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Governo de Nyusi acaba com subsídio às panificadoras mas permite venda do pão abaixo do peso real

Governo de Nyusi acaba com subsídio às panificadoras mas permite venda do pão abaixo do peso real

O Governo moçambicano que persegue os empreendedores que todos os dias tentam sobreviver através do pequeno comércio informal de rua continua a permitir que as padarias roubem no peso do pão que vendem ao povo, cujo preço aumentou em cerca de 30% no mês de Outubro. @Verdade voltou a pesar o pão que todos os dias é comprado nos municípios de Maputo e da Matola e verificou que na generalidade das padarias o peso é inferior em cerca de metade. Entretanto, devido à queda dos preços das matérias primas à nível global o Governo redireccionou 1,5 mil milhões de meticais dos subsídios do trigo e dos combustíveis para “subsídios de produção”, cuja eficácia no aumento da produtividade é questionada pelos agricultores e camponeses.

“Nós estamos a trabalhar no sentido de implementar a legislação que existe, começamos por fazer de forma pró-activa tendo encontros com a AMOPÃO (Associação Moçambicana dos Panificadores), para chamar atenção, e estamos a trabalhar no sentido de para o próximo ano introduzir a nível das padarias balanças que permitam que os utentes possam aferir se o peso do pão que estão a adquirir é o peso que está anunciado”, afirmou semana finda Ernesto Max Tonela, o ministro da Indústria e Comércio.

A legislação o governante se refere, e não está a ser aplicada, é o Regulamento de Produtos Pré-medidos, aprovado em Setembro de 2013 através do Diploma Ministerial nº 141/2013, e que determina que o peso do pão vendido ao público deveria ser: “45g, 68g, 100g, 130g, 210g, 240g, 450g, 500g e 1000g”.

Contudo os panificadores preferem usar as suas próprias medidas: 75g, 125g, 150g, 200g e 250g em clara violação do Artigo 18 da Secção II do Regulamento a que nos referimos. Além de não cumprirem os pesos pré-definidos pelo Governo os panificadores roubam no peso do pão vendido aos moçambicanos.

O @Verdade verificou que em nenhum das principais padarias o peso do pão corresponde ao indicado no local de venda ao público. Os maiores roubos o @Verdade encontrou em padarias onde o pão que deveria pesar 400 gramas somente tinha 235 gramas, o pão de 250 gramas só pesou 124 gramas, o pão de 125 gramas pesou 73 gramas e o pão de 75 gramas apenas tinha 37 gramas.

Os panificadores violam também o Artigo 19 do Regulamento de Produtos Pré-medidos, pois em nenhuma das padarias que visitamos existe uma balança verificada por entidades competentes para permitir ao consumidor conferir o peso, como preconiza o número 3 desse Artigo.

Perante estas violações o Governo agora de Nyusi, e antes de Guebuza, nunca penalizaram os panificadores contudo continuam a perseguir os moçambicanos que à falta de trabalho formal e digno recorrer aos pequenos negócios de rua para encontrar o seu sustento.

Subsídio ao trigo era ineficaz

O fortalecimento do dólar norte-americano no mercado internacional, mais acentuada durante o segundo semestre de 2015, traduziu-se numa desaceleração das economias mais fortes como da China, Brasil e da Rússia o que resultou numa contracção da procura de commodities no mercado mundial e contribuiu para a queda dos preços de várias matérias primas.

Foto de Adérito CaldeiraSe por um lado a queda dos preços do gás, do carvão, das areias pesadas, do alumínio, do algodão e do camarão, afectou negativamente as receitas de exportação arrecadadas pelo nosso País, com impacto na menor disponibilidade de divisas no mercado, por outro contribuiu para a redução factura de importação do trigo e deveria ter baixado também o custo do petróleo.

Aproveitando a queda dos preços do trigo e do petróleo o Executivo de Filipe Nyusi, que também decidiu mudar a política de subsídios de importação para subsídios de produção, extinguiu os subsídio aos panificadores moçambicanos e as empresas petrolíferas.

“O que o Estado está a fazer (para 2016) é encontrar formas mais eficazes de subsidiar a quem precise, da forma como estava não era muito eficaz além disso estávamos a subsidiar a diferença entre o preço o saco de 50 quilos, tendo em conta a quantidade de trigo adquirido por cada padaria, portanto podia, em teoria, uma padaria adquirir centenas de sacos e vender e ir buscar essa diferença no Estado, não era um mecanismo muito eficaz. E 60% das padaria não usavam (o subsídio), tinham o preço livre mas dentro dos níveis que consideramos” explicou o ministro da Indústria e Comércio.

No Orçamento de Estado aprovado para 2016 estão inscritos 475 milhões de meticais de subsídio para o trigo mais 1,1 mil milhões de meticais para os combustíveis.

Medidas do Governo não vão aumentar a produtividade na agricultura

Ernesto Max Tonela explicou que o Executivo pretende mudar a matriz de desenvolvimento da economia nacional. “Nós temos assistido ao desenvolvimento do sector privado mas grande parte delas são empresas que estão no ramo da intermediação, importam para vender, e nós precisamos de alterar este padrão de desenvolvimento da nossa economia apostando na produção. É na produção que vamos encontrar as soluções para podermos substituir as importações por exportações, e deste modo reduzir o grau de exposição da nossa economia a choques externos que não dependem de acções tomadas pelos actores da nossa economia”, disse o governante em conferência de imprensa na passada sexta-feira(18) após o 2º Conselho de Monitoria do Ambiente de Negócios que reuniu em Maputo a Confederação das Associações Económicas(CTA) e o Governo.

Questionado pelo @Verdade sobre que impacto a revisão do Código do IVA e da Pauta Aduaneira teria para estimular o aumento da comercialização agrícola o ministro explicou que “a par das medidas que tomamos, terão impacto porque se nós dissemos que o custo do tractor é mais barato porque o imposto para importação baixou, e nós não produzimos tractores, julgamos que deste modo estaremos a incentivar a mecanização da agricultura que é um objectivo para o desenvolvimento deste sector. Quando tiramos barreiras tarifárias na importação de alguns insumos para a agricultura, que não produzimos, tornaremos mais barato fazer a agricultura em Moçambique e deste modo assumimos que seria um estímulo para que mais actores envolvidos no sector possam transformar a agricultura de subsistência em agricultura comercial, ou terem incentivos para investirem neste sector”.

“Estas medidas têm que ser complementadas por outras e, no nosso plano para 2016 submetido ao Parlamento e já aprovado, o Governo compromete-se a aprovar um pacote de estímulos ao desenvolvimento da actividade económica em Moçambique. Um exemplo é a questão da remoção de algumas barreiras sobre a cabotagem e deste modo tornar mais barato o custo da logística em Moçambique” acrescentou Ernesto Max Tonela.

Os camponeses não irão beneficiar destas medidas pois a maioria não está formalmente registada como contribuintes da Autoridade Tributária(AT). “As facilidades que o Governo dá em todas áreas de actividade, com destaque para a agricultura, pressupõe necessariamente a inscrição no sistema tributário, ter o NUIT entre outras formalidades”, explicou recentemente o director-geral adjunto para a Área da Reforma Legislativa da AT, Gonçalves Mandava. Muitos camponeses nem sequer Bilhete de Identidade possuem, somente 17,29% dos moçambicanos tinham o principal documento de identificação em 2014.

Foto de Adérito CaldeiraPor seu turno os empresários agrários já vieram dizer, através do presidente da CTA, Rogério Manuel, que estas medidas não irão aumentar a produção e a produtividade na agricultura. “Se eu quero fazer agricultura eu tenho que ir a um banco comercial para ir buscar crédito e o crédito é equiparado aos importadores, eu não posso fazer a agricultura com um crédito para importação, é oneroso. Eu estava a espera de ouvir um Banco de Moçambique a dizer que vamos entrar com uma almofada para aquilo que é o risco que os bancos, porque a subida da taxa de crédito é pelo risco e alguém tem que abraçar este risco. O risco só vai para o agricultor, o Governo tem que ter a sua contra parte para poder baixar o risco na banca comercial”.

“Não estou a ver (a produção agrícola a crescer) sem olharmos para o financiamento. Se houver um financiamento específico direccionado para a agricultura, com taxas de juro muito baixas então sim senhora a agricultura vai aumentar a produtividade” acrescentou Rogério Manuel, que também é empresário agrário, e concluiu que o crédito ideal seria se “fosse abaixo da metade daquilo que é aplicado na banca comercial para importações acredito que sim seria viável”.

O ministro do Indústria e Comércio afirmou que Moçambique é uma economia de mercado e por isso o Governo não pode conceder condições especiais de crédito à agricultura, o sector que mais empregos tem criado e cujo crescimento contribuiria para a auto suficiência alimentar.

“Em relação ao crédito (à agricultura) estamos no economia de mercado a intervenção do Governo é por via da criação, por exemplo, das centrais privadas de registo de crédito e vai ser submetido à Assembleia da República a lei do registo de colaterais, são parte de medidas que complementadas irão assegurar o estímulo ao desenvolvimento do negócio em Moçambique” disse Ernesto Max Tonela.

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