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Estilo em tempos de guerra: como ser chique na Paris ocupada

A Paris ocupada pelos nazistas foi marcada por imagens de racionamento de comida e escassez total, em um clima de medo e repressão. Mas era também um tempo de chapéus extravagantes e desajeitadas sandálias plataforma com saltos de madeira.

Pela primeira vez, um museu de Paris oferece a visão da capital da moda mundial durante a 2ª Guerra, através de cerca de 400 acessórios: bolsas de mão, lenços, sapatos e até reveladores botões representativos destes anos difíceis.

A exposição, que abre na próxima quarta-feira, conta a história de uma mulher que lutava para manter seu senso estético em meio ao caos da guerra, diz Fabienne Falluel, curadora do Museu de Moda Galliera, em Paris. “Cada um destes objetos foi testemunha da história”, disse Falluel sobre a coleção que o museu adquiriu em 1981.

Customização e reutilização são as palavras de ordem desta época, com mulheres usando tecidos antigos ou retalhos guardados, que são transformados em novas peças, como uma bolsa Duvelleroy fabricada em 1942 a partir de um antigo xale de cashmere fornecido por clientes. Após couro e lã serem confiscados pelo Reich, os fabricantes de sapatos voltaram sua atenção para madeira e cortiça para fabricar solas, e para um produto em abundância na cidade, a pele de coelho, para produzir botas de inverno. Assim nasceram as sandálias e botas que servem de modelo até hoje para as grandes passarelas mundiais.

Grifes que lutavam para sobreviver tinham que exercitar a criatividade para utilizar uma grande variedade de materiais, como um casaco marrom com colete combinável feito de tapetes usados, um chapéu feito com raspas de madeira e pêlo de cachorro misturado a fibras sintéticas que se transformaram em luvas.

Com relação à tendência da época, o estilo minimalista do final da década de 30 deu lugar à extravagância, com grandes chapéus e bolsas, em parte para compensar a miséria desses tempos de guerra. “Existia esta certa extravagância, que se transformou em algo exagerado,” disse Marie-Laure Gutton, uma das curadoras do Museu Galliera. “Mas, ao mesmo tempo, existia uma busca e um desejo pela beleza, por superar a repressão dessa época.” Turbantes, fáceis de usar, quentes e práticos, se transformaram no objeto de desejo desses tempos. Com as estantes dos salões de beleza vazias de produtos, o turbante era o acessório perfeito para esconder os maltratados cabelos, disse Gutton.

Bolsa feita sob medida para carregar máscara de gás

Costurar e tricotar voltavam à moda, com duas páginas das revistas Marie Claire e Elle ensinando como fazer sua própria bolsa de mão com retalhos ou como criar coelhos para aproveitar suas peles. Para os que ainda podiam pagar pela elegância, um enxoval para abrigo antiaéreo da maison Elsa Schiaparelli ou uma macia bolsa de mão para carregar sua máscara de gás. O

Movimento de Resistência estava vivo na moda, com mulheres bravamente desafiando a proibição nazista do uso das três cores e desfilando botões e cintos com o famoso azul-branco-vermelho da bandeira francesa. Uma bolsa de couro marrom com um compartimento secreto, utilizado por várias mulheres do exército de resistência, também é exibida nesta exposição em Paris.

Por outro lado, a fábrica de seda Colcombet produzia uma verdadeira parafernália com propagandas dos lenços Marshall Petain, com as “Viagens de Marshall”, lenços estampados com desenhos de suas impressões de viagens pelo país. O lado negro da ocupação de Paris, para a indústria da moda, veio à tona através da história de Fanny Berger, designer de chapéus judia que perdeu sua loja no Champs Elysées e foi deportada para Auschwitz, onde morreu na câmara de gás, em 1943. Três de seus chapéus, bons exemplos de seu espírito criativo, estão expostos na mostra.

Para comemorar a libertação de Paris, as maisons Manoukian e Di Mauro produziram sapatos de couro adornados com bandeiras aliadas. Broches com pequenos jipes do exército americano também eram muito populares.

A exibição tem como um dos objetivos acabar com a controvérsia criada por outro museu parisiense, no ano passado, cuja mostra fotográfica foi duramente criticada por encobrir o lado negro da ocupação. Os críticos reclamaram que as fotos de parisienses sorridentes feitas por um jornalista para uma revista de propaganda nazista não mostravam a verdade do contexto da ocupação de Paris de 1940 a 1944.

“Nós tentamos ser os mais explícitos possíveis, mas não queremos criar polêmica”, disse Falluel sobre o foco na moda durante a ocupação. “Nós queremos apenas mostrar como era”, acrescentou. A exibição no Memorial Marechal Leclerc, no Museu Jean Moulin, estará aberta até 15 de novembro de 2009.

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