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Idosa vive na pobreza e no desamparo em Nampula

Idosa vive na pobreza e no desamparo em Nampula

Maria do Rosário Cintura, de 56 anos de idade, natural do distrito de Nampula-Rapale, no posto administrativo de Namaita, mãe de cinco filhos, dos quais dois perderam a vida entre 1999 e 2004, é uma mulher que vive no desamparo. Sem o que comer e nem perspectiva de receber assistência social, ela luta para se manter viva.

Residente no posto administrativo de Muatala, unidade comunal Matadouro, Maria do Rosário mora sozinha desde o ano 2000, após o falecimento súbito do seu esposo com que vivia há mais de 10 anos. Quando ficou viúva, o seu tio, já falecido, convidou-lhe a fixar residência na cidade de Nampula, onde lhe foi atribuído um espaço em que se encontra presentemente a viver.

A idosa, em contacto com a nossa equipa de reportagem, afirmou que depois de o tio perder a vida, começou uma nova maré de dificuldades. Ou seja, passados alguns meses, os sobrinhos obrigaram-na a abandonar o espaço onde está a viver, alegadamente porque ela devia regressar às suas origens. Porém, graças à intervenção das autoridades comunitárias locais, Maria do Rosário continua naquele lugar.

O outro drama é o facto de sofrer privações no que respeita à alimentação. Sem o que comer, ela luta todos os dias para se manter em pé. “Passo dois ou três dias sem comer nada. Às vezes, tenho a oportunidade de ter algumas refeições, sobretudo o almoço ou jantar, quando a minha filha consegue vender cabanga (bebida tradicional confeccionada com base em cereais) ou quando o negócio corre bem”, disse.

Maria do Rosário Cintura conta que durante a vida nunca se dedicou a alguma actividade de subsistência e, muito menos, se sentou no banco de uma escola, facto que ela acredita ser um dos principais motivos do sofrimento por que tem vindo a passar nos últimos dias.

“Muitas vezes, para ter o que comer, tenho ido ao mercado do Matadouro apanhar cabeças de peixe seco ou mesmo grãos de milho para torrar e alimentar-me de modo a não morrer à fome”, diz, para depois acrescentar que algumas pessoas de boa-fé é que lhe dão esmola, o que de, certo modo, garante a sua sobrevivência.

Quando perguntámos à nossa interlocutora se para comer recorreria ao pedido de esmola na via pública, ela disse que não gostaria de fazê-lo, até porque não passa pela sua cabeça tal possibilidade.

“Não quero pedir esmola, e nunca farei isso. Mas há pessoas que passam por minha casa e sugerem-me que vá à cidade pedir, mas eu nunca gostei e não espero enveredar por essa via porque irá piorar a minha angústia”.

A nossa fonte reconhece que o seu falecido tio era a única pessoa que lhe prestava assistência, ou seja, garantia todas as refeições do dia e supria todas as necessidades básicas. Porém, após a sua morte, ela tem vindo a depender do apoio das pessoas de boa-fé e da sua filha, que também não trabalha.

No interior da casa de Maria do Rosário a nossa equipa de reportagem testemunhou um cenário triste. Ela é uma mulher que precisa de amparo. A idosa dorme num espaço onde se encontram amontoados sacos. Além disso, a sua almofada é feita de palhas de milho e de trapos que, segundo ela, colhe nas diferentes alfaiatarias existentes naquela zona.

Todos os filhos são desempregados

Maria do Rosário Cintura contou-nos que dos seus três filhos que teve como resultado do seu casamento, um deles já tinha sido incorporado na PRM, depois de ter cumprido o Serviço Militar Obrigatório nos anos de 1985, mas veio a ser expulso por motivos que até hoje desconhece. Tanto o filho como a mãe não sabem dizer o que na verdade ditou a expulsão. Já lá vão 10 anos.

“O meu filho já foi por várias vezes procurar saber das razões da sua desvinculação, mas nunca teve uma resposta satisfatória ou convincente. Tenho a esperança de que um dia ele será incorporado nas fileiras da PRM”, acredita.

Em relação aos outros dois filhos, Maria do Rosário afirma que “nenhum trabalha ou já teve emprego. Nem o rapaz, tampouco a rapariga. Todos vivemos numa situação lastimável. Os homens casam-se com a minha filha e depois abandonam- na com filhos e nem sequer dão assistência às crianças”.

Forças para cultivar e lavrar a terra

Maria do Rosário Cintura já não tem forças para lavrar a terra. “Gostaria de voltar para a minha zona de origem, mas o que me impede é o facto de sentir que estou, cada vez mais, sem forças na medida em que já tenho uma idade avançada. Além disso, os meus familiares que vivem em Namaíta não querem viver com uma idosa como eu. Como não quero incomodar a ninguém, prefiro morrer à fome e não por discriminação ou maus-tratos”.

A nossa interlocutora avançou que nunca foi discriminada na vida, mas notou indícios porque das vezes que lá foi (à sua zona de origem) ouviu murmúrios e comentários segundo os quais as pessoas idosas dão muito trabalho.

Promessas falsas

Maria do Rosário revelou à nossa reportagem que já foi por várias vezes inscrita pelos secretários do grupo dinamizador do bairro para que pudesse beneficiar da pensão de velhice que alguns idosos têm vindo a receber no posto administrativo de Muatala, mas nunca chegou a ser chamada, não sabendo se o seu nome foi escolhido, se alguém está a usufruir do dinheiro ou se ainda tem de esperar.

“Os secretários inscreveram- me pelo menos duas vezes para receber dinheiro para eu poder sobreviver, mas ainda não recebi nada. Fui também inscrita para receber lajes para construir uma latrina melhorada e nunca mais vi as tais pessoas, até hoje. Tudo não passou de falsas promessas”.

Ameaças

Num outro ponto, a idosa fez saber que tem vindo a viver sob constante medo pelo facto de no local onde está localizada a sua residência existirem dois postos de transformação de energia eléctrica pertencentes à Electricidade de Moçambique que estão sempre a explodir e a arder. “A minha casa é de capim e receio que um dia ela venha a queimar”.

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