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A Ntyiso wa wansati: Look for the Silver Lining

Somos todos feitos da mesma matéria: água, minerais, carne, nervos, músculos e órgãos. Biliões de células inteligentes e com memória. Somos todos iguais, embora diferentes, como duas gotas de água. Nenhuma se iguala a outra e contudo, todas se parecem.

Somos todos tristes, carentes, sonhadores. Uns sonham com umas coisas, outros com outras. Mas todos temos medo da solidão e do escuro, de cair um dia das escadas, de chegar a meio da vida e pensar que não somos aquilo que queremos nem nunca conseguiremos chegar onde sonhámos, ou, quase perto do fim, olhar para trás e ver todas as pessoas que amámos e que deixámos para trás. Mas quando tenho medo, penso que tu também tens medo como eu, e isso faz-me sentir menos só.

Cada vez que penso em ti, começo a rir-me sozinha. Lembrome do teu olhar igual ao meu, do nariz comprido e do corpo perfeito, e o teu riso ecoa nos meus ouvidos para sempre, como a nossa música preferida, aquela que podemos estar mais de dez anos sem ouvir, mas que quando volta, percebemos que nunca deixámos de a escutar dentro do nosso coração.

Viverás para sempre dentro do meu, num canto espaçoso e arejado onde se arrumam os grandes amigos, aqueles por quem sentimos um misto de ternura, cuidado, mimo e respeito, os condimentos eternos da amizade. Aqueles amigos cujas maiores alegrias também serão nossas; o dia em que nascer o teu filho, quando ganhares um prémio ou alcançares uma vitória importante.

A amizade é isto; uma árvore que cresce devagar, segura e firme, silenciosa e generosa, a segredar segredos que mais ninguém entende, sabendo sempre onde é o seu lugar e dando aos outros a sombra e os frutos que forem precisos.

Quanto mais se dá, mais se tem. E quanto mais amamos os outros, mais esse amor nos alimenta, seja ele feito de tesão, amizade, paixão, ou da mais platónica matéria amorosa. É sempre amor, e é isso que interessa.

É com esse amor que seguimos em frente, que encaramos cada dia como um dia bom, que nos deitamos ao fim da noite e sonhamos com o futuro. Um amor livre, pleno, sem horas nem exigências, uma fonte de bemestar e de felicidade.

Quando tenho saudades tuas, ponho o Chet Baker a cantar só para mim e tu voltas à minha sala branca e cheia de flores, ao sofá onde conversámos tantas horas, ao jardim onde nos rimos em tardes perfeitas. Tu voltas a pôr-me o braço em volta da cintura e a cobiçar os meus pés de boneca. E eu volto a rirme como uma miúda, feliz por me sentir desejada.

Fazes-me feliz com as tuas histórias os teus defeitos, a tua graça e a tua voz de cantor. Fazes-me pensar que as melhores coisas da vida se encontram nos mais pequenos pormenores, quando conseguimos encontrar a luz que elas escondem. Look for the silver lining, dizias-me sempre que eu estava triste ou me sentia só. E eu encontrei o que precisava; paz, sossego e bem-estar, o coração forrado a amigos e a dias de sol.

Vais ser assim até ao final do Verão. Tu aí e eu aqui, a praia à nossa espera, sangrias claras e pratadas de amêijoas, o langor perfeito dos finais de tarde que se estendem até muito tarde, o cheiro a sal nos cabelos e areia por todo o lado. Vai ser assim também depois, quando voltares à tua rotina e eu à minha, cada um na sua, como cantava a Rita Lee você e eu somos um caso sério, ao som de um bolero, misto quente, sanduíche de gente.

Imagino que não gostas da Rita Lee, tu que só ouves música boa e que já me ensinaste tantas coisas novas. Mesmo assim, cito-te os versos para que nunca te esqueças que a felicidade reside nos pequenos segredos que não se partilham com o mundo mas que escondem dias de sol e noites perfeitas, riso e entendimento, uma alquimia inexplicável que o tempo não apaga e a distância não afasta.

Quem sabe, um dia, não me fazes tu a surpresa de me cantar todas as músicas de que tanto gostamos, Rita Lee aparte, num disco só para mim, como um segredo partilhado como quem revela ao mundo um mistério que ninguém entende e me tocas à campainha com um ramo de fl ores para mais uma tarde perfeita a cantarolar Chet baker e a cobiçar-me a cintura de vespa e os pés de boneca.

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