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Furvela: uma localidade parada no tempo

Furvela: uma localidade parada no tempo

À beira da Estrada Nacional número Um (EN1), no distrito de Massinga, um quadro pitoresco sobressai sobre a densa paisagem que caracteriza o posto administrativo de Furvela: um grupo de mulheres e crianças oriundo dos pontos mais longínquos da localidade aproveita o fluxo de água de um pequeno riacho para lavar roupa, pois naquela parcela do país o precioso líquido ainda é um luxo.

Regressávamos de uma viagem fatigante, todavia, proveitosa, pelas cidades e vilas municipais que ficam ao longo da EN1, idos de Maputo e tendo como destino Vilanculos. No percurso de volta à capital do país, onde supostamente há abundância de um pouco de tudo, sobretudo no entendimento das pessoas das zonas rurais, as conversas giravam em torno da “escandalosa” actuação da equipa de arbitragem, no jogo que colocou frente a frente a equipa da casa e a Liga Muçulmana de Maputo.

Duzentos e sessenta quilómetros depois do local de partida (Vilanculos), encontrámos um cenário digno de retratar num quadro de pintura se, diga-se, tivéssemos talento para o efeito. Já estávamos perto da cidade de Maxixe quando vemos, na margem esquerda da EN1, mulheres e crianças agachadas a lavar roupa num pequeno rio, não que se tratasse de um caso isolado, mas não deixa de ser surpreendente pelo simples facto de não ser visto todos os dias. Até porque em Maputo isso é completamente desusado. Diante daquele quadro, relegámos o cansaço para segundo plano e encetámos uma conversa com as senhoras…

Com uma bacia de roupa por lavar na cabeça e uma criança ao colo, Graça Machado, de 37 anos de idade e residente na zona “D” de Furvela, estava pronta para mais uma jornada de trabalho. Perguntámos-lhe o porquê de preterir a privacidade de um lar para lavar roupa aos olhos de transeuntes num rio. A resposta, essa, veio pronta: “não é por vontade própria. Em casa não temos água e venho lavar aqui por ser o ponto mais próximo da minha residência”. O problema de água é mais grave aos sábados e domingos, dias de semana nos quais o único fontanário existente na localidade não funciona.

Uma senhora, por sinal também chamada Graça, porém, de apelido Machava, igualmente residente na zona “D”, encontrámo- la com uma banheira na cabeça, com trouxa, aparentemente suja, mesmo próximo do rio. Ela estava pronta para efectuar a limpeza da sua roupa e perguntámos-lhe o porquê de ir lavar num rio preterindo a privacidade de um lar. A sua resposta, peremptória, foi a mesma de Graça Machado: tal facto prendia-se com a falta de água em casa e que não era por vontade própria estar naquele lugar, para onde chegou depois de caminhar cerca de uma hora.

Há escassez do precioso líquido em Furvela e o problema agrava- se ao domingo, dia em que a única fontanária não entra em funcionamento, sublinhou Graça Machava, que apelou para que o governo local revisse a situação que apoquenta a comunidade.

Por intuição jornalística batemos à porta da uma senhora, por sinal bastante vivida e acolhedora, identificada pelo nome de Rosa Menete Nhassengo, de 57 anos de idade, residente também na localidade de Furvela, zona “B”, há 36 anos. Ela disse ao @Verdade que a falta de água naquela ponto to território moçambicano tem sido uma inquietação de há longos anos. Todas as zonas, que a nossa interlocutora estima serem em número de seis, dependem de um fontanário, facto que provoca enormes filas. Cada habitante espera minutos a fio para obter um bidão de água.

“Há dias em que as pessoas chegam a ficar quase uma hora e meia na bicha, principalmente nas segundas-feiras porque a Escola Primária Completa de Furvela, proprietária do fontanário não fornece água aos domingos.”

Segundo Rosa Nhassengo, no passado o cenário já foi pior, visto que nem uma única bomba havia; os residentes bebiam água do rio, a bomba da escola veio apaziguar o sofrimento, a partir do ano de 1994, e já há algumas pessoas ou pequenas empresas que têm poços, aos quais as pessoas recorrem quando o fontenário avaria ou está em trabalhos de manutenção.

Rosa Nhassengo disse que, apesar destes pequenos avanços, a agonia ainda se faz sentir em Furvela porque o fontanário não consegue responder à demanda. Por isso, mesmo aquele meio serve apenas para fornecer água para beber, sendo que para lavar a roupa as pessoas recorrem à natureza. A senhora descreve o rio como uma dádiva, um bem precioso utilizado para diversos fins pelas comunidades.

Falta posto de saúde

Mas os problemas da localidade de Furvela não se resumem somente à crise de água e a falta de um posto de saúde é outro dilema da comunidade. De acordo com Rosa Nhassengo, à semelhança do que acontece com a fonte de água, existe apenas um posto médico para o tratamento da malária. A alternativa para os que padecem de outras doenças é deslocarem-se a Morrumbene ou Mahangue.

Entretanto, para o efeito, geralmente tem havido sérias dificuldades para as populações devido à escassez de meios, quer circulantes, quer financeiros, pois as viagens são onerosas para os bolsos da gente local, uma vez que o transporte para Morrumbene custa 15 meticais e 10 meticais para se chegar a Mahangue. Esta quantia parece irrisória, porém, é significativa para os residentes daquele ponto da província de Inhambane.

Ficámos a saber, também, de que a deslocação para os postos de saúde de Morrumbene e Mahangue não é, muitas vezes, compensada porque os mesmos registam enchentes e, consequentemente, bichas insuportáveis… Em termos de educação, Rosa Nhassengo revelou ao @Verdade que existem quatro escolas, todas elas primárias, sendo que depois da conclusão deste nível quem quiser continuar os estudos só pode fazê-lo no município de Massinga.

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