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Mérito para as mãos!

Mérito para as mãos!

Além da sabedoria de que se impregnam as mãos do designer têxtil moçambicano, Toma Toma, as criações artísticas patentes no Cine Teatro África (vestimentas, na verdade) são o resultado do seu aborrecimento em relação à monotonia que se verifica na indústria de vestuário. A mostra chama-se “Swamavoko – Empreendarte”.

Já lhe aconteceu, estimado leitor, deslocar-se da sua casa para uma butique – ou qualquer loja de venda de vestuário –, em Maputo, e não encontrar nada? Isso é impossível. Talvez, assim, alguém responderia se lhe fosse colocada a questão. Mas, em certo sentido, os complexos económicos que se dedicam ao comércio de roupas não têm novidades nas suas ofertas. Ou, pelo menos, por causa da monotonia que possuem, é como se não tivessem novação nenhuma.

Os consumidores mais exigentes, aqueles que nas peças que adquirem compram muito mais do que o objecto, precisam de valores, de se reverem enquanto parte desse processo de criação da sua identidade e cultura – como o artista Toma Toma – sentem um vazio nas roupas importadas que a indústria capitalista os coage, através do seu ‘marketing’ publicitário, a consumir.

Provavelmente seja por essas razões que a mostra de arte desse designer têxtil – denominada “Swamavoko – Emopreendarte”, ou simplesmente, empreender na arte produzindo manualmente, que, essencialmente, apresenta camisetas das mais variadas formas e feitios, desperta a atenção do público, chamando-o a apreciar as criações. A mostra,, que está patente desde 22 de Novembro, encerra a 1 de Dezembro.

Esta colectânea de camisetas para pessoas de ambos os sexos satisfaz os utentes em termos de sexo, idade, tipos de cor, muito em particular para quem aprecia os trajes tipicamente africanos. Aliás, no final, o objectivo da exposição é modificar os conceitos das pessoas que acreditam que em Moçambique não se produzem peças originais, sob o ponto de vista de vestimenta, argumentando – muitas vezes, assim – o seu consumismo com base em produtos estrangeiros.

“Swamavoku”, a expressão bantufónica, da língua xironga, em que se resume o título da mostra pretende significar muito mais do que simples objectos feitos à mão – como uma tradução livre nos sugere – mas, acima de tudo, exaltar o poder criativo dos moçambicanos. As criações resultam de uma inspiração cuja fonte é a vivência do próprio artista, na sua busca constante por uma identidade que o distinga dos outros, enquanto cidadão africano.

“A criação surge por causa da minha insatisfação em relação ao vazio que sinto nos produtos que se nos são oferecidos no mercado, em termos de vestuário. Sempre que ia às lojas, apreciava as cores das roupas, os seus modelos, mas, infelizmente, nada combinava comigo. A partir daí decidi fazer o que me podia agradar e satisfazer a sociedade moçambicana, por extensão”, refere.

A construção das peças que constituem a mostra “Swamavoko” é um processo de trabalho complexo, que resulta da sua busca de conhecimentos interculturais ao longo da sua aprendizagem. As obras de Toma Toma são um espaço para perceber o poder criativo das mãos, da construção e materialização de sonhos – ante uma tendência que os esmiúça. O artista explora, preferencialmente, missangas, retalhos de capulana e panos sobre os quais – depois da costura – se impregnam desenhos e pinturas.

Biografia

Tomas Melisse, conhecido por Toma Toma, nasceu nas vésperas da proclamação da independência na cidade de Lourenço Marques, actual Maputo. O design têxtil, cenógrafo figurinista, artista plástico e artesão. Estudou artes visuais na Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV) em 1990. Alguns anos depois, conclui o ensino de Design no Instituto de Design da África de Sul, tendo frequentado outras formações na Dankho School, no Zimbambwe. Tem participado nas feiras anuais realizadas pelo Centro de Estudos e Desenvolvimento de Artesanato, em Moçambique, África do Sul e nos Estados Unidos de América.

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