Os membros do governo de Guiné-Bissau, derrubado na quinta-feira por um golpe militar, estão “em risco de vida”, afirmou neste sábado em Lisboa o ministro guineense das Relações Exteriores, Mamadou Djalo Pires.
“Estão refugiados em algum lugar e estão em perigo porque continuam as perseguições. Estão em risco de vida”, respondeu, sem dar mais detalhes, às perguntas dos jornalistas sobre a situação de seus colegas de governo, à margem de uma reunião da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Segundo um porta-voz da chancelaria portuguesa, Djalo Pires estava no Senegal quando na quinta-feira foram presos o presidente interino Raimundo Pereira e o primeiro-ministro Carlos Gomes Junior, candidato favorito para o segundo turno da eleição presidencial prevista para o dia 29 de abril.
O chefe do Estado-Maior do Exército, o general Antonio Indjai, também foi detido, segundo o “comando militar” que tomou o poder.
Os representantes da CPLP, integrada por Portugal, Moçambique, Angola, São Tomé e Principe, Cabo Verde e Guiné Bissau, estão reunidos em Lisboa para discutir a situação neste país da África ocidental.
“Há unanimidade quanto à condenação do golpe de Estado, assim como sobre a necessidade de libertar sem condições todos os prisioneiros políticos, em particular o presidente interino e o primeiro-ministro da Guiné-Bissau”, declarou o ministro de Angola, Georges Chicoty, cujo país preside atualmente a CPLP.
Já a junta no poder na Guiné-Bissau anunciou neste sábado ter dado sua aprovação para a saída do país da força militar angolana, cuja presença foi apontada pelos militares rebeldes como o motivo de seu golpe de Estado. Em comunicado, o comando militar expressa “a sua vontade e disponibilidade total para facilitar a retirada da missão (angolana) do território nacional”, decidida por Angola.
Um membro desta força, a Missang, disse à AFP que a missão “esperava a chegada de um avião ou de um navio para embarcar”.
Um comunicado dos militares divulgado na sexta-feira atribuiu o golpe a “termos descoberto a existência de um ‘acordo militar secreto’, assinado pelo primeiro-ministro Carlos Gomes Junior e pelo presidente interino Raimundo Pereira, pelo governo da Guiné-Bissau e pelo de Angola”. “Este acordo quer legitimar a presença de tropas estrangeiras, concretamente a missão militar angolana (Missang) na Guiné-Bissau, com o objetivo de proteger o governo em caso de crise”, acrescentou.
Presente desde 2011, a missão militar angolana é fonte de discórdia entre o governo e o exército da Guiné-Bissau, e os militares suspeitam que as autoridades dissimulam o reforço desta missão nos últimos meses para ter uma força disponível em caso de distúrbios.
Principal partido de rejeita plano de transição pós-golpe
Entretanto, o principal partido político da Guiné Bissau rejeitou neste sábado uma proposta dos chefes militares do país do oeste africano para a formação de um governo de transição após um golpe nesta semana.
“O PAIGC rejeita qualquer proposta anticonstitucional ou antidemocrática de solução para essa crise”, afirmou o partido em comunicado.
O PAIGC, que tem dois terços dos assentos no Parlamento do país, também pediu a soltura do seu candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, que foi preso por soldados no golpe de quinta-feira.