O Ministério moçambicano da Agricultura pretende formular uma estratégia para a mecanização agrícola, tendo, nesse sentido, promovido, semana passada, em Maputo, um encontro de auscultação com agricultores comerciais, tendo muitos criticado a visão do Governo relativamente a este sector estratégico.
Sob a responsabilidade do Centro de Promoção da Agricultura –CEPAGRI, a referida estratégia está enquadrada no Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrário, do Ministério da Agricultura, que é operacionalizado através de programas específicos das diferentes instituições daquela instituição. Durante o encontro, foram abordados vários aspectos ligados à mecanização agrícola, tendo merecido particular atenção a questão de custo do capital que, na opinião de alguns participantes, “é muito elevado, o que dificulta o desenvolvimento da agricultura em Moçambique”.
Muitos agricultores consideram que a agricultura em Moçambique poderia ser mais produtiva, se houvesse um maior investimento na mecanização agrícola, um ambiente encorajador para investimento, regras claras e leis que sejam realmente exequíveis. O encontro, bastante concorrido, foi orientado pelo director do Centro de Promoção da Agricultura, Roberto Albino, e contou com a participação de agricultores operando em diferentes pontos do país, particularmente nas províncias de Maputo e Gaza. “Os senhores não têm a consciência que o dinheiro para agricultura é muito caro”, disse o agricultor e economista César Herculano Guitunga, para quem é inaceitável que o custo do dinheiro para comércio seja igual ao da agricultura.
“Se eu tiver 5.000 ou 50.000 dólares norte-americanos no bolso, prefiro comprar Tentação (bebida alcoólica) para ir vender à Nacala, (na província nortenha de Nampula, porque de lá regresso com o bolso cheio, pois, o risco é reduzido e o tempo de retorno é curto. Eu não posso aceitar que o custo de capital para actividades comerciais seja igual ao custo do dinheiro para agricultura, e isto é falta de visão por parte do Governo”, disse Guitunga, manifestando o seu desagrado com esta situação.
Por seu turno, o agricultor Afonso Quembiza apelou a “uma maior abertura” da parte do Governo no seu relacionamento com os agricultores “porque nós conhecemos o mercado e sabemos o que é que se produz numa determinada região e sabemos que tipos de herbicidas, pesticidas, insecticidas e fungicidas devem ser colocados nas zonas produtivas, e o que nós queremos é espaço, ou seja, que o Governo facilite o nosso trabalho”.
“Nós podemos importar equipamento agrícola, prestar assistência aos agricultores e organizá-los de modo a que possam produzir durante todo o ano, mas tudo isso deve ser feito em coordenação com o Governo, porque se continuarmos assim perdidos como estamos, não vamos andar”, sublinhou o agricultor Afonso Quembiza. Ainda durante a sua intervenção no encontro de auscultação, aquele agricultor disse que “eu entendo que a preocupação agora é pretender fazer em meio dia ou 24 horas aquilo que não foi em cinco anos, mas isso não é possível”, porque não há condições objectivas para isso.
Em Gaza, (sul de Moçambique), o forte é o arroz do Chókwè, onde existem também produtores de tomate, milho, batata e outros produtos, e nós sabemos o que é que esses produtores precisam para produzir, mas falta abertura por parte do Governo”. José Salvador, outro participante no encontro da semana passada, disse que uma agricultura produtiva “precisa de ter uma aliança entre um ambiente que encoraje o investimento, com regras claras, conhecimentos, formação profissional e o investimento estrangeiro no sector agrícola, mas sobretudo um ambiente com regras claras”.
“Foi dito hoje aqui que o custo do dinheiro para agricultura é caro, e não é a primeira vez que o dizemos, mas nada foi feito para tornar o dinheiro mais barato, com a justificação de que a banca é comercial, mas quem define as políticas económico-financeiras do país é o Governo, através do Banco de Moçambique”, sublinhou Salvador.
Segundo ele, a escassez quase generalizada de investimento no sector agrícola em Moçambique, motivada, em parte, por falta de regras claras e leis implementáveis, faz com o país importe, anualmente, cerca de 890.000 toneladas de cereais. “Parte considerável desta quantidade pode ser produzida em Moçambique, se houver uma visão clara da parte do Governo”, acrescentou Entretanto, o director do Centro de Promoção da Agricultura enalteceu as contribuições dos participantes, mas lamentou o facto de nenhum deles indicado a forma como os agricultores podem ou pretendem fazer para que o processo de formulação da estratégia de mecanização agrícola seja mais célere”.
“Nós como Governo, temos o Plano Quinquenal que define metas e planos que o Ministério da Agricultura deve operacionalizar, através do Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrário, e este, por seu turno, é operacionalizado através de programas específicos, nomeadamente, o programa de sementes e o programa de mecanização agrícola, entre outros.