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Autárquicas 2013: Angoche, desenvolvimento adiado

Ancorado na zona costeira da província de Nampula, Angoche é um dos poucos municípios com todas as condições necessárias para se tornar uma das principais cidades, em termos económicos, do país. Porém, a precária via de acesso Nampula-Angoche, um percurso de pelo menos 185 quilómetros, adia eternamente o desenvolvimento daquela urbe que também é conhecida por Parapato pelos nativos. Com quase todas as grandes indústrias paralisadas, presentemente, grande parte dos munícipes dedica-se ao comércio informal, remoendo-se com lembranças do tempo em que a autarquia absorvia tanto a mão-de-obra local como a dos distritos circunvizinhos.

À entrada da cidade, o cenário é este: ruas, planas e largas, sem trânsito intenso, edifícios em bom estado de conservação e jardins com algum tratamento de louvar. A primeira impressão que se tem é de uma urbe rejuvenescida e limpa. Mais para o interior do município a imagem é de uma zona residencial nobre.

Porém, quando se circula no meio urbano, depara-se com uma outra realidade: poças de água, estradas de terra vermelha e infra-estruturas sociais e económicas em ruínas. Apesar desse contraste, Angoche apresenta uma estrutura urbana bem distinta das demais autarquias moçambicanas.

O município, com uma população estimada em 172 mil habitantes distribuídos em 36 bairros, já foi, diga-se de passagem, um complexo económico gigantesco. Parapato, como também é conhecida a cidade, dispunha de grandes indústrias de processamento de castanha de caju, sisal, arroz e de produtos pesqueiros, tais como peixe e camarão, empregando centenas de pessoas, tanto nativas como oriundas dos distritos que gravitam à sua volta, não obstante ser uma autarquia costeira. Presentemente, quase todas as fábricas encontram-se encerradas.

A nível da província de Nampula, além das suas potencialidades pesqueiras, Angoche é um dos principais produtores de milho, arroz e mandioca. Mas, apesar disso, o município vê o seu desenvolvimento ser adiado a cada dia que passa. A falta de asfaltagem da estrada que liga Angoche a outros pontos do país é a principal razão do retardamento do progresso da urbe em particular, e do distrito em geral. O percurso de 185 quilómetros da estrada de terra batida, Angoche – Nampula (cidade) é feito em precárias condições.

A responsabilidade na colocação de asfalto é incumbida à Administração Nacional de Estradas (ANE). Na verdade, já existem planos de construção da rodovia. À guisa de exemplo, pode-se mencionar as placas colocadas ao longo do percurso. Porém, entre a intenção e a realidade existe uma diferença abismal, quando se olha para o que já foi feito até hoje, ou seja, quase nada foi realizado.

A precariedade da via de acesso não só retrai investimentos nas áreas de produção agrícola e pesqueira, como também posterga o surgimento de uma indústria turística extremamente forte. O município de Angoche dispõe de uma vasta costa com condições invejáveis para o desenvolvimento do turismo.

A nível do município ainda há muito por ser feito, principalmente no que respeita a estradas, ordenamento territorial e saneamento do meio nos bairros suburbanos, embora se perceba que tem havido um esforço por parte das autoridades municipais no sentido de proporcionar o bem-estar aos munícipes de Parapato.

Na componente de estradas, a edilidade reconhece que a questão das vias de acesso é bastante crítica em quase toda a urbe. Grande parte das estradas necessita de pavimento. Neste momento, decorrem obras de asfaltagem da via que liga o porto de pescas à cidade numa extensão de três quilómetros e 600 metros. A mesma vai permitir o escoamento de produtos pesqueiros.

Aliado à precariedade das vias públicas, está o problema da falta de ordenamento territorial em alguns bairros periféricos. Todos os dias, cresce o número de construções desordenadas com materiais não convencionais, na sua maioria nas regiões de grande risco, uma vez que a cidade é propensa à erosão. A título de exemplo, no passado mês de Março, o município de Angoche foi assolado por uma enxurrada que provocou o desabamento de muitas habitações no bairro da Horta.

Há alguns anos, num processo com vista a prevenir a ocorrência de uma catástrofe devido ao deslizamento de terras, foram criadas zonas de expansão para acolher mais de 500 famílias. Importa referir que, durante o mandato em curso, o Conselho Municipal de Angoche já distribuiu pelo menos 700 talhões, dos 958 terrenos demarcados.

A gestão de resíduos sólidos é outra questão que preocupa a edilidade. Na zona urbana, é praticamente difícil deparar-se com o lixo na via pública. Com apenas dois tractores, um dos quais se encontra neste momento avariado, o Conselho Municipal mantém a zona de cimento limpa. O processo de recolha é feito diariamente. Porém, o mesmo não se pode dizer relativamente aos bairros suburbanos, onde a situação é dramática. Os munícipes depositam os resíduos sólidos ao ar livre e nas proximidades do mar.

A defecação a céu aberto também tem vindo a ganhar contornos preocupantes. Trata-se de uma prática que é encarada, diga-se de passagem, normalmente pelos moradores e as autoridades municipais de Angoche ainda não têm o controlo da situação. De acordo com a edilidade, estava a pensar-se na colocação de sanitários públicos ao longo da costa, no entanto, devido às inúmeras habitações que foram sendo erguidas de forma desordenada ao longo da mesma, o fenómeno exige uma nova avaliação.

Enquanto não é encontrada uma solução para o problema, centenas de munícipes recorrem à beira- mar para fazer as suas necessidades biológicas, tanto durante o dia como à noite. Os bairros de Inguri e Mossorire são as zonas onde a defecação a céu aberto se verifica com maior intensidade. A qualquer hora do dia é comum ver homens, mulheres e crianças a deslocarem-se à praia para defecar.

Desemprego acentuado

A questão de desemprego em Angoche é acentuada. As circunstâncias degradaram-se com o desaparecimento das grandes indústrias que antigamente empregavam milhares de trabalhadores e galvanizam a economia local. E como resultado disso, a actividade informal cresceu. O comércio formal acontece de forma tímida.

Para os mais jovens, presentemente, a situação é mais difícil. Não há emprego. A sua maioria opta pela pesca ou venda de produtos pesqueiros para sobreviver. Os aventureiros emigram para a capital do norte em busca de oportunidades, muitas vezes, ilusórias.

Rachid Ali, de 27 anos de idade, terminou a 12ª classe há três anos e mostra-se frustrado com a falta de oportunidades de emprego naquele município. Nasceu em Angoche e diz que “gostaria de viver nesta cidade para sempre, mas sinto-me obrigado a procurar a sorte noutro lugar, como na cidade de Nampula, por exemplo”.

O projecto de areias pesadas de Sangage que poderá impulsionar o desenvolvimento económico e social da urbe parece não o deixar animado. “Não sei se isso vai trazer grandes mudanças, pois os nativos vão exercer as actividades menos qualificadas”, comenta e afirma peremptoriamente: “a mão-de- -obra virá de fora como tem vindo a acontecer em Moma”.

Saúde e Educação

O acesso aos serviços básicos de saúde ainda é deficitário no município de Angoche. Além do atendimento ser demorado devido às filas enormes, os munícipes percorrem longas distâncias para obter cuidados médicos. Há bem pouco tempo, a autarquia contava apenas com o Hospital Rural. Actualmente, já dispõe de mais uma unidade sanitária. Trata-se de um centro de saúde construído no bairro do Quilómetro 13, que serve as populações de 10 bairros, dos 36 que existem.

Na área de Educação, o cenário é entristecedor, pois centenas de crianças estudam em péssimas condições. “Durante a campanha eleitoral encontrávamos crianças a estudarem ao relento. Nesses bairros, quando chovesse elas não tinham aulas, o mesmo acontecendo quando fizesse muito sol”, lembra o presidente do Conselho Municipal da cidade de Angoche, Américo Adamugi.

Para reverter a situação, foram construídas 12 salas de aulas com os respectivos blocos administrativos e sanitários, distribuídas em quatro escolas. Além disso, foram abertos furos de águas nessas instituições de ensino, para o benefício não só dos estudantes, mas também das populações circunvizinhas.

Apesar desse esforço, prevalece a situação de alunos que se sentam no chão e estudam em salas de aulas construídas com material precário ou ao relento. A título ilustrativo, nas escolas primária 26 de Setembro e Eduardo Mondlane, nos bairros da Boleia e Horta, respectivamente, algumas crianças estudam debaixo das árvores e outras em salas de macuti a caírem aos pedaços.

Abastecimento de água

A situação de água é bastante difícil, em quase todo o país, e o município de Angoche não é excepção. Há pouco mais de cinco anos quase que não se consumia água potável em Parapato. O líquido que jorrava das torneiras era imprópria para o consumo humano. Porém, o cenário mudou quando o Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG) se instalou em Angoche. Presentemente, a taxa de cobertura é de 30 porcento contra os antigos 18 porcento. Porém, a luta é elevar a percentagem. Neste momento, o município conta com 2594 ligações feitas.

A população percorre dois a três quilómetros para ter acesso a água potável, pois grande parte dos bairros da autarquia depara com problemas sérios de falta do precioso líquido para o consumo. Existe pelo menos em cada um deles um furo, só que não é suficiente para abastecer todos os moradores. Há uma necessidade de se abrir mais poços.

A zona mais crítica é Murruquine, uma vez que, devido à sua característica, é difícil encontrar água porque o lençol freático está a grandes profundidades. Os residentes têm recorrido ao bairro vizinho de Naholoco onde existem dois furos.

Rede eléctrica

Os bairros do município não estão todos iluminados, apesar de a cidade já contar com a energia de Cahora Bassa há bastante tempo. Neste mandato, a edilidade fez chegar a energia eléctrica aos bairros de Tamole, Serema, Km 13 e Cuanha, mas o desafio ainda prevalece. A percentagem actual ronda os 60 a 75 porcento, e o raio da área municipal é de cerca de 15 quilómetros. As zonas residenciais mais críticas são Namaripe, Morrua e Mahile.

“A nossa aposta é no futuro fazermos chegar a esses bairros. Temos a empresa de areias pesadas e ela tem a responsabilidade social, cremos que vai trabalhar nesse sentido, uma vez que a fábrica de processamento será instalada em Morrua”, afirma o edil de Angoche.

Município de Angoche em números

Vereações: 8

Funcionários do Conselho Municipal: 301

Ligações de água: 2594

Cobertura de energia eléctrica: 60 a 75 porcento

Unidades sanitárias: 2

Bairros: 36

População: 172 mil habitantes

Hélder xavier

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