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Girassol denuncia segredos do Quarto

“Se nós soubéssemos o que acontece, nas noites, nos quartos de cada um, provavelmente não nos comunicaríamos (mais) no dia seguinte”. É essa uma das mais célebres frases que Frad diz a Sheila, dois dos mais brilhantes actores do Grupo de Teatro Girassol, na peça teatral O Quarto. A obra que foi apresentada – em estreia – há três anos será reposta no próximo domingo, dois de Março, numa exibição a ter lugar no Teatro Mapiko da Casa Velha.

A seguir à Mulher Asfalto, de Lucrécia Paco, O Quarto, uma peça teatral encenada por Joaquim Matavel, é uma das melhores obras do nosso teatro contemporâneo que o Grupo de Teatro Girassol já ofertou aos amantes daquela forma de arte.

Com um tema pertinente, sobretudo, porque esquivado por vários sectores sociais – as relações conjugais entre heterossexuais em que um dos cônjuges não assume a sua tendência “gay”, por recear a estigmatização – em O Quatro, na sua intriga, os actores trespassam qualquer discussão leviana entre duas pessoas que se amam e travando, de forma crescente e divertida, mas séria, o tal assunto espinhoso, “numa altura em que falar sobre o homossexualismo era um tabu em Maputo”.

Encenada em um só acto e com a participação de dois actores – Juvêncio Simbine (Frad) e Sheila Nhachengo (Sheila) – em O Quarto, o Grupo de Teatro Girassol traz à superfície os vários assuntos relacionados com os segredos de um casal nas várias noites que o mesmo passa em seu quarto, onde tudo acontece, tudo discute-se, tudo revela-se e tudo confessa-se entre ambos.

A obra exibe o diálogo desencontrado de um casal heterosexual (?), no contexto cultural moçambicano, sobre o tema da homosexualidade. Aborda o tema da “antinomia” entre o amor verdadeiro e as convenções sociais, entre o segredo e a abertura, entre o silêncio e o amor-próprio, entre a mentira e a busca da felicidade.

O que sucede – e que fundamenta a intriga – é que ele já não a ama, porque ama outra pessoa. Entretanto, ela não aceita que o amor se acabe. Suspeita que a culpa é duma outra, afinal há sempre um culpado quando uma relação gora as expectativas. E, muitas vezes, esse culpado são os terceiros e não as dinâmicas próprias, endógenas da relação conjugal. É por isso, que Frad é “torturado” pela esposa Sheila.

Mas, para Sheila, que se sente traída, a realidade torna-se mais dolorosa quando descobre que a referida terceira pessoa não é uma mulher, mas é um homem: ou seja, ela está prestes a perder o ser marido para um homem. É neste momento que a peça muda de foco, deixando-se invadir por um outro tema – o homossexualismo.

A ser exibida no próximo domingo, dois de Março, a partir da 18 horas no Teatro Mapiko da Casa Velha, em O Quarto – uma peça intimista – utiliza-se uma linguagem concisa, incluindo recursos cénicos simples e eficientes para retratar, com poesia e sensibilidade, a força dessa relação num ambiente social quase nunca aberto à diversidade de formas de amar.

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