A cidade de Angoche é um município com características próprias. Ao contrário de muitas outras urbes do país, ela é limpa, pelo menos na zona urbana, apesar de ainda prevalecerem os problemas relacionados com a falta de asfalto em algumas vias de acesso. Segundo Américo Adamugi, presidente do Conselho Municipal de Angoche, a edilidade tem feito de tudo para mantê-la limpa. Até agora, ainda de acordo com o edil, foram cumpridos 90 porcento das actividades planificadas, porém, quanto à possível recandidatura à sua própria sucessão, ele afirma: “Se o partido achar que devo continuar com os projectos, estarei de acordo”.
@Verdade (@V) – Qual é o balanço que faz do seu mandato?
Américo Adamugi (AA) – Relativamente ao cumprimento do meu mandato, a avaliação que fazemos, como executivo de Angoche eleito nas eleições de 2008, é positiva. Fazemos um balanço positivo, visto que aquilo que era o nosso compromisso, a nossa promessa para com os munícipes, na sua maioria, foi cumprido.
No que respeita a infra-estruturas, como o melhoramento de estradas e a construção de pontes a nível da cidade de modo a permitir a comunicação entre os bairros, está a ser feito. Em relação à saúde, também tínhamos um compromisso, uma vez que grande parte dos munícipes vive distante dos serviços de saúde.
Portanto, tivemos de construir um Centro de Saúde no Km 13, que poderá ajudar a população que vive em 10 bairros circunvizinhos. São bairros que ficam distantes da zona urbana e o município de Angoche contava apenas com um e único hospital rural. Havia sempre uma demanda muito elevada no que tange aos cuidados de saúde.
(@V) – Antigamente era comum ver vendedores de pescado a circularem pela cidade perscrutando potenciais clientes e, presentemente, o cenário parece ter mudado. O que foi feito?
(AA) – Nós construímos um mercado de venda de pescado. Esse mercado é exclusivamente para vender produtos pesqueiros e não outros, mas não está vedada a outros bens. Importa referir que o principal produto é o pescado. Outrora, deparámo- -nos com pescadores ou vendedores de pescado a circularem pela cidade à procura de compradores, entretanto, decidimos inverter o cenário de modo que os consumidores passassem a procurar os produtos no mercado. E isso está a ser muito benéfico, tanto para os vendedores como para os consumidores.
(@V) – Angoche pode orgulhar-se de ser uma das poucas cidades limpa do país, mas na zona suburbana o saneamento do meio ainda é problemático. O que é que está a falhar?
(AA) – Em termos de saneamento do meio, o estado em que se encontra a urbe reflecte o esforço da edilidade, aquilo que temos feito. A nossa cidade é limpa, apesar de não termos meios sofisticados. Estamos a trabalhar com dois tractores, um dos quais se encontra avariado, mas fazemos o máximo de modo a manter limpa a nossa cidade. Há dificuldades na recolha de lixo na zona suburbana devido à falta de vias de acesso. As que existem são bastante estreitas e não permitem a circulação do tractor.
(@V) – Relativamente ao ordenamento territorial, o que tem vindo a ser desenvolvido?
(AA) – Durante este mandato fizemos a demarcação de cerca de 958 talhões, dos quais 735 já foram atribuídos a número igual de munícipes. Também de referir que tínhamos a situação da população que invadia a encosta do monte Parapato, por sinal uma zona de risco. Tivemos que reassentar essas pessoas, 157 famílias, em lugares seguros. Interditámos a construção de habitações e a abertura de machambas porque contribuem para a erosão.
(@V) – Na componente social, incluindo a cultura e o desporto, quais são as actividades levadas a cabo pelo município?
(AA) – As áreas de cultura e desporto têm sido o nosso forte. Temos apoiado as equipas de futebol. E no pelouro de Juventude e Recreação também têm sido planificados campeonatos recreativos, envolvendo muitos jovens da nossa cidade e têm sido bastante competitivos e, no final de cada competição, tem havido premiação em termos de material desportivo, como equipamento e bolas.
Apoiamos também aos nossos grupos culturais que têm abrilhantado vários momentos de vida da nossa urbe, sobretudo o dia da cidade que tem sido bastante emotivo, não só para os munícipes de Angoche mas também para outras pessoas que vivem fora deste município. Quando chega o dia 26 de Setembro, o dia da nossa cidade, Angoche torna-se o ponto de convergência de muita gente.
Além disso, o nosso apoio social estende-se às famílias carenciadas. Apoiamos com material funerário, já apoiámos 187 famílias, disponibilizando panos e madeira para realizarem um funeral condigno para os seus familiares. Temos apoiado crianças desfavorecidas, ajudámos 236 menores de idade fornecendo material escolar, dos quais 152 órfãos, 13 deficientes e 71 crianças vivendo em extrema carência.
Apoiámos 27 famílias vítimas de incêndio com kits de roupa, material escolar e de construção. Ajudámos outras 47 vítimas de enxurradas oferecendo material de construção e alimentos. Portanto, quando fazemos o balanço das nossas actividades, constatamos que o cumprimento do nosso manifesto eleitoral ou programa de governação 2009-2013 até agora é de 90 porcento.
(@V) – O que é que falta fazer de modo que se cumpra o manifesto em 100 porcento?
(AA) – Temos alguns desafios. Primeiro, está em construção uma morgue onde vamos instalar uma câmara de conservação de pelo menos seis corpos. Também vamos adquirir uma viatura funerária porque o que temos vindo a assistir quando acontece algum falecimento tem sido bastante triste.
Há vezes que o cadáver é levado numa bicicleta ou motorizada. É triste. Mas nós já lançámos um concurso público, penso que até este mês de Junho a empresa que ganhou vai-nos fornecer a viatura de modo que façamos esse trabalho. Outro desafio são as vias de acesso.
A situação das vias de acesso é crítica, ainda há muitas estradas a serem pavimentadas. Neste momento, estamos a asfaltar a via que liga Mawipe Pescas, ou seja, estamos a ligar o porto de pescas à cidade, numa extensão de três quilómetros e 600 metros. Nós priorizamos esta estrada por causa do escoamento dos produtos pesqueiros.
Já estão asfaltadas cerca de dois quilómetros. O trabalho ainda está a decorrer e a empresa encarregue pelo trabalho promete até ao final de Setembro entregar a obra. Este é que é o grande calcanhar de Aquiles que nós temos relativamente às nossas realizações. Por outro lado, temos as vias internas da cidade, não estão todas pavimentadas, algumas estão esburacadas e precisam de ser melhoradas. Mas essa é a nossa aposta no futuro.
(@V) – E o acto de defecar a céu aberto não preocupa a edilidade?
(AA) – Essa prática do é um fenómeno bastante difícil de resolver e para o seu controlo precisamos de fazer um estudo muito minucioso. Estávamos a pensar em colocar sanitários públicos ao longo da costa, principalmente nos bairros de Inguri e Mossorire porque isso só acontece nessas zonas residenciais. Mas temos a situação de casas que estão bastante apinhadas que vão até à costa e é por isso que disse que é uma situação que devemos estudar para o seu controlo, mas constitui um dos nossos desafios.
(@V) – Qual é a situação económica do município, sobretudo no que toca à arrecadação de receitas?
(AA) – O município de Angoche, em termos económicos, se pudermos ver aquilo que é o parque industrial que suportava, ou que transformou Angoche em cidade, está todo destruído. Refiro-me à fábrica de descasque de castanha de caju. Na altura, tínhamos três grandes fábricas que, em termos de postos de trabalho, conseguiam absorver a mão-de-obra dos distritos vizinhos como Moma, Mogovolas e Mongicual porque o pessoal de Angoche era absorvida e ainda se necessitava de mais trabalhadores.
Também algumas fábricas de processamento de pescado ruíram, falo da Emopesca e Angopesca. Agora temos pequenas fábricas de processamento de pescado, como é o caso de Diamantes Mariscos, temos a SC Global e temos a Pesca Norte que são pequenas unidades fabris que conseguem absorver 20 a 30 trabalhadores cada uma delas.
Pelo facto de não termos grandes indústrias, tanto de castanha como de processamento de pescado, a renda do município é bastante reduzida, daí que a maior parte do rendimento das famílias vem do comércio informal. O pequeno negócio de amendoim e bolinhos ao longo dos passeios é o que existe e isso não permite termos receitas fabulosas. Presentemente, a nossa receita ronda nos dois milhões e trezentos mil meticais por ano.
(@V) – Pensa em recandidatar-se?
(AA) – Bem, para estar neste mandato 2008-2013 mereci a confiança do meu partido, se o meu partido continuar a confiar em mim, penso que, como disciplina partidária, não posso recusar o desejo do meu partido.
(@V) – Tendo em conta que cumpriu o seu manifesto em 90 porcento, acredita que o seu partido depositará confiança em si?
(AA) – Penso que até aqui não existe uma objecção relativamente à minha recandidatura. Se o partido achar que devo continuar com os projectos, estarei de acordo.