Depois de uma fase de grupos em que classificou-se com uma jornada de antecedência e uma partida dos oitavos de final que decidiu cedo, diante do Chile, o escrete canarinho ainda não havia passado por momentos de pressão na África do Sul. Pelo menos até defrontar a Holanda, nos quartos de final. Ou, mais especificamente, até a segunda parte. E, quando enfrentou a situação de estar em desvantagem no marcador, o Brasil o não foi capaz de reagir e no seu 92º jogo em Mundiais da FIFA perdeu.
Depois de jogar uma primeira parte que provavelmente está entre seus melhores 45 minutos de futebol no Mundial de 2010, onde abriu uma vantagem de um golo por Robinho, e que poderia até ter chegado ao segundo golo, a equipe brasileira sucumbiu, não a velocidade do seu ataque holandês, mas sim pelo jogo aéreo da Laranja que só ficou mecanizada na segunda parte do jogo em Port Elizabeth.
Felipe Melo marcou um golo na própria baliza aos 52 minutos e Wesley Sneijder, de cabeça, fez o resultado de 2 a 1 que sentenciou a eliminação da equipa de Dunga, na mesma fase em que o pais caíra na Alemanha 2006.
Os prognósticos de uma partida fechada e muito disputada a meio campo, entre duas equipes que preferem ficar na expectativa e só depois aproveitam o contra ataque para criar chegar a baliza contrária, confirmaram-se nos minutos iniciais. Tanto brasileiros como holandeses permaneciam quase todos atrás do meio-campo no momento em que o rival tinha posse de bola. Foi um jogo de paciência e estudo mútuo até o Brasil encontrar espaço para abrir o placar.
Primeiro, aos oito minutos, com uma surpreendente entrada de Daniel Alves pela esquerda, onde recebeu livre de Luís Fabiano e passou para Robinho marcar. Daniel, no entanto, estava à frente do último defesa laranja no momento do passe e o golo foi anulado por fora de jogo.
Dois minutos depois, Robinho confirmou o bom momento ofensivo do Brasil, a defesa holandesa atrapalhou-se e ninguém seguiu o camisa 11 no seu deslocamento da direita para o centro do relvado. Felipe Melo viu bem e, de trás do meio-campo, acertou um lindo passe que deixou o atacante do Santos na isolado apenas com Maarten Stekelenburg pela frente, que com estilo rematou de primeira inaugurando o marcardor.
A perder a Holanda veio para frente a procura do empate, e sem desguarnecer muito a defensiva começaram a surgir espaços para contra ataques brasileiros, a melhor arma da equipa de Dunga neste Mundial. E o Brasil, em algumas poucas e talentosas investidas, chegou perto do segundo gol: primeiro, aos 26 minutos, Daniel Alves fez uma boa jogada pela direita após marcação de um canto cruzou para Juan rematar forte, na entrada da pequena área, por cima da baliza Laranja.
Depois Kaká, na sequência de uma bela jogada de Robinho pela ponta-esquerda, Luís Fabiano ajeitou de calcanhar e o camisa dez, na entrada da área, acertou sua típica finalização consciente, de chapa, no canto superior esquerdo para grande defesa Stekelenburg. Ainda antes do intervalo Maicon desceu como uma bala pela direita e bateu firme, na rede lateral holandesa.
No regresso para segunda parte esperava-se uma Holanda muito mais balanceada ao ataque, o que poderia abrir espaço para os contra ataques fatais da equipa de Dunga. Mas com apenas sete minutos de jogo Sneijder rematou cruzou, em arco, a defesa canarinha falhou com a bola a passar por toda a área, e aconteceu o impensável Felipe Melo tocou com a cabeça suavemente e marcou na própria baliza.
Estava restabelecida a igualdade no marcador, com o primeiro golo que o Brasil sofria na própria baliza. Com o empate e uma Holanda entusiasmada, era possível sentir no ar: a seleção brasileira estava diante da sua primeira situação de pressão no Mundial, e como a equipe reagiu?
A princípio, tomando iniciativa e criando lances de perigo, sobretudo uma de Kaká aos 20 minutos, quando tentou fazer um chapéu a Stekelenburg, depois de ganhar um ressalto de um cruzamento, a bola passou a escassos centímetros da trave.
A Holanda também procurava o segundo golo e, como não conseguia com as suas trocas de bola rápidas e nem com passes milimátricos utrapassar a muralha defensiva do Brasil, trajado azul e amarelo, foi de bola parada que a Laranja deu a cambalhota no marcador.
Canto de Robben na direita, aos 23 minutos, no primeiro poste Kuyt desviou de cabeça para o centro da pequena àrea onde Sneijder, sozinho rematou de cabeça para o 2-1. Ele que habitualmente faz o cruzamentos fatais comemorou apontando para a própria testa ainda incrédulo. Pela primeira vez no Mundial de 2010, o Brasil estava a perder.
E, para aumentar a pressão cinco minutos depois do golo os brasileiros passaram a jogar com um a menos, quando Felipe Melo recebeu um vermelho directo depois de fazer falta e ainda pisar em Robben. Os espaços agora eram escandalosos e para a Holanda. E a pressão, algo desordenada, algo nervosa, dos brasileiros. O suficiente para transformar, nos últimos 20 minutos, o estádio de Port Elizabeth num caldeirão de nervosismo, mas o sonho do hexa acabou em 45 minutos e o Brasil não teve força nem arte para procurar o empate.
Com 100% de aproveitamento no Mundial, até aqui, a Holanda vai jogar na semifinal contra o Uruguai, que venceu o Gana por 4 a 2 na marcação de pontapés da marca de grande penalidade (após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar e prolongamento), esta sexta-feira, no Soccer City de Johanesburgo. A semi final vai ser no dia 6, terça-feira, na Cidade do Cabo.