar. Não é novidade para ninguém que estas anomalias eléctricas, regra geral, são causadas pelos frequentes problemas técnicos de que a empresa padece.

O povo, esse, porque permanece na desconfortável situação dos “apanhados televisivos” não tem como provar, às vezes por questões meramente económicas, ou porque não sabe como e nem aonde recorrer. As reclamações, essas, como já sabe, têm como destino o caixote de lixo. Aliás, o que causa mais estranheza nesta história toda é o facto de o Conselho Nacional de Electricidade (CNELEC), órgão criado pelo Estado para defender o interesse público, continuar, para os utentes, um segredo dos deuses.

De um inquérito que fizemos constatámos, envolvendo cidadãos de diversos níveis sociais e de instrução, que todos desconhecem a existência de um órgão que vela pelos seus interesses em casos de avaria de aparelhos electrodomésticos ou perda de bens perecíveis.

Perante esta situação, somos obrigados a concluir que estamos diante de uma situação de conivência entre a EDM e a CNELEC, senão porque razão se perpetuaria a ignorância dos moçambicanos pautando pela não promoção daquele organismo crismado por Conselho Nacional de Electricidade. Ou dito sem metáforas, desde a criação da CNELEC em 1997 nunca se viu e nem se ouviu falar de tal órgão.

Oxalá que as instituições que lutam pelo direito dos consumidores se rebelem. Oxalá que, apesar das dificuldades do cenário, intuam que zelar pelo bem servir, neste país, é mais necessário do que nunca. Oxalá que tenham consciência de que os media, absortos na política, vivem ignorando histórias anónimas que definiriam profundamente a ausência de escrúpulos que marcam algumas empresas públicas.

Oxalá que essas instituições não sejam cínicas, e que exerçam uma crítica implacável às EDM´s deste mundo que acreditam que é legítimo ganhar dinheiro sem fazerem o mínimo de esforço para servir o público. Oxalá que não sejam mansas e não se deixem arrastar pela cumplicidade.

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