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Hospital Rural de Chibuto enfrenta limitação de meios

Hospital Rural de Chibuto enfrenta limitação de meios

O Hospital Rural de Chibuto, na província de Gaza, está a funcionar de forma condicionada devido à falta de ambulância em resultado de uma avariada registada há três meses; a sala de operações está encerrada há mais de três semanas porque os dois cirurgiões de especialidade geral estão ausentes, dos quais um por motivos de doença, e a morgue funciona de forma condicionada, face a constantes oscilações de corrente eléctrica.

A cirurgiã sofreu acidente de viação grave há 21 dias quando se deslocava para a cidade de Maputo a fim de tratar assuntos de trabalho. O outro técnico encontra-se na capital do país num curso e o seu regresso está previsto para Junho do corrente ano. Enquanto o governo provincial não desenvolver esforços para resolver este problema, a unidade sanitária fica desprovida de meios para assistir os pacientes que padecem de doenças que exijam uma operação. Sem ambulância, a transferência de enfermos em estado grave para o Hospital Provincial de Xai-Xai é neste momento impossível e, na tentativa de minimizar esta situação, a direcção do Hospital Rural de Chibuto utilizava uma viatura não destinada ao efeito, a qual está igualmente inoperacional há uma semana. Outro problema crónico com que a unidade sanitária de Chibuto se debate é a falta de água.

Informações em poder do @Verdade dão conta de que no mesmo hospital há escassez de medicamentos, sobretudo paracetamol e quinino. Entretanto, Moisés Maló e Angélica Muchave, director distrital de Chibuto e directora do Hospital Rural de Chibuto, respectivamente, disseram à nossa Reportagem que tal situação não constitui verdade. Eles asseguraram- nos que nunca houve uma rotura de fármacos. Segundo os dois dirigentes, a falta de paracetamol de que os utentes se queixam tem sido ocasional, porém, o cenário nunca foi de tal sorte que algum doente tenha ficado sem remédios. Aliás, a aparente crise deve-se ao facto de se tratar de um medicamento bastante prescrito pelos técnicos de saúde comparativamente à aspirina, que tem a mesma função que o paracetamol.

Num outro desenvolvimento, os nossos interlocutores explicaram que a morgue foi ampliada de três para nove gavetas e admitiram que não funciona normalmente em consequência das oscilações da corrente eléctrica fornecida pela Electricidade de Moçambique (EDM). Relativamente à falta de cirurgiões, Moisés Maló explicou-nos que a direcção do hospital já comunicou às autoridades e sugeriu que se disponibilize também uma residência para o técnico que for contratado. O dinheiro de que a unidade sanitária dispõe não chega para arrendar uma habitação para o referido profissional de saúde. “Uma casa aqui na cidade de Chibuto custa 30 mil meticais por mês e o hospital não possui fundos para arcar com esta despesa.”

Coca-Missava anseia uma vida honrosa

Na localidade de Coca-Missava, no posto administrativo de Malehice, distrito de Chibuto, as condições de vida são impróprias para um ser humano. Os habitantes encontram-se sem meios para aproveitar as riquezas das suas terras aráveis e produzir comida. O acesso a água canalizada, a serviços de saúde e a energia eléctrica são os maiores anseios dos residentes daquele ponto da província de Gaza.

Nos bairros 2000 e 5, por exemplo, da mesma povoação, as dificuldades com que a população se debate são enormes, e a concretização das promessas de uma vida melhor feitas em tempos de campanhas eleitorais não se vislumbram, por isso, ela pensa que, há anos, tem estado a depositar as suas pretensões num saco roto. É que, regra geral, Coca-Missava está com um aspecto de total abandono e os jovens ocupam-se de coisas que não lhe dão nenhum benefício. As inquietações dos moradores das duas zonas acima referidas levam a crer que as autoridades, a quem cabe a obrigação de garantir meios de sobrevivência aos seus cidadãos, independentemente da sua localização geográfica dentro do território sob sua jurisdição, não dão importância a quem vive fora de um centro urbano. Naquela localidade o acesso a tudo é difícil.

Da Estrada Nacional número um (EN1) ao desvio do posto administrativo de Chissano, em direcção à cidade do Chibuto, há uma paisagem enganadora, a qual faz pensar que a província de Gaza surgiu para servir de celeiro da zona sul de Moçambique. A imensidão das zonas férteis é impressionante, pese embora seja uma área cujas vias de acesso estão degradadas. Contudo, a realidade é outra e bastante dura. Fatigados de contornar os buracos que abundam na estrada, à semelhança do que acontece em diversas artérias dos centros urbanos, a Reportagem do @ Verdade estacionou num sítio inóspito para descansar e manteve uma conversa com dois jovens que pescavam num riacho próximo a uma ponte destruída e que, por conseguinte, impede a ligação de “Chissano” ao distrito de Chibuto.

Nelson Macamo, de 22 anos de idade, residente no bairro 5, despendia o tempo tentando obter peixe num pequeno rio com poucas possibilidades para o efeito. “Não há peixe aqui mas não temos outra ocupação”, contou-nos o jovem que abandonou os estudos logo após ter concluído a 7ª classe supostamente por ausência de uma escola secundária na sua localidade ou noutro local cujo acesso não exige que se percorra dezenas de quilómetros, particularmente a pé.

No passado, ele apascentou gado de vizinhos mas a idade já não lhe permite continuar nessa tarefa. Localmente preferem-se crianças porque estas trabalham a qualquer preço. O nosso interlocutor e Armando Tivane, também de 22 anos de idade, alimentam o sonho de um dia viverem num bairro com energia eléctrica e estarem perto de uma escola secundária. “O desenvolvimento ainda não chegou aqui (no Coca-Missava) e ainda dependemos exclusivamente de poços para beber água.”

Após a conversa com os dois jovens e contrariados pelo facto de não podermos seguir viagem por via do troço Chissano/Chibuto, o que pouparia tempo e combustível, esta situação forçou-nos a recuar para a EN1, de onde nos dirigimos para Xai-Xai. Deste ponto, seguimos em direcção ao nosso destino, Chibuto. No bairro 2000, um cenário chamou a nossa atenção: crianças e mulheres tomavam banho e lavavam a roupa num riacho de água totalmente suja. Anastácia Langa, de 30 anos de idade, mostrou-se agastada com o facto de ter que se sujeitar àquela situação por falta de alternativa. Ela disse-nos que antigamente se recorria ao rio Wumbe, onde actualmente há crocodilos. No bairro só existe um fontanário para milhares de pessoas.

Uma professora cujo nome não nos revelou, natural da província de Inhambane, foi afecta à Escola Primária Completa de Magumbuene, em Chibuto, e vive numa casa arrendada, de onde para chegar ao seu posto de trabalho, com o seu filho ao colo, ela percorre, todos os dias, 50 quilómetros entre a de ida ao trabalho e o seu regresso a casa. A docente em causa aufere um salário miserável e queixa-se de várias dificuldades para garantir um ensino de qualidade. É que da paragem para o referido estabelecimento de ensino a docente percorre mais quatro quilómetros a pé, o que faz com que chegue ao destino sem energias suficientes para instruir os petizes devidamente.

Enquanto isso, Anastácia Langa queixou-se do percurso que faz de casa para o hospital e vice-versa. Ela disse que para dar à luz percorreu mais de oito quilómetros para chegar ao Centro de Saúde de Malehice, o mais próximo da sua área de residência. Após o parto, o exercício foi o mesmo porque não há transporte. Rita Salvador, de 26 anos de idade, contou que o seu parto foi realizado em casa porque não conseguiu percorrer a distância entre a unidade sanitária e a sua habitação.

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