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Matendene: um bairro em expansão

Matendene: um bairro em expansão

Numa zona eternamente preterida da cidade de Maputo, um bairro cresce a olhos vistos à mesma proporção dos problemas sociais. Matendene é como os populares o chamam, mas o seu verdadeiro nome é Magoanine “C”. São poucas as pessoas que se orgulham de ter testemunhado o crescimento do bairro, até hoje conhecido por Matendene, a todos os níveis.

Uma delas é Adelina Nguetsa, de 79 anos de idade, que afirma que, presentemente, as coisas mudaram muito – algumas para melhor e outras nem por isso – com a chegada dos novos moradores por volta de 2000.

Olhando-se para a toponímia dos bairros da cidade de Maputo, em momento algum, encontramos um bairro com o nome Matendene. Tal denominação surgiu aquando das cheias de 2000, mas o verdadeiro nome é Magoanine “C”.

Localizado na parte norte da cidade de Maputo, Magoanine “C” tornou-se num dos mais destinos predilectos daqueles que, por algum motivo, decidiram abandonar o centro da cidade.

Entretanto, não são apenas pessoas provenientes da zona de cimento que habitam naquele espaço. A maioria é oriunda dos bairros limítrofes da capital do país, com destaque para Luís Cabral, Jardim, Inhagoia, 25 de Junho, George Dimitrov (Benfica), Polana Caniço, Chamanculo e Hulene.

Este agrupamento de pessoas, de diferentes pontos, deve-se às cheias de 2000, ao alargamento do cemitério da Lhanguene, à prevenção de futuros desastres naturais, bem como à construção de novas infra-estruturas nos lugares onde viviam.

Arnaldo, de 49 anos e pai de 12 filhos, dos quais apenas sete é que vivem com ele, residente naquele bairro desde o ano 2000, disse ao @Verdade que desde o ano em que chegou as coisas tendem a melhorar mas apela à resolução de alguns problemas que afectam os residentes.

“Deviam ver a questão dos transportes, que constitui o `calcanhar de Aquiles´ deste bairro”, pede Arnaldo, que chegou a Matendene depois de ver a sua casa em Inhagoia destruída pelas cheias de 2000, tirando-lhe tudo o que tinha na altura.

Conta que chegou àquele bairro juntamente com um grupo de pouco menos de 1200 pessoas provenientes dos bairros 25 de Junho e Inhagoia. “Aquando da minha chegada, o bairro não tinha condições de habitabilidade. Tudo isto era mato”. O mais doloroso foi ver os seus filhos interromperem os estudos porque “não havia escola nesta zona, nem hospital”, conta.

Apesar de reconhecer que de lá a esta parte muito se fez em prol do bairro, Arnaldo diz que o mesmo clama por infra-estruturas sociais. “Matendene não tem escolas secundárias, quando os nossos filhos concluem o nível secundário têm de ir estudar para o centro da cidade” disse.

Outro aspecto que lhe tira o sono é o facto de o local possuir apenas um posto de saúde que, para além de não responder às solicitações dos residentes daquele bairro, abre às sete e encerra às 17 horas. Este atende também residentes de Cumbeza e Magoanine B.

Perigo iminente

Tal como a maior parte dos bairros da cidade de Maputo, Matendene conta com apenas um posto policial, o que o torna terreno fértil para os “amigos do alheio”, embora não se tenham registado casos dignos de registo. Não raras vezes, a polícia tem chegado tarde sempre que é solicitada devido à extensão do bairro.

Educação

Com uma população estimada em pouco mais de 10 mil habitantes, o bairro Magoanine C tem três escolas primárias completas, nomeadamente as escolas primárias completas 10 de Janeiro, Artur Canana e Mártires de Mbuzine que, no período nocturno, também leccionam o primeiro ciclo do ensino secundário.

No que diz respeito ao ensino secundário, este ano foi lançada a primeira pedra para a construção da Escola Secundária Samora Machel que, depois de concluída, irá descongestionar a Escola Secundária Quisse Mavota.

Rede sanitária

Para um bairro em crescimento como Matendene, a existência de apenas um posto de saúde constitui preocupação para quem nele reside. “Há muito que clamamos por um hospital, mas ninguém nos ouve” quem assim o diz é Mariana Tomé, abordada pela nossa equipa de reportagem quando saía do único posto de saúde ali existente.

Segundo a nossa interlocutora, o posto regista muitas enchentes como resultado da falta de celeridade por parte do pessoal médico. “Os enfermeiros são lentos, às vezes ficam ali a conversar no meio de muitos doentes.

Falta-lhes sensibilidade e espírito de servidor público”, conta. Para além deste problema, Mariana diz que o hospital já não tem capacidade para atender às solicitações. “Imagino que quando este posto de saúde foi construído não se previa que o bairro pudesse crescer desta forma” acrescenta.

Transporte

Falar de transporte na cidade de Maputo é falar de um problema que já tem barbas brancas, e para quem vive em Matendene a falta deste meio parece estar longe do fim.

Para chegarem ao centro da cidade, os moradores daquele bairro chegam a gastar mais de trinta meticais por dia. Esta situação é agravada pelos encurtamentos de rotas que em muito lesam o bolso dos matendenenses principalmente para os que vivem num zona designada Grande Maputo.

Segundo os moradores, os autocarros dos Transportes Públicos de Maputo não têm circulado com frequência, e, quando tal acontece, são apenas três.

Os TPM alocaram para aquele bairro três autocarros, designadamente o 20 e Expresso (Matendene – Praça dos Trabalhadores, via Hulene), e o 23 (Matendene – Museu, via Jardim).

Muito recentemente, os matendenenses respiraram de alívio com a entrada em circulação dos autocarros da Fematro, porém, os moradores dizem que foi sol de pouca dura porque, volvidos dois meses, os mesmos desapareceram das estradas deste bairro alegadamente porque a única via que permite o seu acesso, desde o cruzamento de Matendene (na EN1) até a terminal do Grande Maputo, constituída pela avenida Nelson Mandela, e ruas Ndambine 2000 e Graça Machel, está cheia de lombas. São no total de 22 lombas, colocadas num troço de pouco menos de cinco quilómetros.

Conta-se que a colocação de lombas nesta via foi sugerida pelo Conselho Municipal de Maputo ao empreiteiro da obra (CMC – África Austral), como medida para a evitar a ocorrência de acidentes de viação.

Água e luz

No que diz respeito ao acesso à água, o bairro contava, até o ano passado, com um sistema público de fornecimento do líquido precioso, mas, com o advento dos fornecedores privados, o mesmo foi vandalizado. “As bombas de água estão todas destruídas e outras foram roubadas”, disse um dos moradores.

Diante desta situação, as pessoas viram-se obrigadas a recorrer aos privados, que são acusados de estar a cobrar valores altos, chegando a debitar 30 meticais por metro cúbico consumido.

No que diz respeito à electricidade, o bairro de Matendene é um dos poucos no qual se pode falar de satisfação. Segundo o relatório que nos foi apresentado pela administração local, estima-se que cerca de 90% das famílias tenham acesso à electricidade da rede nacional.

Reza o ditado que não há bela sem senão. Com Matendene não podia ser diferente. Os moradores queixam-se de estar a perder os seus electrodomésticos devido às oscilações que se registam, principalmente de noite.

Mercado a rebentar pelas costuras

O único mercado existente em Matendene parece não conseguir fazer face à crescente procura de espaço para o desenvolvimento da actividade comercial.

Pelo facto, muitas pessoas desenvolvem o comércio do lado de fora, fazendo emergir um mercado informal, vulgo dumba-nengue. Ao cair da noite, senhoras que, por vezes são proprietárias das bancas localizadas na parte interior, saem e fazem o seu negócio nos passeios do terminal de Matendene, colocando em risco a sua vida e a dos transeuntes.

Por reconhecer o problema, o Conselho Municipal afectou recentemente uma brigada da polícia municipal que tem estado a combater o advento do comércio informal no terminal de Matendene, porém, esta só faz a fiscalização de dia, o que não resolve o problema pois os informais “actuam” no período da noite.

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