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Em abono d´Verdade – A pobreza e a verdade

Se tomarmos por referência a tradução exacta do termo, fica-se a saber, entre outras coisas, que ser “pobre” é o mesmo que ser mendigo, indigente, miserável, pedinte ou mesmo até pessoa, ou coisa, que inspira comiseração. Enfim, numa análise algo mais violenta, ser pobre até é serse desgraçadinho. Mas tudo isto vem a propósito de um título publicado num órgão da Imprensa local, da passada semana, que atribuía ao Dr. Almeida Santos esse adjectivo inserido na frase “Não matem a vossa pobre democracia”. Assim, tal e qual a citação. Ora, como tenho para mim que o ilustre causídico, político, presidente dos socialistas portugueses, quando fala, nos leva a estarmos atentos ao alcance das suas palavras, quis ler o que se anunciava ser uma entrevista exclusiva e procurei no texto essa afi rmação do expresidente da Assembleia da República portuguesa.

Pelo que li, de facto, a estarem ali reproduzidas, com exactidão e com verdade, as palavras, as opiniões e os conselhos transmitidos por Almeida Santos, é certo que as suas palavras mostravam preocupação por este país, também seu, de alma e coração. Mas, verdade seja também dita, que nas citações reproduzidas no interior, em todo o texto, o termo “pobre”, atribuído à democracia moçambicana, não existe nem aparece em lado algum. Ou seja, ficou provado que o ilustre advogado não utilizou o termo “pobre” que aquele jornal lhe atribuiu, em letras gordas e em título de primeira página.

Se analisarmos a situação, a frio, o periódico terá ido longe demais, ao dar um passo maior que a perna, porque terá adulterado as palavras proferidas pelo entrevistado, reproduzindo- as, como citação, não verdadeira, sabe-se lá com que intenção. Em minha opinião, arriscarei mesmo a admitir que o adjectivo “pobre” poderá ter sido ali introduzido por exagerada conveniência política, face ao actual momento político moçambicano.

Posto isto, tomando como verdadeiras todas as citações atribuídas àquela jurista, na dita entrevista exclusiva, Almeida Santos refere-se, e bem, a algumas democracias africanas que se sabem ser “deficientes e incipientes”. Quanto a Moçambique disse: “Hoje, a democracia moçambicana, tal como qualquer outra, sobretudo aqui em África, tem as suas difi culdades acrescidas” mas, em momento algum, rotula a democracia moçambicana de pobre. Nem o faria porque, na verdade, ela não o é. Pode ser frágil, mas pobre não. Porque assim é, e porque sei do amor que o liga a este pedaço de África banhado pelo Índico, desde logo me fi cou a certeza de que Almeida Santos jamais seria capaz de adjectivar de “pobre”, fosse este país no seu todo, ou parte dele, ou mesmo até a democracia moçambicana pela qual ele próprio tanto lutou. Ter o jornal conseguido entrevistar Almeida Santos, em exclusivo, tal facto, só por si, constituiu uma “cacha” como se diz em linguagem jornalística.

Porém, tal ponto de honra obriga-nos, enquanto profi ssionais, aos muitos deveres e cuidados impostos pelo código deontológico que rege a profi ssão. E isso aprende-se na formação. Em abono d’@Verdade, mesmo deixando de lado a gralha monumental em que, também numa citação, se trocou dinheiro por direitos, Almeida Santos merecerá, por isso, duas coisas inevitáveis: uma rectifi cação e um pedido de desculpas.

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