Londres e Buenos Aires enfrentam um fogo cruzado de comunicados 28 anos após a Guerra das Malvinas, e desta vez a histórica rivalidade pela soberania do arquipélago soma-se a uma importante questão econômica: o petróleo do Atlântico Sul.
Paradoxalmente, apesar da nova dimensão econômica, não haverá uma segunda guerra das Malvinas/Falklands, asseguram analistas. “Não acho que a retórica possa se transformar em outro conflito”, assegurou à AFP Michael Codner, diretor de ciências militares do instituto Rusi de Londres. A razão?
“Londres, que tinha em 1982 apenas alguns soldados nas Falklands (nome inglês das Malvinas) dispõe, hoje, de uma presença muito maior com uma tropa e uma força em terra, mar e ar”, acrescentou. Além disso, “quando o dinheiro começar a fluir, não só a Grã-Bretanha, mas as Malvinas e a Argentina, todos vão se beneficiar”, afirma o jornal Daily Telegraph. “Orgulho imperial” (The Guardian).
“Águas turbulentas” (The Times), “Diplomacia à moda das Falklands” (Daily Telegraph), escrevem os jornalistas, na chegada da plataforma off-shore “Ocean Guardian” ao local de extração, situado a 160 km ao norte do arquipélago de 3 mil habitantes, que conta com mil soldados britânicos, 500 mil cordeiros e impressionantes colônias de focas e leões marinhos.
“As perfurações começarão dentro do previsto, se a meteorologia permitir”, anunciou nesta sexta-feira a Assembleia Legislativa das Malvinas, em um comunicado publicado no Penguin News, o semanário local. “Semelhanças no contexto, com 28 anos de intervalo, estimulam os nacionalismos, mas aqui termina a analogia”, afirma um diplomata europeu em Londres. Em 1982, as tropas argentinas invadiram as Malvinas para resolver os problemas de um regime agonizante.
A aventura foi fatal para a ditadura militar (1976-1983). Enquanto isso, a “dama de ferro” Margaret Thatcher reconquistou o arquipélago e garantiu um terceiro mandato, após 74 dias de uma guerra que matou 649 argentinos e 255 britânicos.
Neste início de 2010, o governo de Cristina Kirchner sofre com problemas econômicos e políticos ao se aproximar do 200º aniversário do primeiro passo para a independência de seu país, enquanto o primeiro-ministro britânico Gordon Brown deve, segundo todas as pesquisas, deixar Downing Street nas próximas eleições.
Entretanto, enquanto o vice-chanceler argentino Victorio Taccetti denuncia a decisão “unilateral e ilegítima” britânica de explorar recursos naturais argentinos, afirma que defenderá sua causa “por meios pacíficos” na ONU. “A luta armada está excluída de nosso horizonte”, insistiu Taccetti nesta sexta-feira. E enquanto o ministério das Relações Exteriores britânico afirma o caráter inalienável de sua soberania nas ilhas desde 1833 e reivindica a legitimidade das perfurações, também elogia a excelente cooperação anglo-argentina em muitos aspectos.
As perfurações, em 1998, de seis poços, confirmaram a presença de petróleo, mas sua exploração não parecia rentável. Doze anos mais tarde, a multiplicação por sete do preço do barril e os progressos técnicos modificaram completamente a situação. Segundo a Sociedade Geológica Britânica, as reservas nas Malvinas podem alcançar os 60 bilhões de barris, ou o equivalente à jazida do mar do Norte, que contribuiu com o Reino Unido por 25 anos.
O arquipélago obtém hoje 60% de sua renda da pesca, mas para os que o veem transformado em um mini Dubai, Juanita Brock, da agência de notícias Falklands Island News Network (FINN) escreve: “Achar que cada habitante das Malvinas será um milionário é totalmente utópico”.