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Manuel Carrascalão 1933 – 2009 – 75 anos

“O meu irmão (Manuel) morreu hoje (sábado) cerca das 15h30 – hora de Maputo – no hospital Guido Valadares, em Díli, rodeado de familiares e amigos”, disse à agência Lusa a irmã, Gabriela Carrascalão, que no passado fim-de-semana se encontrava numa visita de trabalho a Lisboa.
O irmão mais velho de uma prole de 12, encontrava-se já há alguns anos retirado da política activa e adoecera há oito meses, após sofrer uma embolia cerebral. Apesar de aparentemente recuperado, há cerca de dois meses as complicações recomeçaram ditando a sua hospitalização desde essa data. Contava 75 anos. 
Manuel Carrascalão nasceu no ilhéu de Ataúro, a 16 de Dezembro de 1933 para onde o seu pai foi deportado, de Timor, por fazer política quando já tinha sido proibido desde que saíra de Portugal. Manuel não prosseguiu os estudos porque muito cedo começou a trabalhar com o pai. 
Menos conhecido politicamente que os seus irmãos – Mário foi governador do território durante a ocupação indonésia, João líder da UDT – Manuel era uma espécie de reserva moral da nação timorense e as suas longas barbas transmitiam-lhe uma tranquilidade e uma sagesse que a todos impressionavam. Antes da Revolução de Abril de 1974 em Portugal, Manuel foi deputado à então Assembleia Nacional por Timor. Na sua primeira intervenção, em 12 de Dezembro de 1973, falou da “entranhada devoção a Portugal” dos timorenses, que pouco recebiam em troca, a julgar pelos pedidos que Manuel Carrascalão apresentou logo ao Governo de Lisboa.
A Revolução de 25 de Abril apanhou-o em Lisboa. Regressou de imediato a Timor e, com os seus irmãos, constituiu o núcleo fundador da UDT. Após o contragolpe da FRETILIN, refugia-se em Atambua, do lado ocidental da ilha. Por se ter insurgido contra a política militar indonésia foi obrigado a estabelecer-se em Kupang, a capital de Timor Ocidental, aí tendo vivido até 1980, ano em que o exército levanta a proibição do regresso e permite a sua ida para Díli.
Foi deputado do Golkar à Assembleia Provincial de Timor e, tal como o seu irmão Mário, foi-se tornando cada vez mais crítico ao regime. Em 1998 fundou o MURPTL, (Movimento Unitário de Resistência de Timor-Leste) que congregou a quase totalidade das forças políticas que se opunham à anexação. Esta afronta constante custou-lhe, no dia 17 de Abril de 1999, quando no território se vivia a euforia do pré-referendo, a vida do filho Manelito de 17 anos, barbaramente assassinado quando as milícias Aitarak invadiram a sua casa que servia de refúgio a muitos timorenses.
A esse respeito o irmão Mário sublinhou esta semana: “(…) o Manuel foi um dos que sempre trabalhou pela independência, sacrificando a própria família.” Mário não escondeu a mágoa por Manuel ter sido um dos esquecidos. “A seguir à independência não se olhou para quem contribuiu muito para ela.” 
Ana Gomes, a primeira embaixadora portuguesa em Jacarta após o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, recordou o seu papel na luta: “Foi um grande nacionalista, um homem de coragem e um grande resistente”, disse lembrando ainda a generosidade do político. 
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