O ex-presidente peruano Alberto Fujimori foi sentenciado nesta quarta-feira a seis anos de prisão por três casos de corrupção – espionagem, suborno e compras ilegais -, informou o tribunal que o julgou em um processo que teve início na segunda-feira. Com esta e outras três condenações anteriores, o ex-governante, dono de uma saúde fragilizada, corre o risco de passar seus últimos anos de vida na prisão.
O tribunal também ordenou que o ex-presidente pague uma indenização equivalente a 8 milhões de dólares em favor do Estado e um milhão em favor dos dirigentes políticos e jornalistas que foram espionados por seu regime. Fujimori anunciou que vai apelar da sentença.
O tribunal especificou que a sentença é de seis anos de “pena privativa da liberdade, que vencerá em 10 de Fevereiro de 2013”. Na segunda-feira, Fujimori voltou ao banco dos réus para ser submetido a um quarto julgamento, desta vez por supostos delitos de espionagem telefónica, suborno de congressistas e compra ilegal de meios de comunicação. Durante a audiência, ele aceitou as acusações de que é objecto. Uma das vítimas de espionagem telefônica de Fujimori foi o premiado escritor Mario Vargas Llosa, em 1990, quando era candidato presidencial.
A promotoria pedia que o ex-presidente fosse condenado a oito anos de prisão pelas três acusações e pagasse uma indenização equivalente a 1,6 milhão de dólares ao Estado e um milhão de dólares aos agravados. A promotoria também mostrou provas do pagamento de somas de dinheiro a diversos congressistas para que passassem para as fileiras do partido do governo e da compra ilegal de um canal de tv a cabo como parte de uma campanha para controlar a imprensa e se perpetuar no poder. Fujimori, 71 anos, já havia sido condenado a 25 anos de prisão por violação dos direitos humanos e tem outras duas setenças por corrupção (sete anos e meio e seis anos).
No Peru, as penas não são cumulativas e prevalece a maior. Filho de imigrantes japoneses, Fujimori deteve um poder absoluto entre 1990 e 2000, em que governou o Peru com mão de ferro e com o apoio da cúpula das forças armadas e de seu ex-assessor, Vladimiro Montesinos, a eminência parda de seu regime. Fujimori cultivou no poder um estilo autoritário e um temperamento de homem frio, desconfiado e pouco comunicativo, que governava cercado de um círculo íntimo de pessoas.
Assim aconteceu quando realizou o autogolpe de Estado de 5 de Abril de 1992, uma operação conhecida paenas por Montesinos e os máximos chefes militares, com absoluto desconhecimento de seu gabinete ministerial. Durante seu governo, o ex-presidente, popularmente conhecido como ‘el Chino’, aplicou um modelo económico neoliberal que serviu para ganhar o apoio das classes dirigentes do Peru, dos empresários e dos organismos financeiros internacionais. Seus seguidores assinalam que Fujimori derrotou a guerrilha maoísta Sendero Luminoso e o Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), mas organismos de direitos humanos denunciaram matanças de civis inocentes nessa luta.
Um dos episódios que marcaram sua gestão foi o desenlace da tomada de reféns na embaixada do Japão em Abril de 1997 pelo MRTA. Depois de quatro meses de cerco, 71 dos 72 reféns foram libertados (um morreu) e os 14 rebeldes foram mortos em uma operação que recebeu elogios dos governos e questionamentos dos organismos de direitos humanos, que consideram que os guerrilheram foram executados.
A estrela de Fujimori se apagou em 2000 quando, em meio a escândalos de corrupção, renunciou à presidência via fax no estrangeiro, quando participava em uma cúpula da Apec, em Brunei, antes de partir em busca de asilo no Japão, aproveitando sua dupla nacionalidade.