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Expo Cultural Africana sublima artistas anónimos

Expo Cultural Africana sublima artistas anónimos

A desvalorização da cultura moçambicana, a favor da estrangeira, pela nossa camada juvenil motivou, muito recentemente, um grupo de jovens a realizar a Expo Cultural Africana. O evento multidisciplinar teve lugar no campus da Universidade São Tomás, em Maputo, e visa resgatar valores culturais supremos e ampliar a visibilidade da criatividade da juventude.

São na sua maioria estudantes da Universidade São Tomás de Moçambique e prezam a cultura moçambicana. Por isso, o acentuado conhecimento da nossa moçambicanidade – o que procuram preservar – é um dos valores que orientam a sua acção em prol da preservação desse bem comum e colectivo, a cultura. Na Universidade São Tomás de Moçambique existe o Departamento de Cultura e Desporto.

É lá onde os jovens em referência arquitectaram a Expo Cultural Africana, evento que, no sábado, 13 de Setembro, reuniu estilistas, modelos, artistas plásticos, artesãos, músicos e costureiros. É a propósito disto que falámos com Wilson António Jorge, o representante da colectividade. De acordo com o nosso interlocutor, a associação surge como resposta à necessidade de haver um intercâmbio no seio de diferentes segmentos da cultura moçambicana, focalizando-se especial atenção no criador pouco conhecido. Por essa razão, “criámos condições para que fazedores de diferentes formas e tipos de arte intercambiem as suas experiências e produções”.

Um problema a combater

Os realizadores da Expo Cultural Africana analisaram a nossa realidade social, tendo em conta o comportamento da juventude, e perceberam que há uma acentuada desvalorização da cultura moçambicana. É a propósito desta situação que se começou a procurar respostas para estas questões: “Como é que podemos resgatar a nossa cultura, envolvendo a juventude? Como é que, a partir de um intercâmbio artístico multidisciplinar, podemos transformar este estado de coisas?”.

A solução encontrada para o problema é a realização de feiras culturais, como é o caso da que ocorreu recentemente. Os criadores desta actividade multicultural precisavam de agir, mas antes fundamentaram a sua decisão: “Assumimos como algo de extrema importância fazer a juventude actual perceber que o consumo da cultura moçambicana (como, por exemplo, o uso da capulana) é uma prática importante para a nossa identidade. Nesse sentido, um dos mecanismos que encontrámos para actuar é a realização de feiras de arte. Assim, criámos condições para que participassem estilistas, artesãos, artistas plásticos e músicos moçambicanos jovens a fim de poderem expor os seus produtivos e promovê-los no mercado”, diz Wilson.

Tendo em conta que os organizadores pretendem, em certo sentido, reorientar os jovens actuais para uma forma de actuação mais ajustada à preservação da cultura moçambicana, inspirando-se no modelo dos nossos pais, perguntámos a Wilson António Jorge sobre os aspectos que nos tornam, enquanto rapazes, diferentes da juventude de ontem? De acordo com o nosso entrevistado, o jovem de ontem era mais aberto no sentido de que ele estava mais propenso, por exemplo, à leitura, o que actualmente dificilmente acontece. É em resultado desse desamor à literatura que se desequilibra o sistema nacional do ensino. Há um grande défice de jovens que apreciam livros.

E não lhe faltam exemplos: “No campo artístico, só para exemplificar, constatámos que o nosso jovem era mais engajado na produção e no consumo da música moçambicana. Ele agia a favor da preservação da cultura moçambicana. Em contra-senso, nos dias que correm a juventude está mais envolvida no consumo da cultura estrangeira – a música e a roupa, sobretudo”.

Portanto, “é bom que se perceba que os nossos jovens não estão no estrangeiro e não são estrangeiros. Por isso, devem-se comportar como moçambicanos. Há uma necessidade de se valorizar a nossa cultura”.

Perigo à espreita

Num contexto de um mundo globalizado em que nos encontramos, as trocas culturais, através do consumo, são uma prática inevitável, até porque o desenvolvimento tecnológico sublima essa realidade como uma grande conquista da humanidade. Mas até que ponto isso é vantajoso? Existe algum perigo envolvido na absorção da cultura estrangeira?

Wilson António Jorge inventa uma parábola e explica o seguinte: “Quando os nossos filhos dificilmente permanecem em casa, por exemplo, na hora do almoço, passando refeições na residência do vizinho é que existe algum problema. É assim que o nosso jovem se comporta – o que é preocupante. Como é que as pessoas valorizam mais a cultura estrangeira do que a sua? Quem é que irá viver e perpetuar a nossa?”.

De todos os modos, a Expo Cultural Africana não só possibilita que os criadores exponham as suas obras, como também que beneficiem da promoção das mesmas a partir das plataformas criadas para o efeito. Nesse sentido, “qualquer pessoa que apreciar tais obras tem, em nós, a possibilidade de encontrar o expositor. Nós estabelecemos o encontro entre o produtor e o consumidor”.

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