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Mais um mau exemplo

Esta semana houve mais um líder africano a dar um mau exemplo ao mundo. Trata-se do presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo. Este país, situado na costa ocidental de África e que durante anos fi cou conhecido como um dos mais estáveis do continente e Abidjan, a sua capital económica, como o mais importante centro financeiro daquela sub-região, possui agora dois presidentes e dois primeiros ministros.

Após as eleições para o mais alto cargo da nação, realizadas no passado dia 28 de Novembro, a comissão eleitoral – órgão máximo de supervisão do processo e a quem cabe divulgar os resultados – proclamou como vencedor o candidato da oposição, o muçulmano Alassane Ouattara, o primeiro não cristão a ocupar este cargo num país profundamente fragmentado a nível religioso – o norte é muçulmano e o sul é cristão e animista. Imediatamente, como é normal, este apressou-se a cantar vitória. E aqui é que, como se costuma dizer, a porca torce o rabo.

Gbagbo, sob o espectro de perder o poder para o seu rival, moveu todas as suas influências – não são poucas – e conseguiu na sexta-feira que o Conselho Constitucional da Costa do Marfim o proclamasse vencedor do pleito, indo contra a decisão da comissão eleitoral do país.

Entretanto, no terreno, surgiam imagens típicas da paisagem africana quando as coisas correm para o torto: carros queimados, pneus a arder, pilhagens, partidários de ambos os lados a agitarem catanas e…20 mortos. Mas desta vez, excepto o amigo angolano, o zimbabweano e pouco mais – é curioso mas estes países fazem-me lembrar o Dr. No da saga 007 sempre ao serviço do mal – Gbagbo tem tudo contra si: a União Africana, a ONU, a UE, o FMI e o Banco Mundial.

À cabeça dos países que defendem a vitória do candidato da oposição está, como sempre, o Botswana, aquele que considero ser o país mais democrático do continente. Agora, o cerco a Gbagbo aperta-se e, apesar de este ter vindo dizer “para que a nossa soberania não seja espezinhada, apelo à comunidade internacional que deixe de se ingerir nos nossos assuntos”, é pouco provável que consiga levar os seus intentos por diante.

Actualmente, num mundo globalizado e interdependente, é cada mais difícil sobreviver sem as ajudas financeiras dos chamados países doadores, à margem do FMI, do Banco Mundial e de outras instituições internacionais.

Hoje, não é fácil ser-se um Estado pária. E ainda bem que não é porque, de outra forma, havia muito mais Zimbabwes, Coreias do Norte, Guinés Equatorais e quejandos.

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