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Líder da oposição assume o poder em Madagascar

Corte Constitucional de Madagascar legaliza mudança de poder

As forças armadas malgaxes transferiram os “plenos poderes”, recebidos do ex-presidente Marc Ravalomanana ao demitir-se, ao líder opositor Andry Rajoelina ontem, terça-feira, numa cerimônia aberta à imprensa, num acampamento militar.

Segundo o vice-almirante Hippolyte Rarison Ramaroson, a quem Ravlomanana havia designado presidente da junta militar, “passamos os poderes a Andry Rajoelina, que se ocupará de presidir a transição”.

O presidente de Madagascar, Marc Ravalomanana, havia apresentado, antes, sua renúncia, pressionado pelos militares.

O exército malgaxe invadira segunda-feira à noite a sede da presidência no centro da capital provocando a fuga do presidente para um palácio presidencial situado nos arredores de Antananarivo.

“No decreto 2009-001 com data de 17 de março de 2009, o presidente da República decidiu conceder plenos poderes a uma junta militar”, afirma um comunicado assinado por Ravalomanana.

O texto acrescenta que a junta “é dirigida pelo militar de maior patente” das Forças Armadas. O Conselho de Paz e de Segurança (CPS) da União Africana (UA) fez um apelo à “segurança do presidente”, ao final de uma reunião de emergência em Addis Abeba sobre a crise em Madagascar.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também disse estar muito preocupado nesta terça-feira com a situação em Madagascar. De acordo com nota divulgada na sede das Nações Unidas, Ban “pede a todas as partes envolvidas que ajam de forma responsável para a estabilidade e a transição sem incidentes para a via democrática”.

Desde sua chegada ao poder, em 2002, Marc Ravalomanana, até então um empresário, viu se esfumaçar sua aura com o passar dos anos, devido à incapacidade para melhorar a vida dos malgaxes e a seu autoritarismo.

O apoio popular conquistado em 2002, quando afastou Didier Ratsiraka do cenário político ocupado durante 30 anos, foi-se apagando à medida que não cumpria as promessas de “desenvolvimento econômico rápido” na grande ilha do oceano Índico.

Isso, apesar da reeleição no primeiro turno das presidenciais de dezembro de 2006, e das vitórias eleitorais em 2007 e 2008 num referendo constitucional, nas legislativas, seguidas de municipais, regionais e senatoriais).

Em dezembro de 2007, o fracasso de seu candidato à prefeitura de Antananarivo, ante o jovem independente Andry Rajoelina, foi o começo do fim; passou a ser alvo de uma antipatia crescente na capital. O ano de 2008 mostrou os pontos fracos de seu governo e cristalizou críticas contra a violação das liberdades civis no país.

Passou a dar a impressão de governar sozinho, em meio ao autoritarismo. Assim, não concretizou as promessas de abertura democrática: o sistema eleitoral que tanto criticou ficou como estava, a oposição foi proibida de ter acesso ao sistema de rádio e televisão pública e muitos meios de comunicação tiveram que fechar as portas.

Ravalomanana, que um dia propôs reformar em profundidade a sociedade e a economia malgaxes, ficou desconectado da população.

A maioria dos malgaxes vive abaixo do umbral da pobreza.

A falta de transparência num projeto sul-coreano Daewoo Logistics, para explorar até 1,3 milhão de hectares na grande ilha, atiçou o rancor dos que o acusavam de vender mal a terra malgaxe.

Aos 59 anos, Ravalomanana, casado e pai de quatro filhos, construiu um império agroalimentar sem paralelo em Madagascar, a partir do zero. Nascido de uma família camponesa, começou a vida distribuindo leite. Com o tempo, Ravalomana acumulou imensa riqueza que lhe valeu o apelido de “Berlusconi malgaxe”.

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