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Fábrica de antirretrovirais da Matola será uma referência em África

Fábrica de antirretrovirais da Matola será uma referência em África

A chuva, embora longe da intensidade da véspera, voltou a fazer das suas na visita, esta quarta-feira de manhã, do presidente brasileiro, Luíz Inácio Lula da Silva, à fábrica de antirretrovirais da Matola, o mais importante projecto de cooperação em curso entre o Brasil e Moçambique na área da saúde, naquilo que foi o último acto oficial desta sua terceira visita a Moçambique e a última a África.

A estrutura está prevista iniciar a laboração em 2012 e até lá ainda há muito a fazer como lembrou Lula que disse esperar ser convidado para a sua cerimónia de inauguração, “apesar de já não ocupar a presidência do país nessa altura” – irá ceder o lugar a Dilma Rousseff no próximo dia 1 de Janeiro.

Após um passeio pelo interior do empreendimento industrial, sempre acompanhado pelos ministros da saúde de Moçambique e do Brasil, Alexandre Manguele e José Gomes Temporão, respectivamente, Lula assistiu ao funcionamento de uma das máquinas que estão a ser testadas e, segurando uma carteira de comprimidos na mão, deixouse fotografar, gracejando: “Isto ainda é só farinha. Não é remédio.”

EUA consomem metade

Depois tiveram lugar os discursos de circunstância. Primeiro tomou a palavra o ministro da saúde de Moçambique. Manguele disse que este empreendimento é “um grande marco na cooperação entre os dois países. Os nossos povos dão hoje um sinal claro e inequívoco da amizade e solidariedade entre os dois países.”

Esta fábrica “irá aumentar a esperança de vida dos moçambicanos, aumentando a produtividade no trabalho. Este projecto enquadra-se na estratégia do governo moçambicano que preconiza a cobertura universal dos cuidados de saúde para todos, onde todos deverão ter direito e acesso a serviços e bens de saúde gratuitamente.

Por fim recorreu aos números: “Hoje, em Moçambique, o número de pacientes que recebem tratamento antirretroviral subiu de seis mil em 2004 para mais de 200 mil.”

O seu homólogo brasileiro, José Gomes Temporão, partilhou “uma coisa que poucos sabem”: “Metade de tudo o que é consumido no mundo a nível de medicamentos está concentrado num único país: EUA”. Ao invés disso, “uma grande parte dos países do mundo lutam com grande dificuldade para ter acesso aos benefícios da ciência médica.”

Depois, lembrou o repto que o presidente Lula lançou num congresso mundial de saúde que teve lugar no Brasil, em 2006. Lula disse que o Brasil, com a sua experiência de 20 anos de serviço nacional de saúde gratuito, centralizado e participativo, iria colocar a sua experiência no campo da saúde ao serviço dos países pobres. “Nós assumimos o seu desafio, como demonstram os números: 30% do total da cooperação brasileira são destinados à saúde.”

Olhos verdes versus olhos castanhos

Por fim, Lula tomou a palavra para dizer que “é mais fácil sonhar do que realizar”, numa clara referência à demora do projecto. “Nem sempre as coisas correm como nós gostaríamos” mas “o facto de estarmos construindo a primeira fábrica de medicamentos para combater o AIDS (os brasileiros utilizam a sigla inglesa para se referirem à Sida) no continente africano pode ser apreciado quase como uma revolução.”

E prosseguiu: “Nós falamos muito em ajudar o continente africano porque temos uma dívida histórica que não pode ser mensurável em dinheiro, em matéria, mas que pode ser mensurada em solidariedade.” Depois prometeu: “Da parte brasileira as máquinas já estão encomendadas. Mas essas máquinas de produção de medicamentos não são como automóveis que a gente vai numa revendedora e tem uma plêiade de automóveis para escolhermos. As máquinas são feitas por encomenda. A partir de Março elas chegarão a Moçambique.”

No final da sua intervenção voltou à falar da dívida histórica. “Não temos o direito de ficar insensíveis ao sofrimento do povo africano. Somos a segunda população negra do mundo, depois da Nigéria, e o que estamos a fazer não é mais do que cumprir a nossa obrigação. Porque noutros governos as pessoas preferiram olhar para os olhos verdes da Europa do que para os castanhos de África. Eu espero estar aqui como convidado para tirar o primeiro comprimido junto com o presidente Guebuza. Parabéns e boa sorte ao povo de Moçambique.”

Recorde-se que esta estrutura industrial, quando estiver em pleno funcionamento, irá produzir 250 milhões de comprimidos por ano, suprindo totalmente as necessidades de Moçambique e de grande parte dos países da SADC.

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