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Jovens “detidos” por militares na Beira; populares revoltam-se; Polícia mata adolescente

Jovens “detidos” por militares na Beira; populares revoltam-se; Polícia mata adolescente

Desde a segunda-feira (25) vários jovens maiores de 18 anos, de ambos os sexos, foram abordados nas ruas, mercados e até nas suas residências na cidade da Beira e levados por membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e outros agentes militares, muitos à paisana, alegadamente para serem incorporados nas fileiras do exército moçambicano. @Verdade recebeu centenas de relatos de cidadãos que viram os seus amigos, familiares e jovens desconhecidos a serem levados por estas “brigadas” que após a abordarem os jovens levaram-nos à força em viaturas para instalações militares não identificadas.

O nosso jornalista na capital da província central de Sofala falou com vários cidadãos que presenciaram nesta quarta-feira, no bairro da Manga, na zona da vila Massane, o “recrutamento” compulsivo de dezenas de jovens. A mesma acção foi desencadeada na Praia Nova e no bairro de Macurungo.

Foi possível averiguar que outros jovens foram compulsivamente levados do bairro de Maquinio, concretamente nas proximidades do mercado. Esta operação tende a estender-se para além do município da Beira, havendo registo de jovens “recrutados” nos postos administrativos de Tica e Mafambisse.

Na Universidade Unizambeze, localizada no bairro de Matacuane, também foram vistas duas carrinhas de caixa aberta, uma identificada como sendo dos CFM, com pessoas a paisana que pararam defronte da Instituição de Ensino Superior e abordaram alguns jovens que se encontravam no pátio.

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As “brigadas” encarregues do recrutamento até mandaram parar viaturas na via pública para deter jovens mesmo sem informarem dos objectivos da operação e nem permitem que os “recrutados” informem aos seus parentes sobre o acontecido.

Na sequência destas “detenções”, muitos jovens não saíram para os seus afazeres habituais nesta quarta-feira. Foi possível aperceber-se duma calma anormal nos mercados do Goto, da Praia Nova e do Maquinino, onde milhares de jovens procuram ganhar o pão todos os dias em negócios informais. O comércio formal também parou na cidade capital de Sofala.

Ministério da Defesa desmente

Em comunicado, o Ministério da Defesa desmente o recrutamento militar compulsivo. “Não constitui verdade que o Ministério da Defesa Nacional ou outras Forças de Defesa e Segurança estão a fazer o recrutamento militar compulsivo para o cumprimento do serviço militar, trata-se de boato visando desacreditar o cumprimento deste dever sagrado para com a pátria pelo jovem”.

Segundo o referido comunicado, assinado pela chefe de gabinete do ministro da Defesa de Moçambique, Amelta José Matavel Muiquija, “o Ministério da Defesa Nacional apela a todos os jovens que se sentirem coagidos ou obrigados a ir para o Serviço Militar a dirigirem-se aos Centros Provinciais de Recrutamento e Mobilização ou as forças de lei e ordem públicas locais da sua província a fim de denunciar.”

Contudo, o facto é que os relatos de jovens a serem recrutados compulsivamente confirmam-se. Refira-se que de acordo com a Lei do Serviço Militar, “Todos os cidadãos moçambicanos dos 18 aos 35 anos de idade estão sujeitos ao dever de prestação de serviço militar e ao cumprimento das obrigações militares dele decorrentes.” Este ano o período oficial do Recenseamento Militar decorreu entre 2 de Janeiro e 28 de Fevereiro.

Jovens revoltam-se

Inconformados com este recrutamento que viram acontecer com os seus conhecidos e parentes, e temendo pela sua eventual detenção, centenas de jovens armaram-se com paus, pedras, garrafas de vidro e catanas e revoltaram-se contra os militares e as “brigadas” que estavam a fazer o recrutamento compulsivo.

Depois de se organizarem, nos bairros da Munhava, Manga e Matacuane, os jovens decidiram manifestar-se defronte do Governo Provincial. Contudo, foram barrados por agentes das Forças de Intervenção Rápida (FIR) e da Polícia da República de Moçambique (PRM) na Estrada Nacional nº6 (EN6), que dá acesso ao coração da cidade da Beira.

Para conter a fúria dos manifestantes, os agentes das FIR e da PRM dispararam gás lacrimogéneo, balas de borracha e balas reais. Alguns sectores da EN6, na zona de Inhamízua, estiveram condicionados ao trânsito de automóveis devido à colocação de caixotes de lixo, pneus a arderem e outros objectos na via. As ruas Krusse Gomes e 33 também estiveram barricadas, assim como a avenida Eduardo Mondlane.

No seguimento dos tiros de balas reais disparados pelos agentes da Polícia, um adolescente, aparentemente de 12 anos, foi baleado mortalmente na cabeça e na região do abdómen, no bairro da Munhava.

Entretanto nesta quinta-feira o Hospital Central da Beira confirmou a entrada de 34 feridos, seis dos quais em estado grave. Dois outros feridos perderam a vida em consequência dos ferimentos de balas contraídos nos confrontos entre populares e a polícia.

Moçambique vive uma situação de guerra não declarada, envolvendo forças governamentais e homens armados alegadamente do partido Renamo, que se intensificou nos últimos meses do corrente ano com incidência nas regiões de Gorongosa e Chibabava, na província de Sofala. Apesar dos contínuos desmentidos do governo sobre o conflito, vários confrontos armados têm sido registados que resultaram em muitas baixas nas fileiras das FADM.

 

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