Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Jovem ganha a vida reciclando panelas velhas

Em 1999, Amido Chale, na altura com 15 anos de idade, decidiu aprender um ofício, do qual pudesse viver. Dedicou-se à reciclagem de panelas velhas, uma actividade que executou com a ajuda de uma pessoa que admira bastante e considera seu mestre. A sua instrução ocorreu no bairro de Namicopo, concretamente na Unidade Comunal Samora Machel, arredores da cidade de Nampula, província com o mesmo nome, Norte de Moçambique.

Ele diz que a experiência – como era de esperar – foi dura, mas valeu a pena porque hoje já não é necessário ir atrás de anúncios de vaga, nem lutar com quem quer que seja para ter emprego. Trabalha por conta própria e consegue suprir as dificuldades do dia-a-dia.

Amido Chale, de 29 anos de idade, é natural da Ilha de Moçambique. À semelhança de muitos jovens de Nampula, que se movimentam dentro desta parcela ou se mudam para as outras regiões do país à procura de meios de subsistência, ele escalou a cidade da mais populosa província na esperança de encontrar melhores condições para sustentar a sua família.

De acordo com ele, transformar panelas velhas e inúteis em utensílios domésticos proveitosos nunca foi tarefa fácil, mas o custo de vida leva-o a enfrentar os obstáculos decorrentes dessa arte.

Na cidade de Nampula acontece o mesmo com os jovens; esta pratica actividades de rendimento e não fica à espera de alguma oportunidade de trabalho nas instituições públicas ou privadas. Uns chegam a alegar a ausência de meios financeiros e materiais para abandonar o banco da escola e dedicarem-se de corpo e alma a ofícios por contra própria.

Entretanto, em 2004, Amido Chale viveu um desaire com a morte do seu mestre, vítima de uma doença prolongada. Nesse momento, decidiu abandonar a oficina do seu instrutor, na qual juntos trabalhavam, e instalar a sua numa zona comummente conhecida por “Semáforos”, em Namiepe, por sinal próximo da sua residência e um lugar por ele considerado estratégico para o seu negócio.

No princípio não foi fácil ganhar clientes. Levou muito tempo a consegui-los, mas, a partir da altura em que a população local se acostumou aos seus serviços, teve sucesso.

A reciclagem de panelas

Amido Chale contou-nos que o seu trabalho é feito com base em panelas velhas cujos proprietários já não precisam delas, alegadamente por falta de proveito. Porém, ele não as leva de borla, comprando tais objectos ao preço que varia entre 10 e 30 meticais cada um. O critério para a aplicação do valor da aquisição é simples: o tamanho e o grau de degradação.

A reciclagem que faz, segundo as suas palavras, consiste em cortar e inutilizar completamente as bases desses utensílios e, com recurso à sua imaginação, cria novos objectos, tais como formas para o fabrico de bolos, frigideiras, chaleiras, dentre outro material de uso caseiro.

O nosso interlocutor disse que refaz igualmente panelas, esta é a sua especialidade, enquanto os outros utensílios domésticos são feitos de acordo com as encomendas dos seus clientes. Os preços, que variam de 40 a 150 meticais, dependem também do tamanho e do topo de utensílio.

Os ganhos da sua actividade

Amido Chile confessou que não se sente um homem financeiramente realizado, mas com os lucros obtidos do seu trabalho conseguiu construir casa própria, embora seja de material precário.

A sua família não é larga, por isso as necessidades diárias não são tão pesadas a ponto de não conseguir satisfazê-las. Ele equaciona comprar um meio de transporte, como motorizada ou bicicleta, por exemplo, mas o dinheiro que ganha cobre as despesas. Neste momento, está preocupado com os estudos da sua filha, de 9 anos de idade, que frequenta a 3ª classe.

“Estou muito mais preocupado com o sustento da minha família e com o futuro dos meus filhos. Por isso quero apostar no investimento que estou a fazer e nos estudos da minha filha.

Quero que ela tenha um nível académico considerável, embora eu o pai dela não tenha conhecido o banco da escola”, disse Chale, que se sente satisfeito com a afluência da clientela que prefere comprar panelas recicladas ao invés de adquirir novas.

Catarina de Abreu, de 21 anos de idade, residente da Unidade Comunal de Namiepe, disse ao nosso jornal que a sua preferência pelos utensílios transformados pelo mestre Amido se deve ao facto de serem acessíveis no que diz respeito aos preços.

Vão de acordo com as condições financeiras da população. “Embora seja um trabalho que muitos jovens desprezam por não ser vulgar, ele (Amido) está a fazer a sua arte.

Ajuda as pessoas que têm pouco dinheiro a comprar panelas, formas de bolos, chaleiras e outros objectos domésticos, cujos preços são elevadíssimos nas lojas”, contou Catarina.

Dificuldades do trabalho

Amido Chale revelou à Reportagem do @Verdade que a falta de um ajudante para o seu trabalho é que é a grande dificuldade.

Não encontra alguém porque, segundo as suas palavras, a maior parte dos jovens não está interessada em aprender um ofício idêntico ao seu e que lhe possa garantir o auto-sustento. Envolvem-se em actos que não dignificam a sociedade. Alguns cometem assaltos a residências.

Ele queixou-se igualmente da falta de financiamento. Gostaria de beneficiar do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), vulgo “sete milhões”, para, tal como as outras pessoas, impulsionar os seus projectos, mas não tem tido secesso.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!