As Farc compararam, esta Quarta-feira (20), o governo colombiano com o personagem “Pinóquio”, uma das mais fortes reacções da guerrilha à acusação repetida de que tirou terra dos camponeses no meio do conflito armado interno a que tentam pôr fim num diálogo em Cuba.
Durante as discussões da espinhosa questão agrária, a primeira da agenda de negociação de paz e sobre a qual ambas as partes só reconheceram “aproximações”, o governo do presidente Juan Manuel Santos agilizou a devolução de terras que garante que foram ocupadas ilegalmente pelas Farc.
“O governo colombiano confunde-se com Pinóquio, cada vez lhe cresce mais o nariz”, disse em Havana a jornalistas um dos negociadores das Farc, Jesús Santrich. Em diversas ocasiões, o grupo rejeitou ter pego terras dos camponeses.
O ministro colombiano da Agricultura, Juan Camilo Restrepo, voltou a indicar a guerrilha, Terça-feira, quando anunciou que serão recuperados 100.000 hectares de terras que foram ocupadas de maneira irregular para entregá-las a camponeses pobres.
“Chamar de Pinóquio é estúpido”, enfatizou Santrich pouco antes de ingressar no Centro de Convenções de Havana, onde ocorre a quarta rodada de negociações entre o governo colombiano e as Farc.
A guerrilha de inspiração marxista e o governo iniciaram nos meados de Novembro um diálogo no qual discutem o tema agrário, o fim do conflito, as garantias para a participação política, o narcotráfico e a indemnização às vítimas. Ainda estão no primeiro ponto.
Durante as negociações, ambos questionaram a disposição real dos seus parceiros de alcançar a paz e rejeitaram os bombardeios, ataques e sequestros que aumentaram nas últimas semanas.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), consideradas terroristas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, apresentaram propostas que, entre outras coisas, pedem medidas para tirar da pobreza os camponeses e desenvolver a produtividade da terra colombiana.
A equipe negociadora do governo, liderada pelo ex-vice-presidente Humberto de la Calle, não deu declarações, esta Quarta-feira, mas ao término do ciclo anterior, a 10 de Fevereiro, garantiu que o “bom ritmo” do diálogo dependerá da manutenção da agenda acordada.
“Uma coisa é o que as Farc dizem em público como parte da sua plataforma … E outra coisa é o que se fala na mesa”, disse em comunicado.
As duas partes concordaram em manter em total discrição o desenrolar das negociações, alegando que no passado o uso desmedido de microfones fez fracassar tentativas similares de se chegar à paz numa nação que já sofreu com milhares de mortes e o desalojamento de pessoas em meio século do conflito sangrento.