Benjamin Netanyahu pôs-se, esta Quarta-feira (23), a forjar uma nova coligação, depois de ser castigado nas urnas pela sua aliança com os judeus ultraortodoxos e empurrado na direcção de um partido centrista recém-formado.
As eleições da Terça-feira cristalizaram as reivindicações de que o governo dê mais atenção a questões concretas do que aos interesses dos radicais religiosos.
A questões de política externa, como os planos nucleares do Irão e as aspirações palestinas, ficaram em segundo plano. Disputando em coligação com o ultranacionalista Yisrael Beitenu, o partido Likud, de Netanyahu, elegeu 31 dos 120 deputados do Knesset (Parlamento), segundo dados quase definitivos do apuramento, que deve terminar Quinta-feira.
Essa é a maior bancada do Parlamento, embora com 11 deputados a menos do que na legislação anterior. Enfraquecido, Netanyahu sinalizou a intenção de ampliar a sua coligação, incluindo partidos de centro-esquerda e dando-lhe um carácter mais moderado.
Isso pode ajudar a atenuar os atritos dos últimos anos entre Netanyahu e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que também iniciou um novo mandato esta semana e que pretende evitar uma acção militar de Israel contra o Irão e promover a retomada do processo de paz entre israelitas e palestinos.
“A probabilidade de um governo puramente de direita diminuiu, junto com as dores de cabeça que isso causaria a Obama”, disse David Makovsky, do Instituto de Washington para a Política do Oriente Próximo.
“Então há uma chance melhor de que Netanyahu encontre um ‘modus vivendi’ com os Estados Unidos.”
“Dividir o ônus”
A imprensa israelita deu grande destaque ao revés eleitoral de Netanyahu e à surpreendente ascensão do centrista Yesh Atid (Há um Futuro), que formou a segunda maior bancada, com 19 deputados, num Parlamento que deverá incluir uma dúzia de partidos.
O Yesh Atid e o centro-esquerdista Partido Trabalhista, que elegeu 15 deputados, exploraram o ressentimento da classe média laica contra os benefícios concedidos a judeus ultraortodoxos, como a isenção do serviço militar.
Num aparente aceno ao líder do Yesh Atid, o ex-apresentador de TV Yair Lapid, Netanyahu prometeu que o seu governo vai buscar “uma forma mais igualitária de dividir o ônus”, uma referência aos generosos privilégios concedidos aos ultraortodoxos, que compõem 10 por cento da população.
Listando outras prioridades que ele disse ter definido com o seu aliado Avigdor Lieberman, um ex-chanceler radical, Netanyahu prometeu habitação mais barata e mudanças no sistema eleitoral.
Os palestinos reagiram com cautela ao resultado eleitoral israelita por considerar que dificilmente resultará num governo mais disposto a fazer concessões pela paz, apesar da inclusão de centristas.
Em editorial, o jornal palestino Al Quds disse que esses partidos vão oferecer uma “decoração cosmética” ao governo de Netanyahu, permitindo que ele engane a opinião pública mundial sem paralisar a ampliação dos assentamentos judaicos nos territórios ocupados, principal obstáculo à retomada do processo de paz.