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Hospital Central da Beira – Cirurgia delicada

Desde 2004, mais de duzentas mulheres foram submetidas a operações cirúrgicas a fístulas vesicovaginais no Hospital Central da Beira (HCB), uma iniciativa fi nanciada pela Cooperazione Internazionale (COOPI), organização que recebe fundos colectados na região da Toscana, na Itália. As pacientes são provenientes de distritos da província de Sofala e Manica.

A coordenadora da COOPI, Lídia Baiocchi, especialista em cirurgia geral, declarou ao @ VERDADE que na semana em que decorreu mais uma campanha, na qual durante um período de sete dias foram submetidas a intervenções cirúrgicas mais de 30 mulheres com problemas de fístulas visicovaginais, provenientes dos distritos do Búzi, Nhamatanda, Chibabava, na província de Sofala, e Catandica (Manica).

Segundo a fonte, as operações foram efectuadas numa espécie de formação e prática, que envolveu sete cirurgiões de diferentes níveis, os quais tiveram como formador o cirurgião Aldo Marchesini. A equipa de formandos foi constituída por profi ssionais oriundos do Quénia, Maputo, Nampula, Catandica, Búzi e Chibabava, bem como do HCB.

As campanhas deste género são realizadas duas vezes por ano, uma medida que visa a reparação cirúrgica de fístulas vesicovaginais. Depois do tratamento, as mulheres recebem fardos de roupa diversa para venda e o dinheiro daí resultante serve para a compra de produtos que estão em falta, destinando-se a outra parte à aquisição de mercadoria para a comercialização.

De acordo com a fonte, a acção da COOPI não termina com a reparação dos danos, ou seja, fístulas, causados na mulher, pois é também importante evitar a ocorrência desta patologia, através da sensibilização a nível das comunidades no sentido de as mulheres se dirigirem às unidades sanitárias para partos, ao invés de esperar que a situação se torne complicada. O nosso Jornal apurou da entrevistada que este ano a região da Toscana desembolsou 50 mil Euros para as despesas de todo o processo inerente às operações de fístulas vesicovaginais, as quais decorrem em coordenação com a Direcção Provincial da Saúde de Sofala.

 

Diagnóstico

Antes das operações, faz-se um diagnístico às mulheres com fístulas vesicovaginais, fi ndo o qual elabora-se um plano de operações cirúrgicas, porque já se sabe o ponto de situação de cada doente, segundo disse à nossa Reportagem, José Caetano Dias, o cirurgião de serviço no bloco operatório do HCB que tem a seu cargo o exame médico a cada uma das pacientes.

Dias, bacharel em cirurgia, é um dos primeiros alunos formados pelo decano cirurgião Aldo Marchesini, e que agora chefi ou a equipa de sete profi ssionais que durante sete dias estiveram envolvidos nas operações cirúrgicas de fístulas vesicovaginais no HCB. “As operações à fístula são muito complicadas, porque o espaço é muito pequeno. Portanto, é uma cirurgia muito delicada, demorando duas a seis horas. O sucesso nem sempre está sempre garantido.

Às vezes fica-se desaminado e é por isso que esta área não tem muita concorrência dos profi ssionais da Saúde. Diz-se que é uma cirurgia ingrata, mas eu aposto nela porque quero salvar as pessoas, por isso estou aqui a fazer esse trabalho”, referiu Dias. O cirurgião que em 2005 foi considerado apto nesta área, por Marchesini, actualmente ministra cursos de cirurgia versando a operação cirúrgica de fístulas vesicovaginais.

 

O QUE É FÍSTULA?

Chama-se fístula à abertura traumática entre o trato urinário e o meio externo, sendo a causa mais comum o trabalho de parto obstruído. O útero e a vagina são seguimentos do canal genital que, em geral, participam na formação das fístulas urogenitais, predominando a variedade vesicovaginal.

As fístulas são consideradas como um dos grandes problemas ginecológicos, tanto pela complexidade de que se reveste o seu tratamento, como pelos transtornos, devido ao escoamento incontrolável de urina através da vagina, responsável pela humidade e irritação constantes dos seus genitais. A enfermidade pode refl ectir-se também no relacionamento social e familiar da doente, pois, devido ao odor fétido que exala, o convívio com a fi stulosa torna-se constrangedor para ela própria e para os íntimos, levando-a, consequentemente, ao isolamento voluntário, resultando muitas vezes até no abandono do pelo companheiro.

“Mas, de um modo comum, designa-se por fístula um buraco entre a vagina e a bexiga, provocado durante o parto, quando o bebé fi ca encravado num período entre dois e quatros dias, sem que as parturientes se dirijam a uma unidade sanitária”, explicou Lídia. Acrescentou que “a complicação com a fístula prende-se com o facto de se estar permanentemente a perder urina, pois pinga dia e noite, cheirando mal, por isso, as mulheres com estes problemas são abandonadas pelos maridos”, refere, anotando que este problema é frequente em várias regiões de Moçambique. 

 

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