Os antigos trabalhadores da extinta Companhia de Culturas de Angoche (CCA), distrito de Angoche, não desarmam das suas reivindicações, que duram há mais de uma década, para conseguir o pagamento dos valores das suas indemnizações e vencimentos em atraso que, alegadamente, dizem ter direito, apesar do governo e da Assembleia da República terem manifestado há oito anos o seu posicionamento que dava por encerrado o aquela caso.
Neste momento, o grupo de grevistas, estimado em cerca de 2.400 ex-trabalhadores da CCA, ocupa o património imobiliário da sua antiga empresa composto por um total de 17 residências imponentes, além de armazéns e oficinas de automóvel, inviabilizando qualquer acção visando a sua reabilitação ou manutenção, o que coloca em perigo a sua existência. É que a estrutura da cobertura que foi afectada pelos efeitos da passagem do ciclone “Jokwe” há cerca de dois anos permite a infiltração de águas pluviais. Para agravar, a estrutura de madeira das casas, nomeadamente portas, janelas e os respectivos aros apresentam sinais de degradação avançada.
A pintura já não é feita há décadas e, actualmente, as casas estão privadas do fornecimento de electricidade e água potável da rede urbana, encontrando-se algumas delas transformadas em locais de imundice. Neste momento, desconhece-se o legítimo proprietário do referido parque habitacional e dos escritórios porquanto o governo afirma que vendeu-as a um agente económico baseado em Nampula, entretanto, impedido de fazer a sua exploração por parte dos grevistas que ocuparam as infra-estruturas logo que tiveram conhecimento da transacção entre aquelas partes.
Paiva Ibraimo, membro que integra a comissão dos antigos trabalhadores da extinta CCA, disse à nossa reportagem que a decisão de ocupação das residências e de outras infra-estruturas económicas que pertenciam aquela empresa agrícola e pecuária do ramo de castanha de caju e sisal, foi tomada com o objectivo de pressionar o governo a satisfazer as suas exigências apesar do conhecimento sobre o encerramento do caso decretado pela Assembleia da República.
É que segundo Paiva Ibraimo, o governo não vai ficar impávido e sereno numa altura em que os referidos edifícios, que são uma referência que imprime uma beleza singular à cidade de Angoche, estão a ser atingidos por degradação acentuada que pode levar ao seu desaparecimento devido à ausência de trabalhos de manutenção. Perguntamos ao nosso entrevistado se não equacionam avançar para a rentabilização das 17 casas através de um acordo com possíveis interessados na sua ocupação, que são muitos, ao que nos respondeu categoricamente de forma negativa, alegando que o governo podia aproveitar-se da circunstância para usar da força que tem para evitar o retorno da gestão das mesmas à responsabilidade dos grevistas.
Refira-se que este caso foi largamente debatido pelo governo saído das primeiras eleições multipartidárias de 1994 e, anos mais tarde, canalizado à Assembleia da República, que decidiu dar por encerrado, reconhecendo válido o pagamento de indemnizações feito em 2002 a um grupo de 38 trabalhadores por, alegadamente, serem os únicos, entre os mais de dois milhares, com direito por terem vinculo contratual, como efectivos, com o patronato.
Apesar de lamentar o que se está a verificar-se com o património da extinta CCA, as autoridades governamentais distritais e municipais de Angoche furtamse a fazer qualquer comentários em torno do assunto, por, alegadamente, ter merecido análise e decisão final do governo central.